Bruna Karla diz que gays vão para o inferno, mas não se acha homofóbica
Cantora gospel precisa entender que homofobia não é só violência física
"Eu quero te dizer, Bruno, é que você sabe que eu sempre te amei e vou continuar te amando muito. Você é meu amigo e, nas amizades, a gente sempre respeita a escolha de cada um e a vida de cada um. (...) Nunca na minha vida eu fui homofóbica, nunca, e você sabe disso."
O trecho acima foi retirado de um dos dois áudios que a cantora gospel Bruna Karla enviou para o maquiador Bruno di Simone. É ele o "amigo homossexual" a que ela se refere durante a entrevista que deu a Karina Bacchi para o podcast Positivamente.
A conversa ente as duas foi divulgada na quinta-feira (16) e imediatamente gerou uma onda de repúdio à cantora, com anônimos e famosos se manifestando conta ela nas redes sociais. O motivo é simples: Bruna Karla afirma que não iria ao casamento de Bruno com outro homem, porque, segundo ela, os gays estão "no caminho da morte eterna", além de outras barbaridades. Tudo com isto, com um sorriso nos lábios e sempre garantindo que nunca foi homofóbica.
Mas é claro que ela é. Bruna Karla parece acreditar num conceito equivocado de homofobia, muito popular entre os evangélicos neopentecostais: só é homofóbico quem trata mal os homossexuais. Quem os insulta, quem impede que eles frequentem este ou aquele lugar, quem bate neles até a morte.
Homofobia, na verdade, é achar que alguém da comunidade LGBTQIA+ não é um cidadão pleno como os demais. Que não têm os mesmos direitos que todo mundo, como se casar com a pessoa que ama ou adotar uma criança. Quem não "concorda" com isto, lamento dizer, é homofóbico, sim.
Outro erro em que a cantora incorre é achar que a sexualidade é uma escolha. Ninguém escolhe ser gay ou lésbica, assim como ninguém escolhe ser heterossexual. O que se pode escolher, aí sim, é manter abafado o desejo por pessoas do mesmo sexo –e muitas religiões, não só a evangélica, acham que esta é a maneira correta de lidar com a homossexualidade.
Bruna Karla insiste várias vezes, na entrevista e nos áudios, que "a Palavra" condena os homossexuais. Ela se refere ao Levítico, um livro do Antigo Testamento que traz uma série de regras de conduta que hoje nos soam absurdas. Entre elas, estão a proibição de usar roupas feitas com tecidos diferentes, ou a de consumir crustáceos. Gostaria de saber se Bruna Karla evita comer camarão, já que "a Palavra" não deixa.
Por outro lado, ela ignora o que Jesus Cristo disse a respeito dos gays no Novo Testamento. Sabe o que foi que ele disse? Nada... Reprimir a sexualidade alheia não estava na pauta de Jesus.
Bruno di Simone fez muito bem em divulgar os áudios que recebeu da cantora. Ele sabe que não é com a conversinha mole de "eu te amo, eu te respeito, não sou homofóbica, mas..." que a amizade entre os dois será consertada. E expôs ao mundo a hipocrisia da suposta amiga que o adora, mas acha que ele vai para o inferno.
Muita gente é da opinião de que este caso não merecia ganhar repercussão. Que, ao criticar Bruna Karla, estamos, na verdade, dando palanque a ela e aumentando o alcance de suas ideias retrógradas.
É verdade que, nos últimos anos, políticos e pastores ganharam popularidade e votos ao espalharem preconceitos. Mas fingir que eles não existem é contraproducente. Temos mais é que reagir. Mostrar que também existimos, e que somos muitos.
Para concluir, quero acrescentar que também é deplorável a reação de Karina Bacchi às falas repugnantes de sua entrevistada. "A gente jamais deixaria de amar (...) um filho, apesar de todos os defeitos que ele possa a vir a ter, apesar de todos os caminhos errados que ele possa tomar."
Homossexualidade é "defeito", Karina? Pelo jeito, não são bem os gays que estão tomando caminhos errados.
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