A tendência do sexo para 2025 é conseguir sustentar um papo legal
A arte de saber conversar com senso de humor é afrodisíaca e apaixonante
Por todo lado há manchetes sobre as tendências de 2025 nos relacionamentos e no amor. É levantamento feito por aplicativo de paquera, é estudo feito em alguma Universidade do Cafundó, é enquete promovida por marca, é estatística de site pornô. A palavra "conexão" querendo significar ligações mais profundas do que os dates casuais está pipocando por aí.
A questão é que eu acho que muitos desses levantamentos têm métodos questionáveis ou saltos interpretativos, então eu decidi simplesmente CRIAR a tendência que eu acho que deveria colar nesse novo ano: PAPO BOM.
Não tenho grandes questões com pegar um cara no rolê e levar pra cama só porque achei gostoso. Inclusive, já tive experiências muito prazerosas assim, às vezes sem saber nem o nome do indivíduo. Mas percebi que, para eu conseguir ficar com um rapaz mais de três vezes e talvez até me apaixonar por ele, preciso de conexão intelectual.
Uma das melhores coisas da vida é ficar até altas horas conversando sobre assuntos variados como política, ciências, música, cinema, artes em geral e, por que não, da vida dos outros (mas JAMAIS de bitcoin e criptomoedas). Se der pra intercalar tudo isso com sexo, então, é tudo de bom.
Acontece que no espaço amoroso heterossexual é difícil encontrar alguém com quem seja realmente interessante conversar. Uma pessoa que não dê palestrinha, que saiba ouvir, que não fique o tempo todo choramingando no sofá sobre traumas que deveriam ser tratados no divã de um terapeuta e não na sala de um ficante.
Mulheres reclamam muito de homens que só falam de si. O que me lembra de um episódio em que estava com amigas em um samba e havia um moço muito muito muito alto, tão alto que eu pensei que "deve ser jogador de basquete". É verdade que olhamos intrigadas pra ele por causa da altura e ele interpretou os olhares como interesse, o que não deixava de ser verdade. Então ele se aproximou de uma de minhas amigas, ofereceu haxixe e desatou a falar de si.
Durante 40 minutos, no mínimo, ele contou sobre seu último relacionamento, sobre seus dois filhos, sobre seus investimentos, sobre sua carreira. Ah, sim, ele era jogador de basquete mesmo. Minha amiga não teve sequer um intervalo para falar seu nome.
E o mais curioso é que, de todas nós, o rapaz mirou justo na única lésbica. Quando ele foi embora ela disse: "Homem hétero é sempre assim?". As outras presentes se apressaram em dizer que sim e eu, logo eu, disse que "nem todo homem", pois alguns são bem bons de conversa, ainda que estejam cada vez mais raros.
Esses tempos, por exemplo, eu estava com um ficante e algo me deixava encucada. Eu não queria sair com ele, ir a bares, festas e não queria que ele passasse muito tempo na minha casa. Parei para pensar no porquê e, então, me dei conta de que nunca tínhamos tido dez minutos de papo legal. Ele não entendia minhas piadas e ria das coisas que não tinham intuito cômico, além disso, adorava me dar dicas não solicitadas.
Certa feita, depois de transar, ele quase chorou ao lembrar que trocou os azulejos antigos do apartamento de sua avó por revestimentos modernos e estava terrivelmente arrependido. Talvez com outra pessoa ele conseguisse conversar por mais tempo, mas comigo não, e esse tipo de desencontro intelectual é algo que resseca minha vulva e torna até mesmo o relacionamento sexual mais superficial impossível.
Ah, mas isso é seu dedo podre! Pois não. Saiba que a incapacidade de trocar e ouvir e a obsessão frenética por palestrar sobre assuntos chatos como criptomoedas, rock progressivo, Star Wars, MCU e day trade é bastante interseccional e atinge homens brancos de classes e profissões variáveis, inclusive aqueles casados há décadas.
Tem também a versão esquerdomacho, em que você só quer tomar um gin tônica e falar sobre o filme "Ainda Estou Aqui" e ele começa a citar Lenin, Trotsky, refutar Foucault e explicar como se constrói uma fossa biológica em assentamento do MST como se você fosse uma aluna da terceira série com disfunção cognitiva. Enfim, se você é um homem heterossexual (ou talvez gay) e está lendo isso, é muito provável que você seja chato e não saiba conversar.
Apontei o problema, mas não as soluções! Pois veja, um guia de conversa é algo complicado de se fazer. Mas ficam algumas dicas: não fale de si o tempo todo, pergunte sobre a outra pessoa e de fato ouça quando ela estiver falando, evite cair na compulsão masculina por explicar o mundo para mulheres porque é possível que elas entendam mais do assunto do que você, não fale de criptomoedas porque você fica parecendo um bobo, peça para a pessoa falar mais sobre as coisas que ela curte e, em vez de tentar ensinar, aprenda um pouco.
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