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Tony Goes

Em mais um lance da guerra cultural, extrema direita se escandaliza com o novo visual de Priscilla

Ataques à cantora são só uma tentativa de mobilizar as bases dos reacionários

O antes e depois da cantora Priscilla Alcantara - AgNews/Instagram
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São Paulo

Priscilla Alcantara surgiu irreconhecível no palco do Prêmio Multishow, na última terça (7). Cabelos curtos e vermelhos, vestido decotadíssimo, muitas tatuagens à mostra. Em nada lembrava a cantora gospel de cabelos longos e visual comportado de pouco tempo atrás.

Na verdade, nem Alcântara ela é mais: seu nome artístico agora se resume a apenas Priscilla. A moça criou toda uma nova persona, mais adequada a uma diva pop. E também um novo perfil no Instagram, que já tem quase seis milhões de seguidores.

A guinada na carreira de Priscilla irritou a extrema direita, que reagiu feito uma senhora da década de 1960 diante dos Beatles. Décadas de contracultura, feminismo e avanços nos direitos das minorias passaram batidos por essa turma: para eles, mulher tem que ser "feminina", ou seja, submissa.

O fato de Priscilla ter abandonado a música religiosa também é visto como um sacrilégio. O deputado estadual Gil Diniz (PL-SP), notório pelas posições homofóbicas, postou fotos das duas fases da cantora em seu perfil no Instagram, onde adota o singelo apelido de Carteiro Reaça.

"Priscilla Alcântara com Deus no coração e Priscilla Alcântara agora", escreveu ele. "Dá pra acreditar que é a mesma pessoa? Que triste isso". O parlamentar deve crer que Deus se resume a um corte de cabelo.

Os ataques a Priscilla são só mais uma tentativa dos reacionários de criar um factoide, agitar suas bases e distraí-las das denúncias que não param de surgir contra a família Bolsonaro.

No começo da semana, soltaram um balão de ensaio. O influenciador Enzuh desencavou uma declaração de Lázaro Ramos de um ano atrás, em que o ator criticava o ex-presidente.

E propôs um boicote ao filme "Ó Paí Ó 2", estrelado por Lázaro, que estreia no próximo dia 23. Não pegou, assim como não pegou o boicote ao chocolate Bis lançado semanas atrás.

Assim funciona a nossa extrema direita: sem propostas concretas para melhorar a vida da população e totalmente incompetentes nas mais diversas áreas, os caras ficam inventando escândalos morais, como se a sociedade estivesse ameaçada pelos cabelos vermelhos de uma cantora pop.

Artistas são um alvo preferencial da máquina de produzir ódio, mas algumas das fake news de maior repercussão nem envolvem o showbiz.

Depois do prefeito de Sorocaba, que teria viabilizado os voos de repatriamento dos judeus brasileiros que estavam em Israel, agora é o próprio Bolsonaro que é apontado como o responsável pela inclusão dos brasileiros na lista dos que podem deixar a Faixa de Gaza.

Bolsonaro entrou de penetra na sessão promovida na quarta (8) pelo embaixador de Israel, David Zonshine, no Congresso. Tumultuou o ambiente e saiu antes do final do filme que mostrava as atrocidades cometidas pelo Hamas.

Mas sua mera presença já bastou para que seus seguidores mais cegos acreditassem que foi ele quem conseguiu, em poucos minutos, algo pelo qual a competente diplomacia brasileira vinha trabalhando há semanas.

Apertem os cintos, porque vêm mais mentiras e cortinas de fumaça por aí. A inteligência artificial já permite que se produzam vídeos realistas onde Lula pode aparecer cozinhando criancinhas. É bom ficarmos espertos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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