Por que as mulheres estão secando a genitália com secador e como isso afeta a saúde íntima
Carla Perez questionou Laura Müller sobre o uso do aparelho após o sexo
Pode parecer estranho, mas secar a genitália com o secador de cabelo é uma prática cada vez mais popular entre as mulheres. Blogs e sites aconselham o método para prevenir doenças e o categorizam como o mais higiênico. Aparentemente, é uma boa ideia —até que os efeitos indesejados aconteçam.
A ex-dançarina Carla Perez, por exemplo, questionou a sexóloga Laura Müller se era vantajoso usar o secador após o sexo. A pergunta foi feita no programa Altas Horas (Globo) no último sábado (7), e a especialista caiu na gargalhada e não soube responder ao certo.
Os médicos explicam que a técnica não interfere positivamente na higiene íntima. A ginecologista e sexóloga Erica Mantelli faz um alerta para esse tipo de prática. "Existem muitos mitos e comportamentos difundidos na internet que não têm nenhum fundamento científico."
A estudante Bianca (nome fictício), 20, decidiu testar o método no verão passado, quando estava na praia. "Não é tão agradável assim, mas seca muito mais rápido que naturalmente." Ela também afirmou que as rajadas de ar normalmente incomodam. "Achei mais prático, mas não mudou muita coisa na minha higiene."
Para Mantelli, esse método surgiu a partir da ideia de que manter a genitália úmida favorece o desenvolvimento de fungos e doenças sexuais, como a candidíase. Mas a ginecologista explica que a umidade está longe de ser o fator determinante.
"Assim como outras doenças genitais, a candidíase está muito mais relacionada com a imunidade, com o pH vaginal e com os comportamentos de vida", disse. Assim, as mulheres devem se preocupar mais com práticas que influenciem sua saúde interior, como ter uma dieta saudável e tratar preventivamente—opções que devem ser discutidas com médicos especialistas.
RISCOS
Além de não ser a melhor escolha, secar-se com um secador pode trazer riscos e danos à saúde. A nutricionista Camila (nome fictício), 24, disse ter sentindo um ardor muito forte quando testou. "Cheguei a conclusão de que meu secador era muito quente. A região ficou sensível foi alguns dias e nunca mais fiz."
Além das queimaduras superficiais, os piores prejuízos são internos. A umidade vaginal, ao contrário do que muitas mulheres pensam, é uma estratégia natural do corpo para regular o pH na região íntima. Secar intensamente poderia provocar uma irritação nos lábios internos da vagina.
"A mulher pode sofrer com a prática na hora do sexo também. Os fluidos vaginais auxiliam na hora da penetração e, sem isso, pode ocorrer um desconforto com o atrito", explica Mantelli.
A ginecologista explica que existem alguns hábitos que podem melhorar a higiene íntima e que são menos agressivos que usar um secador. "É preciso lembrar que a saúde da região íntima está ligada com o corpo todo."
É importante ter uma dieta balanceada, com quantidade moderada de açúcares e carboidratos, que em excesso podem acelerar processos inflamatórios. A limpeza deve ser feita com produtos que não modifiquem o pH, por isso é importante se atentar aos sabonetes usados e conversar com um médico para saber os mais indicados. Mantelli afirma que cremes corporais e perfumes não devem ser usados na genitália.
Outro ponto que muitas vezes é natural —e não deveria ser— é o uso de absorvente diário. "Eles causam um abafamento da região íntima e, embora pareçam mais higiênicos, podem causar uma proliferação maior de fungos e bactérias. O uso destes produtos deve ser indicado por um médico, somente em casos extremos."
Uma alternativa saudável é usar calcinhas de algodão e roupas com tecidos que permitam a transpiração natural da região. Para as mulheres que passam muito tempo longe de casa ou praticam exercícios físicos, a dica é não ficar tempo demais com a roupa íntima úmida levando, sempre que possível, uma peça extra na bagagem.
Os secadores, então, continuam com a função de sempre: acelerar o processo de secagem dos cabelos, apenas.
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