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Tony Goes

Chilique de Regina Duarte faz credibilidade dela se esvair feito pum de palhaço

Secretária da Cultura não suportou ver vídeo em que Maitê Proença cobra por mais diálogo

Regina Duarte em entrevista ao jornalista Daniel Adjuto para o programa CNN 360
Regina Duarte em entrevista ao jornalista Daniel Adjuto para o programa CNN 360 - Reprodução-7.mai.2020/CNN Brasil
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Regina Duarte não é do ramo. Não sabe fazer política. A ex-atriz e atual (por enquanto) secretária da Cultura deu sobejas mostras de seu despreparo para um cargo público durante uma entrevista concedida na tarde desta quinta-feira (7) para a CNN Brasil.

A conversa foi pontuada por declarações bizarras, desconectadas da realidade. E terminou de maneira abrupta, com Regina reclamando em voz alta enquanto a mão de um assessor tentava cobrir a câmera.

A secretária (por enquanto) da Cultura era entrevistada por Daniel Adjuto em seu gabinete em Brasília, enquanto Daniela Lima e Reinaldo Gottino, no estúdio da emissora em São Paulo, faziam intervenções pontuais. O formato desagradou à ex-atriz: "não foi combinado nada disso! Achei que seria uma entrevista com você, Daniel".

Regina também deve ter imaginado que teria um palanque para desfiar suas ideias para a secretaria que (ainda) comanda, sem maiores contestações. Esqueceu-se (ou nunca soube) de que o papel da imprensa é fazer perguntas. É mostrar as contradições, é incomodar. E os jornalistas da CNN Brasil –um canal que eu já critiquei mais de uma vez– deram um show de competência e profissionalismo.

Já a secretária (por enquanto) protagonizou um vexame do começo ao fim. Minimizou os mortos e torturados pelo regime militar: "Na humanidade, não para de morrer [gente] (...) Não quero arrastar um cemitério de mortos nas costas". Cantou "Pra Frente Brasil", hino extraoficial da Copa de 1970, justamente o início do pior período da ditadura. "Não era gostoso cantar isso?", perguntou, ignorando os mortos e torturados daquela época.

Ao ser questionada pelo silêncio de sua pasta quanto aos inúmeros expoentes das nossas artes que faleceram recentemente, Regina ensaiou um mea-culpa. "Não fiz por mal, peço desculpas, falei com as famílias, lamentei a perda... Nessa hora a pessoa que está mais constrangida pela perda é a família, e eu queria falar com elas diretamente, não por um papel timbrado da Secretaria". Mas concluiu o raciocínio de maneira absurda: "Se eu estiver sendo cobrada (...) eu abro um obituário. Não tem nenhum problema!".

O tempo todo, a ex-atriz abria sorrisos supostamente enternecedores, como se ainda estivesse estrelando uma novela das 19 horas, e pedia “leveza” aos entrevistadores, como se não estivéssemos atravessando três crises –política, econômica, sanitária– ao mesmo tempo.

Mas nada em sua performance preparou a audiência para o gran finale. Regina Duarte perdeu as estribeiras e o pouco de credibilidade que ainda lhe restava quando a CNN Brasil lhe mostrou um vídeo em que Maitê Proença –uma atriz que já foi tida como simpatizante do bolsonarismo– lhe cobrava mais diálogo com a classe artística e uma atitude mais proativa à frente da Cultura. Tanto nas manifestações de pêsames pelos artistas mortos quanto pela liberação de fundos para os artistas que estão passando por dificuldades.

Regina não quis nem ouvir. Assim que o vídeo começou, passou a reclamar em voz alta, como se tivesse caído em uma emboscada. Achou que se tratasse de um depoimento antigo de Maitê: "Está (sic) desenterrando a mensagem da Maitê pra quê? O que você ganha com isso?". Daniela Lima ainda tentou explicar que o vídeo havia sido enviado nesta quinta, mas em vão.

"Eu tinha tanta coisa bacana para falar... Vocês estão desenterrando mortos. Vocês estão carregando um cemitério nas costas. Vocês devem estar cansados. Fiquem leves!". E abriu, mais uma vez, o sorriso de ex-namoradinha do Brasil.

A entrevista acabou ali mesmo, e imediatamente viralizou na internet. A (ainda) secretária da Cultura reconquistou seu lugar sob os holofotes: está em primeiro lugar nos trending topics do Twitter no momento em que escrevo esta coluna.

Mas seu discurso desconexo e estabanado só deve ter agradado ao núcleo duro de apoiadores do presidente –os mesmos que vinham criticando-a nas redes sociais e pedindo sua cabeça. A ex-atriz mostrou que, assim como seu (ainda) chefe, não suporta ser confrontada com a realidade. Assim como Bolsonaro, ela também pensa que a imprensa deveria trazer apenas boas notícias. Mais leveza, menos mortos!

Que triste fim de carreira. Regina Duarte está se esvaindo no ar, feito um pum de palhaço.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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