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Tony Goes

Proposta interessante de 'Todas as Garotas em Mim' naufraga já no 1º episódio

Série da Record que mistura a Bíblia com os dias atuais estreou na terça (7)

A atriz Mharessa em 'Todas as Garotas em Mim' - Edu Moraes/Record
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Depois de alguns anos tentando emular sem sucesso as novelas da Globo, a Record descobriu seu jeito próprio de produzir dramaturgia. A minissérie "A História de Ester", lançada em 2010, apontou um novo caminho para a emissora ligada à Igreja Universal do Reino de Deus: tramas bíblicas, que teoricamente servem tanto para entreter o espectador como para convertê-lo.

De lá para cá, a Record já estreou 18 títulos do gênero. Praticamente todos os livros do Antigo e do Novo Testamento já foram adaptados de alguma forma, da história de Adão e Eva à Paixão de Cristo. O grande destaque continua sendo "Os Dez Mandamentos", que abalou a audiência da Globo em 2015 e, desde então, já foi reprisada várias vezes.

Acontece que a Bíblia, como qualquer filão, tem um problema intrínseco: ela é finita. Chega um dia em que as narrativas se esgotam. Até personagens secundários, como Lia e Jezebel, já ganharam suas próprias séries. A Record precisa encontrar logo uma maneira de renovar o estilo que a consagrou junto a uma parcela considerável do público.

Uma possível saída seria misturar os dias de hoje com os tempos bíblicos. Mas uma primeira tentativa neste sentido fracassou redondamente: a novela "Apocalipse", baseada no último livro do Novo Testamento e exibida entre 2017 e 2018, mostrava personagens contemporâneos lidando com a iminência do fim do mundo, mas de maneira tão tosca que quase ninguém se interessou.

Agora a Record volta à carga com uma proposta intrigante. "Todas as Garotas em Mim" é protagonizada por Mirela, uma jovem influenciadora digital que vive num mundo de aparências e futilidades. Mesmo ostentando felicidade nas redes sociais, ela enfrenta problemas de relacionamento com a família e com os colegas da escola.

Então, graças aos conselhos da avó, a moça encontra paralelos entre os dilemas que vive com os de figuras femininas da Bíblia. Na primeira temporada da série, com 13 episódios, esta figura é Dalila, que se apaixonou por Sansão.

Interessante no papel, esta ideia não gerou um bom resultado no vídeo. O primeiro episódio de "Todas as Garotas em Mim", que foi ao ar nesta terça (8), trouxe personagens estereotipados, diálogos sofríveis, atores ruins e produção canhestra. Quem esperava uma espécie de "Malhação ungida" se decepcionou.

O capítulo de estreia foi longuíssimo, com cerca de 1h15 de duração, sem intervalos comerciais. Mharessa Fernanda, que vive Mirela, fez o que pôde com os longos "bifes" em que fala sozinha para a câmera, mas nem o texto e nem a direção a ajudaram.

A autora Stephanie Ribeiro –não confundir com a arquiteta e ativista homônima, que apresenta o programa "Decora" no GNT– fez um visível esforço para parecer moderninha, colocando tablets e hashtags na boca dos jovens do elenco. Só que não ficou orgânico: ao contrário, o texto soava como se tivesse sido escrito por um tiozão sem familiaridade com o universo adolescente.

Sem falar nos figurinos exagerados, na ridícula empregada mineira, nas brigas forçadas... Mas talvez o pior mesmo seja a absoluta falta de diversidade. Nenhum ator negro ou pardo foi visto no primeiro capítulo, nem mesmo na figuração. O fato da trama se passar entre Florianópolis (SC) e Gramado (RS) não pode servir de desculpa para um elenco 100% branco.

A Bíblia só deu as caras nos últimos minutos, quando Mharessa se imaginou na pele de Dalila. A produção não buscou retratar o período antigo de forma realista e acabou ficando numa espécie de limbo, prejudicado pelo uso descuidado do chroma-key.

Os números preliminares do Ibope tampouco são bons. TAGEM, como a Record apelidou sua produção na internet, alcançou apenas 4,6 pontos de audiência na Grande São Paulo, deixando a emissora em terceiro lugar, atrás dos 7 pontos atingidos por "Poliana Moça", do SBT.

Resumindo: apesar da proposta algo inovadora, "Todas as Garotas em Mim" parece fadada ao insucesso. A Record ainda não encontrou uma maneira de dar sobrevida às suas novelas bíblicas.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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