Tony Goes

A pele fina de Mario Frias é típica dos apoiadores do atual governo

Bolsonaristas adoram acusar adversários de mimimi, mas ninguém é mais 'mimizento' que eles

Mario Frias assumiu em junho 2020 a Secretaria Especial da Cultura, no governo de Jair Bolsonaro - Instagram/mariofriasoficial
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Na noite de sexta passada (4), poucas horas depois do lançamento de um episódio da websérie “Sinta-se em Casa” (Globoplay) em que Marcelo Adnet o imita, Mario Frias foi ao Instagram desabafar.

O Secretário Especial de Cultura, que estrela um vídeo da campanha produzido pela Secretatia de Comunicação (Secom) em que enaltece a bravura e o desprendimento de heróis brasileiros, não demonstrou bravura nem desprendimento. Reagiu à sátira de que foi alvo com todo o brio de um moleque mimado. Chamou Adnet –que talvez seja hoje o humorista mais importante do país –de “garoto frouxo e sem futuro”, “criatura imunda”, “crápula” e, num golpe de misericórdia, “bobão”.

Na manhã de sábado (5), a própria Secom correu em auxílio do ex-galã. Num tuíte que mostrava uma foto de Adnet mas não citava seu nome, o comediante era acusado de “parodiar o bem e fazer pouco dos brasileiros”. Um evidente exagero: o parodiado em questão era apenas Mario Frias.

Poucas horas depois, o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL-RJ) apontou, também no Twitter, que Frias teria feito “uma crítica profunda e contundente ao Marcelo Adnet, eu diria arrasadora mesmo. Chamou ele de: BOBÃO”.

A resposta do secretário foi exemplar da mentalidade bolsonarista: “cuidado com PF”. Ou seja: Frias ameaçou acionar a Polícia Federal contra alguém que apenas ironizou suas palavras. No que foi prontamente apoiado pela deputada federal Major Fabiana Souza (PSL-RJ): “conte conosco”, tuitou ela, que é policial militar reformada.

O domingo (6) amanheceu com um tuíte estranho no perfil de Mario Frias, em que ele agradecia aos médicos que trataram Jair Bolsonaro após o então candidato ser esfaqueado, há exatos dois anos, como se fosse o próprio presidente. A postagem foi prontamente apagada, mas o mesmíssimo texto reapareceu logo depois num tuíte do próprio Bolsonaro. A conclusão da internet veio rápida: alguém está tuitando por Frias. Talvez Carlos Bolsonaro, o filho do presidente tido como responsável pelas redes sociais do pai.

Mas não duvido que tenha sido o próprio secretário. Os perfis de Frias são carregados de elogios ao governo, em detrimento das ações de sua própria Secretaria. No dois primeiros escalões, ninguém é mais alinhado aos Bolsonaro do que o ex-ator –que ainda teve o desplante de acusar Adnet de se vender “por qualquer tostão”.

Apesar de ser gabar de ter crescido num lugar em que Adnet não duraria “um minuto”, Mario Frias não ostenta a cafajestice que muitos de seus colegas adoram exalar. É o único atributo que lhe falta, pois tem todos os outros de um bolsonarista de carteirinha: despreparo intelectual, arrogância obtusa, insensibilidade aos diferentes e, principalmente, uma cútis delicada como a mais fina porcelana.

Este é um governo que, digamos, não lida bem com críticas. Acha que qualquer piadinha é um crime de lesa-pátria e reage desproporcionalmente a brincadeiras que, numa democracia madura, passariam batidas. Ao mesmo tempo, é um governo que acusa de vitimismo quem reclama do racismo, do machismo, da homofobia e da desigualdade social. É tudo mimimi, segundo eles.

Pois ninguém faz mais mimimi do que o próprio governo. E o mais “mimizento” de todos é Mario Frias. Pena que a Cultura não tenha mais seu próprio ministério, pois seria delicioso apelidar o secretário de “miministro”. Mas sempre poderemos chamá-lo de bobão.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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