Neymar não precisaria se desculpar tanto pelos vacilos se fosse como Ronaldinho Gaúcho
Prestar nenhum homem presta, então vamos pelo menos escolher quem nos entretém mais
Talvez seja mais fácil encontrar vida na superfície de Júpiter do que um jogador de futebol fiel –e olha que Júpiter nem superfície tem. Eles também não se destacam pela discrição. Desde que são observados em tenra idade por algum olheiro e inseridos no cobiçado universo dos grandes clubes, eles também começam a gozar de uma vida de festas cheias de beldades.
Sendo assim, evidentemente não me choca que mais uma vez Neymar tenha sido flagrado com mulheres que não são a oficial, Bruna Biancardi. E também pouco me choca que ela o perdoe. Pouco me choca ainda que o público o perdoe.
Neymar está aí alternando traições e lesões há anos e segue sendo ídolo de uma geração (que graças a exu não é a minha), ganhando seus milhões mesmo sem entregar resultados. Nem Bruna Maia, nem Bruna Biancardi, nem Bruna Marquezine e nem ninguém podem se dizer surpresa.
Eu já não sinto raiva, nem desprezo, apenas inveja. Meu sonho era poder ser tão calhorda e tão cheia de contratos publicitários sem nem sequer me aproximar de ganhar um hexa.
Eu teria uma arejada mansão modernista à beira da praia, com massagistas a minha disposição o dia todo. Uma vez por semana, chamaria minhas amigas para festas regadas a champanhe de primeira qualidade e frequentadas por belos modelos de sunga branca cujo objetivo de vida fosse ter um filho comigo.
Ah, sim, claro que eu iria ter um marido, sempre pronto para me acolher. Talvez ele ficasse desapontado com minhas festinhas, mas nada que um jantar romântico e um presente e a promessa de que nunca mais não resolvessem.
O que me lembra um outro ídolo do futebol, Ronaldinho Gaúcho. Esse sim, histórico em muitos níveis. O gol de falta que ele fez contra a Inglaterra na Copa de 2002 foi uma das coisas mais bonitas que já vi, e olha que não sou assídua espectadora de futebol. Sem ele, não teríamos sido pentacampeões do mundo.
Se a carreira de Ronaldinho como jogador foi brilhante, a carreira como jogador aposentado tem sido também cheia de sucessos e aleatoriedades. Num dia ele aparecia tocando tambor na cerimônia de encerramento da Copa da Rússia, no outro ele era preso no Paraguai porque estava usando um passaporte falso para pagar menos imposto.
Na prisão paraguaia em que pagou pelo seu crime, entrou em um campeonato de futebol organizado pelos presidiários. Ele marcou cinco gols seu time ganhou um leitão.
Na vida pessoal, ele nunca foi discreto sobre seu gosto com festas cheias de mulheres, sendo célebre uma foto dele na piscina com cinco "bundas" a seus pés –talvez em alusão ao penta. O jogador viveu por alguns anos um trisal com duas mulheres.
Em entrevista ao UOL, um das suas ex disse que ele até sossegou por um tempo, ficando apenas com as duas, mas, em algum momento, voltou pra vida de farras. Ela também narra um episódio de agressão em que ele a teria empurrado durante uma discussão.
Obviamente, eu não fecho os olhos para o comportamento objetificador, pilantra e abusivo de Ronaldinho Gaúcho –que além de tudo manifestou apoio a Bolsonaro em 2018, quando se filiou ao PRB, partido ligado à Igreja Universal. Mas ele tem três qualidades que se Neymar (que já foi acusado de estupro) tivesse, faria com que meu ranço pelo santista fosse menor:
1- Já ter ganhado Copa do Mundo pelo Brasil;
2 - Não ter jogado nada na final do Campeonato Mundial de 2006, quando vestia a camisa do Barcelona —assim, foi mais fácil para o meu time Sport Club Internacional ganhar o título;
3 - Não estar bancando o tempo todo o bom esposo, bom pai, temente a Deus, 100% Jesus, "foi mal aí minha amada mulher, sou monogâmico mas não sou de ferro, perdoa mais esse vacilo, vai".
Prestar, nenhum dos dois presta. Machistas os dois são. Mas também faz horas que deixei de ser trouxa a ponto de achar que algum homem presta –mesmo os mais fiéis e dedicados em algum momento vão ficar tristes porque você não lavou a roupa deles.
Nunca fui ingênua de pensar que a categoria específica jogador de futebol prestasse de alguma forma. E, francamente, creio que quem se relaciona com eles sabe muito bem que é pouco provável que eles larguem a libertinagem para serem maridos exemplares.
O que me incomoda mais nesses relacionamentos é o esforço para manter a fachada de família burguesa nuclear, quando seria tão mais fácil e leve para todo mundo parar com essa bobagem e se jogar na putaria sem culpa.
Mas é que homens em geral têm em comum com Neymar o fato de que não apenas sentem prazer em trair; eles sentem prazer em sentir culpa e sentem prazer em serem perdoados. Lixo por lixo, eu escolheria aquele que faz o melhor churrasco (obviamente, o gaúcho).
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