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Tony Goes
Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Canção da Ucrânia dispara nas apostas como a favorita do próximo festival Eurovision

A 66ª edição do evento ocorre em Turim, na Itália, ente 10 e 14 de maio

Kalush Orchestra - Divulgação
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Para quem menospreza o Eurovison, é bom lembrar que o festival europeu da canção atinge anualmente uma audiência global superior à de megaeventos como a entrega do Oscar ou o SuperBowl. Além de ser uma potência financeira, o Eurovision também é uma poderosa ferramenta cultural, aumentando o "soft power" dos países vencedores e até mesmo incrementando o turismo.

O festival surgiu de maneira despretensiosa, em 1956, reunindo apenas alguns países da Europa Ocidental. Emplacou vários hits em suas primeiras décadas, como "Volare", do italiano Domingo Modugno, ou "Waterloo", da banda sueca ABBA, mas não tardou para se tornar irrelevante. Na era do punk, o Eurovision virou sinônimo de cafonice e de tudo que estava errado com a música pop.

Dois fatores colaboraram para a ressurreição do festival. O primeiro foi o fim da Cortina de Ferro e o colapso de União Soviética. De uma hora para outra, dezenas de países do leste da Europa queriam se juntar à EBU (sigla em inglês para União de Radiodifusão Europeia) e participar do concurso.

O outro fator foi o advento da internet. As redes sociais, com suas torcidas apaixonadas, chamaram atenção para o evento. Hoje é possível assistir às duas semifinais e à grande final do Eurovision pelo YouTube, de onde quer que você esteja e totalmente de graça.

Este perfil mais elevado atraiu estrelas do calibre de Madonna e Caetano Veloso, que se apresentaram como convidados especiais, respectivamente, em 2019 e 2018.

Outra novidade curiosa foi a presença da Austrália, que é antípoda da Europa e não faz parte da EBU. Acontece que o festival é campeão de audiência por lá há muito tempo. O que era para ser um convite especial acabou se transformando numa participação fixa.

Mas numa coisa o Eurovision não mudou. As regras do festival proíbem manifestações políticas. O intuito é nobre: assim como as Olimpíadas, o Eurovision quer promover a paz entre seus participantes.

Essa regra levou à exclusão de "We Don’t Wanna Put In", a candidata da Geórgia em 2009. A canção era um óbvio protesto a Vladimir Putin, que, no ano anterior, invadiu aquele pequeno país do Cáucaso e lhe arrancou duas regiões de maioria russa, a Ossétia do Sul e a Abkházia, declaradas pela Rússia como "repúblicas independentes".

A Rússia era a agressora e a Geórgia, a agredida, mas a direção do Eurovision não quis nem saber. Excluiu da competição a canção de protesto dos derrotados.

Na quinta passada (24), o Eurovision foi uma das primeiras instituições a se manifestar quanto à invasão da Ucrânia pela Rússia. Garantiu, de acordo com sua postura apolítica, que ambos os países participariam da edição deste ano, que acontece de 10 a 14 de maio na cidade italiana de Turim.

O anúncio não caiu bem. As redes sociais explodiram em chamas. Suécia e Finlândia avisaram que iriam boicotar o festival, e outros países ameaçaram fazer o mesmo. Acuada de maneira inédita, a EBU voltou atrás. Baniu a Rússia do concurso deste ano. Em retaliação, a Rússia deixou de ser membro da EBU.

Tampouco faltou drama no processo de seleção da canção que irá representar a Ucrânia. Como muitos outros países, lá também é realizado um festival para sacramentar esta escolha, o Vidbir. A vencedora deste ano foi uma cantora chamada Alina Pasha. No entanto, a moça foi desclassificada logo após de ter sua vitória anunciada: descobriram que ela visitou a Crimeia desde 2014, o ano em que a Rússia tomou para si aquela península ao sul da Ucrânia, o que é proibido pelas regras do Vidbir.

Com isto, a honra de representar o país no festival coube ao segundo colocado, o grupo Kalush Orchestra, com a música "Stefania" –uma mistura de rap e música folclórica, cuja letra presta homenagem à mãe do vocalista.

Aí, adivinha o que aconteceu? "Stefania" disparou nas casas de apostas como a provável vencedora do Eurovision 2022. Desbancou o belo dueto "Brividi", de Mahmood e Blanco, que venceu o festival de Sanremo e irá representar a Itália.

Claro que é muito cedo para fazer uma previsão certeira, até porque muitos países ainda não escolheram suas candidatas. Mas é tentador pensar no que aconteceria se "Stefania" se sagrar mesmo vitoriosa. Pelas regras do Eurovision, o país da canção vencedora sedia o festival no ano seguinte. Será que veremos o Eurovision 2023 transmitido diretamente das ruínas de Kiev?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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