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Dia da Mulher

Profissionais do pornô feminista brasileiro falam sobre desafios e conquistas

Com estética e apelo que fogem dos formatos tradicionais, vertente de filmes eróticos popularizada pela sueca Erika Lust conquistou público cativo no Brasil

A executiva Cinthia Fajardo, a atriz Lis Del Castilho e a produtora e diretora Mila Spook - Uol/Divulgação
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São Paulo

Há cerca de 20 anos, a sueca Erika Lust percebeu que havia mais mulheres com a mesma impressão (e irritação) que ela. Consumidora de filmes pornô, a cineasta não se excitava com cenas de sexo previsível e performático nas quais homens-britadeira em posição de superioridade transavam grosseiramente com atrizes de corpos perfeitos —exceto nos casos de fetiches específicos e muitas vezes bizarros, objetificando-as ainda mais.

Esteticamente toscas, as produções ignoravam a possibilidade de gerar uma faísca que fosse de tesão nas atrizes e em quem as assistia —e nem tinham este intuito. O foco era o prazer do homem. Como resposta a este pornô mainstream, Lust lançou no início dos anos 2000 versões feministas dos filmes eróticos.

O termo "pornô feminista" ou "pornô pink" ainda causa polêmica, mas o fato é que as produções com apuro estético e que disseminam a mensagem de uma sexualidade favoravelmente feminina chegaram logo em seguida ao Brasil, país em que média nacional de mulheres que acessam canais de pornografia (33%) é maior que a média mundial (25%), de acordo dados recentes do programa de estudos em sexualidade da USP.

Destrinchando um pouco mais este universo, os números ajudam a entender o público feminino que consome pornô no país. Paulistas e cariocas são maioria (21%) entre as assinantes do site Sexy Hot, um dos principais canais de sexo explícito do país, e onde mulheres representam 40% da clientela. A faixa entre 18 a 24 anos é que mais acessa seu conteúdo (29%).

Para atrair a atenção delas, o canal precisou se readequar. "Tivemos que olhar e trazer novas possibilidades e mostrar o prazer feminino para gerar identificação para homens e mulheres", conta Cinthia Fajardo, que trabalhou por 11 anos no Grupo Playboy do Brasil, os três últimos na direção da marca, responsável pelos canais Sexy Hot, Playboy TV, Sextreme e Vênus.

Trazer pluralidade de corpos também foi uma condição que se impôs a este mercado. Pesquisas mostraram o que muita gente já tinha percebido: as mulheres queriam se ver nos filmes, estavam fartas de gêmeas ninfomaníacas, gostosonas insaciáveis e personagens irreais.

"Era importante fugir dos estereótipos. As mulheres eram sempre gostosas, os homens sarados; então gordas, magras, altas, baixas e com peitos naturais também passaram a fazer parte do elenco. Não na posição de um fetiche, mas sim mostrando de uma forma mais natural, na tentativa de buscar um sexo mais real", diz Cinthia.

Além do elenco mais real, o próprio conteúdo passou por uma necessária revisão geral, baseada nos preceitos da pioneira Erika Lust. "Se você olhar os filmes um pouco mais antigos, era sempre o homem ejaculando no rosto ou no peito da mulher, quase nunca retratava o prazer feminino. Fora que hoje tem também essa questão de a mulher se dar prazer sozinha", comenta.

Ela acrescenta que a velha máxima de que mulher gosta de pornô "com história" faz sentido, principalmente entre as casadas ou em relacionamento longo. "Muitas vezes elas usam o filme como um estímulo audiovisual, para gerar um clima. É um momento de inspiração".

Produtora e diretora de filmes pornô, Mila Spook concorda, em termos, com a ex-executiva do Sexy Hot, e evita elaborar teorias sobre as preferências de cada gênero. "Um homem pode gostar de uma produção mais elaborada com uma história mais sensível, e uma mulher pode gostar de um sexo brutal com ciúme", analisa. Ela diz que, como consumidora, gosta de "uma historinha para contextualizar o sexo" mas, de resto, suas predileções variam. "Às vezes gosto de uma coisa mais amorosa, às vezes uma coisa mais pesada".

Soft porn, um pornô menos explícito, é a fórmula ideal para Lis Del Castilho, 25, atriz de filmes eróticos desde os 19. Ela diz que já entrou neste mercado em um período de transição, então não viveu o auge do pornô machista. "Mesmo o pornô sendo mais focado nos homens, as mulheres também estão se tornando mais consumidoras. Então senti uma preocupação maior com o tipo de conteúdo". Ela conta ainda que tem autonomia para escolher seus parceiros ou se recusar a fazer determinadas cenas. "Nunca fiz nada que eu não quisesse e nunca gravei com pessoas que eu não tivesse vontade".

Essa interação é mesmo importante, atesta a diretora Mila. Para levar um pouco mais de verdade às cenas e evitar caras e bocas forçadas e gemidos artificiais, ela busca um elenco em que atores sintam alguma atração entre si. Este é o cenário ideal. "Tento colocar duas pessoas contracenando que realmente têm interesse uma na outra, têm um tesão uma na outra. Fica um sexo com uma pegada mais real, sabe? Eu quero que eles se queiram bem".

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