Harrison Ford faz psiquiatra com parkinson em 'Falando a Real'
Nova série do criador de Ted Lasso estreia sexta (27) no Apple TV+
As mãos de Harrison Ford tremem, mas de maneira sutil. Nenhum dos atores em cena se refere a elas. A sensação do espectador é que o lendário intérprete de Indiana Jones e Han Solo está tentando esconder alguma coisa. E sendo bem-sucedido, tanto que nem o editor percebeu.
"Vou dizer ao Harrison que você realmente acreditou que ele está com mal de Parkinson", diz o roteirista e produtor Bill Lawrence. "Ele vai ficar muito orgulhoso".
Harrison Ford encarna o psiquiatra Paul Rhoades em "Falando a Real", série cômica criada por Bill Lawrence e Brett Goldstein que estreia na plataforma Apple TV+ na próxima sexta (27). Aos 80 anos, o ator voltou à TV, de onde estava ausente havia décadas. Em breve ele também poderá ser visto na série dramática "1923", no Paramount+, ao lado de Helen Mirren.
Mas Ford não é o protagonista de "Falando a Real". O papel principal coube a Jason Segel, conhecido por comédias como "Sex Tape – Perdido na Nuvem" e "Ligeiramente Grávidos". Segel faz Jimmy Laird, um psiquiatra que tenta reconstruir sua vida depois da morte de sua esposa num acidente. O luto fez com que ele se afastasse de sua filha adolescente, de seus amigos e de seus colegas de trabalho na clínica psiquiátrica comandada pelo personagem de Ford.
A dor pela perda de uma pessoa querida não parece um assunto adequado para uma sitcom, mas tem sido explorada pelos roteiristas do gênero nos últimos anos. Um exemplo bem-sucedido foi "After Life", do comediante britânico Ricky Gervais, que teve três elogiadas temporadas na Netflix.
Lawrence, responsável por sucessos como "Scrubs" e "Ted Lasso", gostou muito de "After Life", mas fez algo bem diferente em "Falando a Real". A estrutura da nova série lembra a de uma novela, com vários núcleos e tramas paralelas. Cada um dos personagens secundários tem sua própria história. Um deles, Liz, vizinha de Jimmy, é vivido pela mulher de Lawrence na vida real, a atriz Christa Miller, que também participou de "Scrubs".
Outra cara conhecida pelo público brasileiro é Michael Urie, que encarnou o jornalista de moda Marc St. James nas quatro temporadas de "Ugly Betty", a sitcom americana baseada na novela colombiana "Yo Soy Betty la Fea". Urie também conversou com a reportagem por vídeoconferência sobre Brian, o melhor amigo de Jimmy em "Falando a Real": um advogado gay cujo otimismo chega a ser irritante.
Pergunto a Urie, que já interpretou inúmeros homossexuais na TV e no teatro, se ele não tem medo de ficar limitado a esses papéis. "De jeito nenhum", responde ele. "São personagens muito diferentes entre si. E é injusto rotular um ator gay por causa disso [Urie é gay na vida real]. Somos a única minoria a receber esse tipo de tratamento. Ninguém fala que um ator negro é limitado se ele só fizer personagens negros."
Para conseguir o papel, Michael Urie precisou gravar a si mesmo interpretando algumas cenas de Brian na série. "Achei que, se agradasse, eu seria chamado para um outro teste. Mas bastou essa fita caseira para eu ser convidado!"
A escalação de Jason Segel foi ainda mais simples. "Eu estava dando uma volta a pé e cruzei com um cara que eu conhecia, o sócio do Bill Lawrence. Ele mandou uma mensagem para o Bill: 'Precisamos fazer uma série com o Jason'. Dois anos depois, aqui estou eu", ri o ator.
O papel de Jimmy Laird é um dos mais difíceis da carreira de Segel, pois o personagem passa por uma gama muito ampla de emoções. E chora muito, algo raro entre os protagonistas de sitcoms.
"Quando a série começa, ele está no fundo do poço, que parece ser o lugar mais horrível do mundo. Mas não é, porque dali você só pode ir para cima. Sabe o que é realmente assustador? Três dias antes do fundo do poço."
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