Após Nego do Borel, realities precisam mudar a forma como escalam elencos
Quem tem problemas sérios com a Justiça não deveria ser convidado
Os profissionais de televisão sabem disto: o melhor formato de reality show do mundo não vale nada se o elenco não for bem escalado. Não são as regras que fazem o sucesso do programa, embora elas sejam importantes. O que realmente determina o desempenho na audiência são os participantes da competição.
Quem assiste a atrações como A Fazenda (Record) ou BBB (Globo) também sabe. Concorrentes mal escolhidos, que pouco interagem com os demais, não rendem bom entretenimento –são os famosos “plantas”. Por causa disso, os produtores procuram sempre gente que esteja disposta a se expor diante das câmeras, sem muitos pudores.
O candidato ideal é alguém que seja destrambelhado na medida certa. Que se envolva em barracos, sem partir para agressões gratuitas, mas que também mostre um lado terno e vulnerável. Gil do Vigor se encaixa neste modelo à perfeição, e o resultado é que até hoje, quando já está nos Estados Unidos, ele continua nos infernizando com suas campanhas publicitárias.
Só que é muito fácil esta fórmula desandar. Nesses 20 anos de realities de confinamento na TV brasileira, não faltaram sociopatas, delinquentes e neuróticos em geral. O fenômeno não se restringe ao Brasil, é claro. No mundo inteiro, desajustados de todo tipo causam problemas nesse gênero de programa.
Eles fazem parte do pacote? Até certo ponto. É desejável que os confinados entrem em conflito, seja porque alguém não lavou a louça, seja por causas maiores como a luta contra o racismo ou a homofobia. Nos últimos anos, o BBB cresceu em repercussão justamente por abordar esses temas.
Mas há um limite claro: o crime. Pessoas suspeitas de terem cometido crimes não deveriam ser convidadas a participar desses programas. Sim, mesmo que ainda não tenham sido julgadas e condenadas. Primeiro, elas deveriam resolver seus problemas com a Justiça.
Nego do Borel não deveria ter sido chamado para A Fazenda 13. Indiciado por agressões físicas contra um ex-namorada e acusado de violência doméstica por outras, o cantor não tinha nada que participar dessa edição do reality da Record. O programa, que sempre gostou de incluir celebridades “polêmicas” em seu plantel, dessa vez exagerou na dose.
Salvo da roça na última quinta-feira (23) com quase metade dos votos do público, mesmo tendo sido inconveniente (para dizer o mínimo) com várias peoas, Nego do Borel jurou que iria se emendar. Na noite de sexta (24), deitou-se ao lado de Dayane Mello, que estava caindo de bêbada. Pelo que se depreende dos sons e das imagens captadas, ele tentou fazer sexo com ela. Alguns peões se escandalizaram, mas nenhum fez nada para impedir.
A internet entrou em erupção, exigindo a expulsão sumária de Nego do Borel. Na tarde de sábado (25), a polícia bateu à porta dos estúdios em Itapecerica da Serra (Grande SP), e não pode entrar imediatamente –como se explica isto? Só quando os patrocinadores pressionaram, depois de cobrados por internautas, é que a Record finalmente tirou o cantor do jogo. Uma atitude imperdoável para uma emissora controlada por uma igreja cristã.
Este episódio macabro ilustra a necessidade de um cuidado maior na hora da escalação do elenco de um reality. Esses programas não podem servir de clínica de reabilitação para reputações abaladas. Quem está com problemas graves na Justiça não deveria sequer ser cogitado.
Além do mais, o mundo mudou. Os espectadores querem ver barracos, sim, mas não ser cúmplices de criminosos. As redes sociais permitem que eles reclamem não só com a emissora, mas diretamente com os anunciantes –e marca nenhuma quer ser associada a estupro. Mas tem executivo de TV que ainda não acordou para essa realidade tão simples.
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