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Descrição de chapéu The New York Times

Lingerie para homens: Tangas rendadas e transparentes agitam o mercado

Forte na venda na pandemia se juntou à moda mais expansiva em termos de gênero

Detalhe de um body transparente da Leak NYC, usado pelo artista LaQuann Dawson em sua casa no Brooklyn

Detalhe de um body transparente da Leak NYC, usado pelo artista LaQuann Dawson em sua casa no Brooklyn Justin J Wee - 28.fev.22/The New York Times

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Shane O’Neill
The New York Times

Como artista multidisciplinar que trabalha com a identidade negra e queer, LaQuann Dawson, 27, muitas vezes faz autorretratos, em sua casa e estúdio em Brooklyn, nos quais veste lingerie feminina. Mas ele descobriu que as peças feitas para mulheres não caíam bem em seu corpo. "Ou eram pequenas demais ou eu só encontrava coisas que pareciam bonitas vistas de costas", disse Dawson.

Como forma de contornar o problema, ele começou a usar as peças com a parte traseira na frente, ou a comprar tamanhos maiores. Mas um dia, passeando pelo Instagram, ele encontrou uma empresa chamada Leak NYC, uma marca de lingerie masculina que faz collants sexy com materiais rendados e transparentes, e com espaço amplo na frente. Foi uma revelação.

"A Leak parecia ter caído do céu", disse Dawson. "Eles pensam muito sobre como acomodar o corpo masculino, mas com um complemento de feminilidade".

A lingerie masculina está decolando junto a um segmento de consumidores masculinos antenados, que buscam roupas de baixo sexy que sejam mais expansivas do que uma sunga.

Muitas dessas peças são produtos de marcas iniciantes como Menagerié, Candyman Fashion e Ciciful, e sua divulgação muitas vezes envolve mensagens positivas quanto ao corpo e ao sexo. "Sua expressão de gênero é tudo que importa", diz o site da Wicked Mmm, marca de lingerie de Montreal. E algumas marcas estabelecidas resolveram entrar na jogada.

A Cosabella, marca de lingerie italiana criada por um casal em 1983, começou a vender cuecas de renda, tangas semitransparentes e tangas fio-dental coloridas em seu site, em novembro. "Estamos falando de metade da população do planeta, em termos de tamanho do mercado", disse Guido Campello, 41, copresidente executivo da empresa.

Campello sabe que nem todo mundo está preparado para seus produtos. "Existe um segmento da população que reage dizendo ‘com certeza’", ele disse, se referindo aos clientes que define como amigos da moda, entre os quais homens gays e pessoas não binárias. "Mas será possível converter os héteros?"

Ainda não se sabe, Mas Campello teve sucesso na conversão de um de seus clientes mais difíceis. "Converti meu pai", ele disse, se referindo a Ugo Campello, cofundador da empresa.

A Savage x Fenty, linha de lingerie criada por Rihanna, lançou sua primeira coleção masculina em 2020. "O estoque se esgotou em 12 horas, a coleção toda", disse Christiane Pendarvis, a vice-presidente de vendas da empresa. "Ficamos atônitos". Uma coleção ousada, com tangas vermelho cereja e tops de malha transparente, foi lançada este ano para o Dia dos Namorados [14 de fevereiro, nos Estados Unidos].

Muitos dos compradores, acrescentou Pendarvis, não eram namoradas, parceiros amorosos ou cônjuges, mas os homens mesmos. "É uma questão de expressão pessoal", ela disse. "Você quer usar uma tanga de renda? Vá em frente".

E a Fleur du Mal, uma grife de lingerie de luxo com lojas em Nova York e Los Angeles, recentemente lançou a coleção Fleur Pour Homme, que incluía cuecas boxer feitas de renda transparente. O estoque se esgotou em dois dias, e a lista de espera é de mais de 500 compradores, disse Jennifer Zuccarini, a fundadora da marca.

As vendas de lingerie foram fortes durante a pandemia, e muitos fabricantes perceberam um mercado masculino inexplorado, que acompanha outra tendência no mercado têxtil: a de roupas expansivas em termos de gênero.

"A lingerie masculina é só uma pequena parte de um movimento muito maior", disse Francesca Muston, vice-presidente de conteúdo de moda na WGSN, uma empresa que prevê tendências; "temos toda uma geração que abraça a inclusão e a diversidade de gênero. E, para a indústria da moda, para nossos clientes na WGSN, isso é uma grande notícia".

"Grande" é um termo relativo, já que as roupas inclusivas em termos de gênero respondem por menos de 1% das vestimentas vendidas nos Estados Unidos, de acordo cm a WGSN.

A lingerie masculina não é uma completa novidade. Valerie Steele, diretora do Museu do Instituto de Tecnologia de Moda de Nova York e autora de "Fetish: Fashion, Sex & Power", vê a origem da lingerie masculina na década de 1920.

Em suas pesquisas, Steele descobriu uma coleção de roupas de baixo masculinas da Rússia soviética. Ela se surpreendeu com detalhes como os bordados de foices e martelos, mas também com a delicadeza dos tecidos. "A roupa de baixo de elite para homens, ao longo do século 20, sempre foi feita de tecidos que vemos como femininos, por exemplo a seda", disse Steele.

Na década de 1970, houve uma grande mudança na maneira pela qual as roupas de baixo masculina eram comercializadas. "Foi quando a revolução sexual realmente se tornou uma tendência comercial", disse Steele. "Foi naquela época que começamos a encontrar anúncios da Jockey e da Calvin Klein mostrando homens como objetos sexuais".

Ela menciona o catálogo International Male, publicado pela primeira vez em 1974 e muitas vezes descrito como "a Victoria’s Secret para homens", que trazia páginas e mais páginas de modelos homens usando tangas sumárias. Steele considera o catálogo como um prenúncio das roupas de baixo que sexualizaram abertamente o corpo masculino "Veio principalmente da cultura gay, mas também da liberalização sexual mais ampla", ela disse.

Louis Dorantes, 30, que fundou a Leak NYC em 2016, acredita que estejamos em meio a um novo momento como aquele. "Estamos entrando em uma nova era na qual corpos de apresentação masculina se sentem confortáveis usando formas efeminadas, tecidos efeminados, que não existiam quando eu era mais jovem", ele disse. "Parece um admirável mundo novo. Estamos realmente tentando explorar e exceder os limites da questão do binário, que nos restringiu por tanto tempo".

A vida noturna queer há muito é um espaço no qual os estereótipos binários de gênero vêm sendo desafiados, subvertidos, ignorados ou zoados de alguma maneira, e no qual a lingerie ousada feita de renda elástica, malha transparente e de tecidos com recortes encontrou um lar.

"Isso tudo nasceu nas pistas de dança", disse Dorantes, que ia muito a casas noturnas quando era designer na Rag & Bone, na década de 2010. A Leak foi inspirada por festas como a Papi Juice e Inferno, em Nova York, nas quais a cultura gay altamente sexualizada se combina a uma estética de moda fluida em termos de gênero. A lingerie que ele produz é para ser usada tanto na cama quanto na noite.

"Tudo é muito bonito, maravilhoso, e passa por uma curadoria esmerada", disse Dorantes. "Eu tinha de caprichar no que eu usava, por exemplo substituindo o couro e os metais por tecidos macios, para um ‘harness’, ou criando um collant que acentuasse meu corpo como pessoa de apresentação masculina".

Os fãs da Leak incluem Bowen Yang, 31, que é parte do elenco de "Saturday Night Live". Yang definiu a marca como "parece a irmandade dos jeans viajantes, mas para pessoas queer". Ele pensou em usar um modelo da Leak na cerimônia de premiação do Critics Choice Awards no mês passado. "A lingerie masculina é na verdade uma forma bonita de tomar o poder para você, se é isso que você quer".

A Kennie Mas, uma marca que leva o nome de seu fundador e produz lingerie e roupas de fetiche masculinas em Toronto desde 2018, também surgiu do mundo LGBT. Os produtos recentes da empresa incluem um collant púrpura reluzente que deixa o peito nu, e uma tanga floral feita de poliéster elástico.

"Quanto mais femininas as peças, mais eu vendo", disse Mas, 28. "A lingerie masculina, ou seja lá qual for o nome que você der a isso, está com certeza fervendo neste momento".

Alguns homens com gostos mais tradicionais também estão começando a se interessar pela nova lingerie.

Steven Green, 28, fotógrafo e modelo plus size que vive em Kansas City, Missouri, trabalhou como modelo no desfile da Savage x Fenty em 2020. "Jamais pensei em lingerie masculina até que comecei a trabalhar com eles", disse Green. Antes, ele usava cuecas Calvin Klein ou Polo Ralph Lauren, mas desde então expandiu seu guarda-roupa íntimo.

Agora, para o que ele define como "ocasiões especiais" com sua mulher, Green usa boxers de cetim vermelho da Savage x Fenty. "Se quero algo um pouco mais sexy, é isso que escolho, porque o material é tão refinado", ele disse. "Agora nós homens temos a nossa Victoria’s Secret".

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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