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Estilo

Quem é a chinesa que lidera o ranking de modelos que mais desfilam para marcas de luxo

Indústria da moda está encantada com Yilan Hua, que é o principal rosto de uma nova geração

Yilan Hua durante passagem pelo tapete vermelho do Festival de Cannes - Valery Hache - 24.mai.2024/AFP
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Elizabeth Paton
Paris
The New York Times

Há uma modelo que desfilou em mais desfiles de moda do que qualquer outra em 2023: Yilan Hua, da China. Ela tem 1,80 m de altura, com um cabelo preto comprido até os ombros, lábios cheios e nariz pontiagudo, e apareceu em impressionantes 89 passarelas no ano passado, de acordo com o mecanismo de busca de moda Tagwalk, superando suas concorrentes mais próximas, América González, da Venezuela, e Victoria Fawole, da Nigéria.

Hua foi escolhida para desfilar para alguns dos maiores nomes da indústria, incluindo Chanel, Fendi, Michael Kors, Stella McCartney e Christian Dior. Ela foi fotografada no tapete vermelho do Festival de Cannes e apareceu em editoriais de moda e campanhas publicitárias na Vogue e em outras revistas de moda.

Aos 24 anos, ela é o principal rosto de uma nova geração de modelos chinesas populares que inclui He Cong, Chu Wong e Ying Ouyang —apesar de uma morte na família nesta temporada, que a manteve fora das passarelas por grande parte da Semana de Moda de Paris. Então, por que a indústria está tão encantada com ela, e o que sua ascensão reflete sobre a importância da China para a moda de luxo?

Segundo Margaret Zhang, editora-chefe da Vogue China, Hua faz parte de um grupo de modelos que não possuem os traços clássicos da etnia Han que definiram os padrões de beleza na China por séculos. "Yilan não necessariamente incorpora os padrões tradicionais de beleza reverenciados pelo público chinês", escreveu Zhang em um email.

"O que a diferencia é que ela é uma verdadeira camaleoa", define. "Qualquer fotógrafo ou estilista pode ver nela uma versão de mulher que estão buscando transmitir em seu trabalho, e como resultado ela não foi encaixotada em um único estético ou categoria de desfiles."

Julia Lange, diretora de elenco que contratou Hua desde 2019 para clientes como Simone Rocha e Mugler, destacou seus instintos e ética de trabalho formidável. "Você pode colocar Yilan nos mundos de Simone Rocha e Mugler, que não poderiam ser mais opostos, e ela se encaixa perfeitamente em ambos porque ela sabe exatamente como moldar seu rosto ou andar mantendo ainda sua personalidade distinta e senso de humor", disse.

Hua nasceu em Hangzhou, uma cidade com mais de 10 milhões de habitantes conhecida por ser o lar do gigante chinês do comércio eletrônico Alibaba. Na adolescência, ela foi uma atleta no ensino médio com uma constituição alta e musculosa. Ela nunca havia considerado a vida como modelo, segundo disse, até assistir a um desfile da Victoria’s Secret em 2015.

Ela também queria viajar. Depois de se mudar para Xangai em 2018 para fazer faculdade, ela começou a se candidatar em agências de modelos locais. Foi rapidamente descoberta por empresas ocidentais que pediram para ela viajar para Paris.

"Era para ser apenas uma viagem rápida para as semanas de moda durante as férias da faculdade", disse Hua em Londres no mês passado. "Meu primeiro desfile foi um desfile de alta-costura da Schiaparelli em 2019." Ela rapidamente se tornou um rosto em ascensão em um momento em que a dependência do mercado de luxo ocidental pela China para vendas era maior do que nunca.

Enrolada em um gigantesco casaco puffer de tom pastel, ela estava sorridente e engraçada. Ela disse que ganhou o apelido nos bastidores de "Televisão" porque ela estava "sempre falando, sempre ativa."

"Eu pensei que voltaria para a China", disse ela. "Mas acabei fechando um contrato global exclusivo com a Bottega Veneta e, antes que eu percebesse, tinha me mudado para Paris em tempo integral." Ela ainda mora lá com colegas de quarto gêmeas que também são modelos.

"Eu estava aprendendo tanto tão rápido", disse ela, "e trabalhando com tantos nomes importantes, por isso, após o surto da pandemia em 2020, fiquei na Europa, mesmo que isso me impedisse de poder voltar para casa para minha família e amigos."

O início da Covid-19 fez com que muitos modelos chineses corressem de volta para a China, onde bloqueios severos e restrições de viagem significavam que muitos não poderiam viajar internacionalmente para o trabalho por vários anos. E hoje os modelos chineses enfrentam restrições de visto de viagem cada vez mais proibitivas. Como uma das poucas que permaneceram no Ocidente —e com melhor domínio do inglês do que muitos colegas—, Hua permaneceu acessível às casas de moda ocidentais à medida que o mundo se abria novamente.

"Agora, estou focada em minha carreira internacional, mas se os modelos chineses podem aumentar seu valor e atratividade em casa depende de seu perfil nas passarelas de Milão e Paris", disse ela. Felizmente, acrescentou, apesar das viagens incessantes, da exaustão e dos deslocamentos de motoneta entre os desfiles, que a deixam arrepiada, ela ama ser modelo e ainda sente uma emoção toda vez que pisar em uma passarela.

Recentemente, ela e sua equipe de gerenciamento se tornaram mais seletivos nas marcas com as quais trabalham, enquanto ela avalia seus próximos passos. As faixas etárias podem ter se ampliado um pouco nos últimos anos, mas ser modelo de passarela ainda é um trabalho de curta duração. Aquelas que resistem, como Liu Wen, a primeira supermodelo legítima da China, são poucas.

"É sobre uma mudança de quantidade para qualidade", disse John Bruce, agente de Hua em Londres. "Talvez tenhamos feito as páginas internas, mas realmente precisamos de uma capa da Vogue. Eu sei que sua equipe em Paris tem ideias para ela trabalhar com atuação."

Nesta temporada, o pai de Hua faleceu repentinamente no auge da programação de desfiles. Depois de desfilar na Fendi em Milão, ela perdeu 10 dias de desfiles para estar em casa com sua família. Após seu retorno a Paris, ela desfilou na Hermès, Stella McCartney, Mugler e Chanel.

Falando em Londres dias antes da morte de seu pai, Hua, filha única, lembrou do apoio de seus pais. "Minha mãe, ela viu como uma oportunidade de experimentar a vida em diferentes países e observar diferentes culturas, quase como estudar no exterior", disse. "Mas meu pai? Meu pai nunca realmente entendeu a indústria da moda ou o que eu faço. É apenas tão distante de seu mundo."

"Mas eu sei que ambos estão orgulhosos", disse ela. "Poder dar isso a eles, especialmente quando estou frequentemente longe, é um presente."

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