Madonna reclama do preconceito contra a idade, mas não respeita os limites de seu próprio corpo
Cantora não procurou ajuda médica, e acabou sendo internada às pressas
Ao longo de quatro décadas de carreira, Madonna se engajou em inúmeras lutas políticas. Duas delas se destacam: o feminismo e a causa LGBTQIA+. Através de canções, atitudes e palavras, a cantora sempre passou a mensagem de que uma mulher é a dona absoluta de sua vida e de seu corpo, e que as minorias sexuais têm os mesmos direitos que todo mundo.
Uma terceira grande bandeira se juntou a essas duas, de uns 10 anos para cá. Madonna se tornou uma das militantes mais vocais contra o etarismo, o preconceito contra pessoas mais velhas. Prestes a completar 65 anos, ela defende que continua tão poderosa quanto sempre foi, e rebate seus críticos com veemência.
A cantora tem toda razão, mas cabe uma reflexão. Será que ela mesma não se rendeu às exigências de juventude eterna, ao passar por procedimentos estéticos que esticaram demais seu rosto? Madonna pode também não estar respeitando as limitações de seu corpo atual. Por mais dietas e exercícios que ela faça, não é mais o mesmo de 30 anos atrás.
Sua última turnê, "Madame X", realizada entre 2019 e 2020 e interrompida pela pandemia, teve vários shows cancelados. Madonna simplesmente não aguentou o tranco da coreografia do show: a toda hora tinha um tornozelo torcido, um joelho machucado, dores no corpo inteiro.
Sempre foi muito exigente, tanto consigo mesma quanto com todos que trabalham com ela. Demitiu tanta gente durante os ensaios de "Blonde Ambition", sua turnê de 1990, que a piada nos bastidores era a de que iria demitir a si própria. Nunca se poupou, ignorando a passagem do tempo: quando se apresentou no Brasil pela última vez, em 2012, surpreendeu a plateia ao entrar pulando corda no palco, quando seu show já ia pela metade.
Seu vigor e força de vontade parecem infinitos, e ela sempre foi muito disciplinada. É vegetariana desde a década de 1980, nunca se viciou em drogas ou álcool e segue uma rotina exaustiva de exercícios. Só que o envelhecimento pode ser ralentado, mas não evitado totalmente.
Agora Madonna paga o preço por sua determinação. Deu um susto na família e nos fãs, ao ser internada às pressas em Nova York com uma infecção bacteriana. Passou alguns dias na UTI, mas já voltou para casa. Só que ainda não está 100%: consta que anda vomitando muito, e que sua recuperação total ainda pode levar meses.
Madonna estava ensaiando 12 horas por dia o show da turnê "Celebration", que estrearia em Vancouver, no Canadá, no próximo dia 15. Rodaria a América do Norte e a Europa até janeiro de 2024, e já se falava que depois a artista ainda viria para a América do Sul.
Sem um álbum novo para promover, "Celebration" reuniria em seu repertório os maiores sucessos da carreira da cantora, e talvez fosse a última oportunidade de vê-la se apresentando em grandes estádios.
Para cumprir a agenda que se autoimpôs, Madonna abusou de si mesma. Começou a ter febre há cerca de um mês, mas não procurou ajuda médica –não queria atrapalhar os ensaios, muito menos adiar o início da turnê. Acabou sendo encontrada inconsciente em casa, e precisou ser hospitalizada.
Muito provavelmente, ela sairá bem deste episódio, com a saúde plenamente recuperada. Conhecendo sua personalidade decidida, ouso dizer que a turnê "Celebration" sofrerá um ligeiro atraso, mas não será cancelada. Madonna ainda irá rodar meio mundo com seu novo show, e mais uma vez calará a boca de seus críticos.
Mas também espero que este susto a faça repensar algumas prioridades. Manter-se forte e ativa não é só uma questão de vontade. Não estou dizendo que, de agora em diante, Madonna tenha que se comportar feito uma velhinha. Mas ter a consciência de que o tempo passou e o corpo mudou é um sinal de amadurecimento. A sabedoria é a maior das vantagens que a idade traz.
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