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Tony Goes

Não existe saída honrosa para Regina Duarte

Depois de ser humilhada, ex-secretária da Cultura diz que Cinemateca 'é um presente'

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Regina Duarte continua nos brindando com performances patéticas. Na manhã desta quarta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro publicou um vídeo em seu perfil no Twitter, em que aparece ao lado de sua agora ex-secretária da Cultura. Esfuziante, piscando para a câmera, em modo “namoradinha do Brasil”, Regina parece comemorar seu rebaixamento de cargo.

“Acabo de ganhar um presente que é um sonho de qualquer pessoa de comunicação, de audiovisual, de cinema, de teatro. Um convite para fazer [sic] Cinemateca, que é um braço da Cultura que funciona lá em São Paulo (...) É um presente duplo. É a Cinemateca, e é também estar próxima da minha família”.

Regina Duarte, ex-secretária Especial da Cultura do Ministério da Cidadania
Regina Duarte, ex-secretária Especial da Cultura do Ministério da Cidadania - Isac Nóbrega / PR

Que bom que ela acha que a Cinemateca é um presente. A instituição encarregada de preservar a memória do cinema brasileiro está em crise desde, pelo menos, 2013, quando a então ministra da Cultura Marta Suplicy destituiu sua diretoria e lhe retirou a autonomia operacional.

Este ano, a crise da Cinemateca se agravou ainda mais. Em fevereiro, suas instalações no bairro paulistano da Vila Leopoldina foram inundadas durante uma enchente, e parte de seu acervo se perdeu. Já estamos no final de maio, e a Cinemateca ainda não recebeu nenhuma parcela dos R$ 12 milhões de seu orçamento anual. Nenhum tostão.

Nos últimos dias, um abaixo-assinado vem circulando entre a classe artística brasileira, clamando por providências. A resposta do governo foi deslocar Regina Duarte para o órgão, depois dela perder qualquer credibilidade entre seus pares por causa de sua desastrosa entrevista à CNN Brasil no dia 7 de maio.

Na tentativa desesperada de se segurar ao cargo de secretária da Cultura e de se manter sob os holofotes, Regina minimizou a ditadura, menosprezou os mortos, cantou “Pra Frente Brasil” e saiu num rompante, depois de confrontada com questões espinhosas sobre sua atuação à frente da pasta.

Ganhou uma sobrevida no governo. No dia seguinte, foi elogiada por generais de plantão e até por Olavo de Carvalho. No entanto, neste mesmo dia, o ex-astrólogo voltou a ofendê-la nas redes sociais. Sinal de que o fogo da fritura voltara a subir.

Nesta terça (19), a Folha noticiou que Regina havia aceitado uma intervenção branca da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) na secretaria da Cultura, e que estaria buscando uma saída honrosa. Isto, depois de ter seu número dois na pasta, o secretário-adjunto Pedro Horta, demitido sumariamente, poucos dias depois dele ter assumido o cargo.

Regina preparava uma série de vídeos para mostrar ao Brasil os planos que tinha para a Cultura. Planos que ela não teve tempo de implantar. Cumpriu, assim, o destino de uma de suas personagens mais famosas, a Viúva Porcina, da novela “Roque Santeiro” (Globo): foi, sem nunca ter sido.

Agora a secretaria da Cultura poderá ser entregue a Mario Frias, um ator inexpressivo, cujos papéis de maior destaque foram em temporadas de “Malhação” de 20 anos atrás. Mas Frias, por suas declarações recentes, parece disposto a servir de capacho para Bolsonaro: fará tudo o que o presidente mandar, sem questionamentos. Só precisa tomar cuidado para não plagiar discursos de líderes nazistas.

Quanto a Regina Duarte, ela terá mais uma chance de continuar em cena neste desgoverno. A principal atribuição da Cinemateca é preservar, e não produzir cultura. Isto talvez a tire da mira imediata dos bolsolavistas. Mas é bom lembrar que essa cambada está disposta a destruir toda a arte nacional, inclusive o seu passado.

O que Regina não tem mais é uma saída honrosa. Mesmo se saísse batendo a porta à la Sergio Moro, não recuperaria seu contrato com a Globo, seu prestígio como atriz, sua respeitabilidade como ser humano. Não duvido que ela tenha boas intenções, mas foi burra o suficiente para acreditar que Bolsonaro também tem. Foi a própria Regina Duarte quem se desonrou.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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