Rihanna celebra a fertilidade em show inusitado no intervalo do Super Bowl
Cantora revelou gravidez em cena e exalou sensualidade sem mostrar o corpo
O crítico Daniel Fienberg, do Hollywood Reporter, achou que os bailarinos do show de Rihanna no Super Bowl, embrulhados dos pés à cabeça em agasalhos de nylon branco, lembravam os soldados da Guarda Imperial da franquia "Star Wars".
Já eu sou velho o bastante para pensar numa outra referência: os figurantes fantasiados de espermatozoides no filme "Tudo o que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar", de Woody Allen, lançado em 1972. O próprio Woody, aliás, aparece usando o figurino, no papel de uma sementinha ansiosa por germinar.
Foi essa a minha leitura do show que aconteceu na noite deste domingo (12): os 280 bailarinos no campo do estádio State Farm, em Glendale, no Arizona, representavam o esperma. E Rihanna, toda de vermelho no meio deles, era um óvulo. Só que um óvulo já fecundado, como denunciou a barriga pronunciada que a cantora fez questão de mostrar.
Foi uma apresentação bem diferente das que costumam acontecer no intervalo da final do campeonato da NFL. Para começar, tratava-se de um retorno triunfal de Rihanna à ribalta, depois de anos sem se apresentar. "Anti", o último álbum da cantora, é de 2016. Só no final do ano passado ela voltou a lançar um trabalho solo: duas faixas da trilha sonora do filme "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre".
Nenhuma dessas duas músicas entrou no setlist do show, talvez por serem lentas. Rihanna privilegiou faixas mais agitadas de seu extenso repertório de hits, como "Umbrella", "Diamonds", "Work" e, num remix de sabor funk do brasileiro DJ Klean, "Rude Boy".
A cantora e vários de seus dançarinos surgiram suspensos em plataformas que lembravam o formato de um iPhone –é bom lembrar que a apresentação foi patrocinada pela plataforma de áudio Apple Music. Um efeito visual de enorme beleza e impacto e uma demonstração da força do showbiz americano, que tem no show do Super Bowl uma oportunidade de exibir as mais recentes inovações tecnológicas.
Esse deslumbre high-tech foi, talvez, a única tradição do evento que Rihanna seguiu. Nenhum astro especialmente convidado dividiu os holofotes com ela. Também não houve nenhuma troca de roupa: a cantora usou o mesmo modelito do começo ao fim, uma espécie de abrigo com um casaco estrategicamente aberto para expor sua gravidez e um sutiã de látex destacando os seios. Ao contrário das divas pop de seu quilate, só exibiu duas partes do corpo: o rosto e os braços, mas só até a altura dos cotovelos.
Mesmo assim, Rihanna exalou sensualidade. Não tanto no sentido de provocação sexual, mas no de celebração da fertilidade. As coreografias foram reduzidas ao mínimo, para não exigir muito esforço da estrela. E ela, que é conhecida nos EUA como a rainha do DGAF –sigla que, numa tradução pudica, significa "não estou nem aí"– não fez a menor questão de fingir que estava cantando o tempo todo. Em diversos momentos, afastou o microfone da boca, enquanto sua voz continuava soando nos alto-falantes.
Rihanna ocupa um lugar inusitado no panteão da música pop. Talvez surpreendentemente, é a segunda artista feminina que mais vendeu discos em todos os tempos, perdendo só para Madonna. Pois é: Rihanna vendeu mais que Beyoncé, Lady Gaga ou Taylor Swift, e olha que ficou quase sete anos sem gravar nada.
Ela causou certa polêmica ao não se separar imediatamente do rapper Chris Brown quando surgiram denúncias de violência doméstica, em 2012. Recusou um convite para se apresentar no Super Bowl em 2018, depois que o jogador negro Colin Kaepernick foi punido pela NFL por se recusar a se ajoelhar durante a execução do hino americano antes das partidas. E dedicou a maior parte dos últimos anos às suas marcas de lingerie e cosméticos e ao filho que teve com A$SAP Rocky em maio de 2022, cujo nome ainda não foi revelado.
Agora ela está de volta à música, mas por quanto tempo? Nenhum álbum ou turnê foram anunciados, e, dado o estado interessante de Rihanna, provavelmente nem estejam no horizonte.
Mas seu show no Super Bowl foi uma versão moderna de "A Sagração da Primavera", o balé com música de Igor Stravinsky que mostra um ritual de fertilidade da pré-história. Mas Rihanna não precisa pedir nada aos deuses, porque já tem tudo. Bilhões de dólares no banco, um filho lindo e outro a caminho, talento, beleza, relevância.
Sem falar na autoconfiança de puxar um estojinho de pó compacto e retocar a maquiagem em plena apresentação, num gesto que também pode ser interpretado como uma ação de merchandising para seus produtos. Realmente, a moça não está nem aí.
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