Música

Em seu aniversário de morte, Belchior é homenageado por cantoras conterrâneas com show em SP

Laya e Verónica Valenttino apresentam repertório do cantor ao lado de músicos cearenses

Verónica Valenttino canta Belchior
Verónica Valenttino canta Belchior - Divulgação/Barbara Milanos/Estudio Imaterial
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Anahi Martinho
São Paulo

Ano passado ele morreu. Mas esse ano reviverá nas vozes femininas de Laya e Verónica Valenttino. Morto em 30 de abril de 2017, Belchior será homenageado nesta segunda (30) pelas duas cantoras, suas conterrâneas, no teatro Gazeta, em São Paulo.

Verónica, líder da banda Verónica Decide Morrer, e Laya, ex-integrante do Jardim das Horas e hoje em carreira solo, já cantam Belchior há pelo menos quatro anos, quando ele, ainda em vida, foi homenageado em um festival cearense. "Foi naquela época em que ele estava sumido, até chamamos por ele no palco. Depois ouvimos boatos de que ele estava na plateia", lembra Laya.

Recentemente, Verónica tem interpretado repertório do cantor em seu projeto Verónica Canta Belchior --e tem levado o público às lágrimas em casas paulistanas como o Presidenta. "Me identifico com a obra dele por causa dessa palavra cortante, essa música afiada", diz a cantora. "Eu, como corpo objetificado, como corpo clandestino, travesti, sinto que Belchior fala muito por mim. As letras que ele cantou ontem, hoje ecoam ainda mais forte na voz de uma figura trans."

Em "Sujeito de Sorte", um dos maiores hits do show, ela lembra as mortes de travestis como Dandara dos Santos e evoca a força política da cultura como instrumento de luta contra o extermínio da população LGBT. "Ano passado a gente morreu, mas esse ano não morreremos!", diz, emocionando o público.

No último domingo (29), Verónica homenageou o compositor no festival Maloca, em Fortaleza, ao lado de Linn da Quebrada, Silvero Pereira, Valéria Houston e Mulher Barbada. Nomes como Letrux e Gilberto Gil também cantaram no palco do festival, na Praça Verde, na capital cearense.

Sobre a experiência de cantar Belchior nos palcos há mais de um ano, ela relata: "Tem sido incrível. É sempre uma catarse quando eu coloco as palavras dele na minha voz, justamente dentro desse corpo estranho, esse corpo subversivo e objetificado", conta a cantora, que também interpreta nomes como Sérgio Sampaio e Jards Macalé em seu projeto Cabarella, no Cabaret Cecília.

Para Marco Fentanes, idealizador e produtor do espetáculo, a escalação de Verónica e Laya surgiu de forma natural. "Me sugeriram 'porque você não arruma um cara com a voz nasalada e coloca um bigode?' Eu achei nada a ver isso, essa ideia de cover. Escolhi duas cantoras cearenses, intérpretes incríveis, que têm identificação com a obra dele e que já cantavam repertório dele antes mesmo de ele morrer. Verónica é um vulcão e a Laya é super doce", elogia o diretor.

Quem também aprova a interpretação da dupla é a própria família de Belchior. O filho Mikael, a filha Camila e a ex-mulher do cantor, Angela, com quem ele foi casado por 30 anos, assistiram ao tributo no último dia 1º de abril, em Campos do Jordão, no Auditório Claudio  Santoro, e se emocionaram com as vozes de Laya e Verónica. Na ocasião, as cantoras foram acompanhadas pela banda Radar, que tocou com Belchior por mais de 10 anos.

ALMA CIGANA

Ambas moradoras da capital paulista, as cantoras têm em Belchior a referência de uma "ciganisse" do povo cearense, nas palavras de Laya: "O artista cearense tem essa coisa de sair para o mundo, é um povo que está sempre transitando. Me identifico com isso", diz ela, citando o álbum 'Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem', do Pessoal do Ceará, parceiros de cena de Belchior.

"As letras são muito profundas, filosóficas. Ele fala muito de viver a vida, questiona ideais, convenções, fala de paixões, de viver o momento de viver o agora. Questiona a dimensão que nós somos, para além da sociedade que a gente vive hoje", descreve. "Veja o pé de ypê, apenasmente flora", cantam elas em uma das faixas mais emocionantes do show.

"É uma responsabilidade homenageá-lo no palco. Busco ser uma boa intérprete. Quando me dão uma canção como as do Belchior, eu só preciso fazer o trabalho direito", diz Laya, que começou na cena paulistana como líder da banda Jardim das Horas, e hoje investe em música eletrônica na carreira solo.

À dupla se unem o multi instrumentista e cantor Vitoriano Tutano, o guitarrista Willian Isac Jr, também de Fortaleza, e o baterista paulistano Renato Pestana.

Um Show Para Belchior: Teatro Gazeta, Av. Paulista, 900, Bela Vista, tel. 3253-4102. Seg. (30): 21h. 80 min. Livre. Ingresso: R$ 60. ingressorapido.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias