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Tony Goes
Descrição de chapéu Televisão

'Preta ou branca, esta história é absolutamente brasileira', diz diretor de 'Anderson Spider Silva'

Caito Ortiz fala sobre a produção da série da Paramount+ sobre o grande lutador brasileiro

Cena da minissérie 'Anderson Spider Silva', sobre o lutador brasileiro - Divulgação/Pivô Audiovisual
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Em 2003, Caito Ortiz lançou seu primeiro longa-metragem, o documentário "Motoboys: Vida Loca", que acompanhava o cotidiano de cinco motoboys na cidade de São Paulo. O filme foi adquirido pela HBO, onde o diretor conheceu a executiva Maria Ângela de Jesus.

Quase 20 anos depois, Maria Ângela telefonou para Caito. Agora na plataforma Paramount+, a executiva queria saber se o diretor estaria interessado em dirigir uma minissérie sobre o lutador Anderson Silva. Ainda não era um convite oficial: antes, ele teria que apresentar algumas ideias e convencer Maria Ângela e sua colega, Tereza Gonzalez.

"Eu me lembro de contar sobre a vontade de não filmar luta por luta", conta Caito, em entrevista por videoconferência. "Queria fazer uma coisa um pouco mais sensorial, um pouco menos descritiva. No dia seguinte elas me ligaram: ‘A gente quer fazer com você’."

Caito Ortiz juntou-se à produção de "Anderson Spider Silva" ainda no começo. A sala de roteiristas, liderada por Marton Olympio e composta apenas por roteiristas negros, ainda estava estruturando os cinco episódios da minissérie.

"Fiquei muito impressionado com a maneira como desenvolvemos este projeto com o Paramount+. Porque eles são muito livres dessas amarras de métricas, de resultados, e estavam realmente a fim de fazer a melhor história possível."

"Acho que o Anderson Silva tinha uma preocupação razoável de como é que ia ser. Natural, né? Mas ele foi rapidamente convencido. Ele é um dos produtores executivos da série, o que também poderia ser um problema, se pedisse para não falarmos de algumas coisas. Mas ele foi totalmente transparente, aberto, não deu palpite no roteiro."

"Também foi muito engraçado quando a gente mostrou a ele os três atores que iriam interpretá-lo. Eu não conseguia para de imaginar: qual é a loucura que se passa na cabeça de um sujeito estar se vendo em três etapas da vida? A criança, o adolescente e o adulto. Foi muito interessante olhar a carinha dele processando. E ele ficou muito emocionado, especialmente com a criança."

"Eu queria muito a Tatiana Tiburcio [a Jussara da novela "Terra e Paixão"] para o papel da tia Edite. Ela estava muito enrolada com datas, mas a gente acabou conseguindo". Comento que Tatiana está muito em demanda, participando de vários filmes e séries. "Ela é a nossa Viola Davis", arremata Caito.

"O diretor de arte da série, o Billy Castilho, é um homem preto, e também o diretor de arte mais foda que eu conheço, independentemente da cor. Ele pensou em fazer a casa da família do Anderson em Curitiba como a casa dos tios dele na Vila Guilherme [bairro de classe média de São Paulo]. O tio era funcionário público e a casa era boa, era grande."

"Em algum momento, as pessoas começaram a falar: ‘Acho que essa casa está grande demais’. Mas por que eles não podem ter uma casa grande? Porque são pretos? Essa é uma discussão interessante, a da construção da imagem. Infelizmente, muitos dos negros deste país são pobres, mas a gente não pode contar só esse pedaço da história."

"Vou usar as palavras do Marton Olympio: preta ou branca, essa história é absolutamente brasileira. E nós, como fazedores de audiovisual, temos responsabilidade com essas histórias."

"Logo no primeiro episódio, tem uma cena de racismo muito violenta. Algo real, que aconteceu com uma das roteiristas. Tínhamos uma psicóloga no set todos os dias, porque os atores se sentiam muito expostos. Algo que eu não enxergava. Até que eu mesmo precisei dessa profissional, porque alguns momentos eram pesados demais até para mim."

Ao longo de toda a filmagem, Caíto teve ao seu lado um jovem diretor negro, Helder Fruteira, como diretor-aprendiz, que é mais do que um assistente de direção. Helder acabou dirigindo sozinho várias sequências. "Eu senti a necessidade de puxar comigo uma nova geração", afirma o diretor.

"Não sei se você já entrou num octógono, mas a sensação de pânico é absoluta. Você se pergunta, como é que alguém ganha a vida desse jeito? Eu perguntei para o Anderson o que ele sente antes de uma luta, e ele respondeu: ‘Medo’. Mas só até o primeiro soco."

"Anderson Spider Silva" está disponível no Paramount+, e é o programa mais visto da plataforma no Brasil.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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