Fala do pastor postada por Rafa Kalimann é preconceituosa, sim
Homofobia light continua sendo homofobia
Homofobia light continua sendo homofobia
Lideranças evangélicas como o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) vêm tentando ressignificar a homofobia. Segundo essa turma, uma atitude só pode ser considerada homofóbica se envolver violência física. Na ausência, todo o resto estaria liberado: bullying, discriminação no trabalho, legislação que tenta proibir ou esconder os relacionamentos homoafetivos, e por aí vai.
Esta tentativa foi bem-sucedida em certos círculos. Para muita gente, é aceitável alguém dizer que "é contra" a homossexualidade, mas "respeita" os homossexuais. Ser contra a atração pelo mesmo sexo é tão ridículo como se declarar contra os narizes aduncos ou os cabelos encaracolados. São todas características naturais e involuntárias, e não escolhas morais.
Neste domingo (30), a influenciadora e ex-Big Brother Brasil Rafa Kalimann provocou uma pequena celeuma na internet. A apresentadora do programa Casa Kalimann (Globoplay) postou no stories, no Instagram, um vídeo de quatro anos atrás.
Um trecho do Programa Raul Gil, do SBT, em que o pastor evangélico Cláudio Duarte discute a homossexualidade com Val Marchiori e Thammy Miranda —o tipo de debate inútil e sensacionalista que não leva a nada além de reforçar os preconceitos da plateia.
"Se você me perguntar se eu acho certo, eu vou dizer que não. Mas isso não nos torna inimigos. Por que não vou sentar com você e bater um papo? Por que não posso te dar um abraço e te respeitar?" Pastor, só de dizer que não acha certo, o senhor já está desrespeitando. Está negando a dignidade e a plena cidadania de milhões de pessoas —inclusive, pelo que o senhor mesmo diz, de gente da sua própria família. Que feio.
Rafa Kalimann não foi clara em sua postagem. Ela estava endossando as falas de Cláudio Duarte, ou criticando-as? Isso é grave para uma influenciadora digital, cujas postagens deveriam ser sempre cristalinas.
Além disso, Rafa está passando por um momento peculiar da carreira. Ela finalmente conquistou seu tão sonhado talk show, só para vê-lo apedrejado pela crítica e virar motivo de piada. A apresentadora deveria se aconselhar com sua equipe antes de postar o que quer que seja.
Seus seguidores reagiram rapidamente, mas de maneiras conflitantes. Muitos acusaram a ex-BBB de homofobia. Outros entenderam exatamente o contrário: ela estaria criticando injustamente o pastor. Porque, afinal de contas, ele não seria tão preconceituoso assim, pois "respeita os gays" e até os abraça.
Gay não quer abraço, gay quer declarar o cônjuge no imposto de renda. Gay (e aí eu incluo todas as letras da sigla LGBTQI+) quer ter os mesmíssimos direitos que todo mundo tem, sem tirar nem por. Mais nada.
Quem acha que gays e afins não merecem tudo isso é homofóbico, sim, senhor. Ponto. Não precisa dar paulada. Basta dizer que não reconhece o gay como um ser humano idêntico a todos os demais.
Rafa Kalimann correu para apagar a postagem truncada. Em seu pedido de desculpas, ela deixou claro que não é homofóbica. "Sinto muito se eu ofendi, e se pareceu que eu discordo de relacionamentos homoafetivos (jamais!)", escreveu. Mesmo assim, ainda levou um sabão público de Gil do Vigor, e de vários internautas e jornalistas.
O próprio F5 caiu na esparrela. Reportagem publicada aqui no site tem como chamada "Rafa Kalimann se desculpa após atrelar preconceito a fala de pastor". Galera, Rafa Kalimann não atrelou nada. O preconceito está lá, todo pimpão. Homofobia light continua sendo homofobia.
E homofobia não se aceita nem se tolera: se combate. Não com paus e pedras, mas com diálogo, exposição, argumentos científicos e firmeza. Não nos deixemos enganar por quem nos oferece abraços no lugar de direitos.
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