Neymar merece ser cobrado por não apoiar os movimentos antirracistas?
Felipe Neto interpelou o jogador no Twitter, mas depois se retratou
Foi um fim de semana agitado, no Brasil e nos Estados Unidos. Por lá, a morte de um homem negro nas mãos de policiais brancos de Minneapolis desencadeou uma série de manifestações por todo o país, algumas bastante violentas. A reação inspirou ativistas do Rio de Janeiro, que foram às ruas protestar pela morte do menino João Pedro, alvejado pela polícia dentro de sua própria casa, duas semanas atrás.
Dezenas de celebridades apoiaram esses movimentos, tanto aqui como nos EUA. Muitos negros, é claro, mas também muitos brancos. E, como não poderia deixar de ser nesses tempos de redes sociais, também rolou muita cobrança pública na internet.
A mais vistosa por essas plagas foi a de Felipe Neto em cima de Neymar. O influenciador escreveu “Vidas negras importam. Mas nem todo mundo se importa” em um tuíte, ilustrado por postagens feitas pelo jogador ao longo do fim de semana –algumas patrocinadas, todas maravilhosamente alienadas do mundo real.
Felipe Neto vem sendo apontado como a consciência jovem da nação, mas, dessa vez, não foi poupado. Choveram críticas pelo tuíte: como branco, ele não teria o direito de cobrar de um negro qualquer tipo de posicionamento político. Não tem lugar de fala, nem nunca sofreu racismo.
O influenciador acatou as reclamações, apagou a postagem e ainda pediu desculpas. Admitiu que não cabe mesmo a um branco interpelar um negro quando a pauta for racismo. Mas concluiu: “continuarei cobrando quando o assunto for Amazônia, fascismo e opressão, coisas (a respeito das quais) que ele sempre se manteve calado”.
Esse papel de fiscal da integridade alheia pode prejudicar o próprio Felipe Neto, mas quem sou eu para criticar? Também vivo apontando o dedo para famosos que, na minha douta interpretação, saem da linha. E hoje vou apontar o dedo para Neymar.
O próprio Neymar já disse que não é negro. Não, não vou julgar: ele tem mãe branca, e é óbvio que não ser negro num país racista como o nosso tem inúmeras vantagens. Se podemos definir nossos gêneros, então também podemos escolher a qual grupo queremos pertencer –e Neymar optou, politicamente, por não ser negro.
Na verdade, Neymar optou por ser politicamente o mais neutro possível. Apoiou Bolsonaro e, dizem alguns, rompeu com Bruna Marquezine porque ela é contra o atual presidente. Mas sempre se mantém quietinho com relação ao meio ambiente, à escalada da censura e a tantas outras barbaridades que acometem o Brasil. Talvez porque queira que o governo perdoe suas dívidas com o fisco.
Pode-se argumentar que, a exemplo de diversos músicos, Neymar prefere não tomar posições para não alienar nenhuma parte de seu imenso público. Que sua única mensagem é o futebol, e que ninguém deveria esperar mais do que isso. Muita gente concorda, e até prefere, que um esportista não se manifeste em relação a nada do que acontece fora do campo.
Acontece que... nem no campo Neymar vem se destacando. Seus dias de glória parecem ter ficado para trás, empanados por seu comportamento de garoto mimado cada vez que sofre uma falta. Não é por outra razão que o jogador vem perdendo alguns de seus patrocínios.
Neymar ainda tem milhões de seguidores nas redes sociais. Mas, de uns tempos para cá, só frequenta as manchetes quando eclode um escândalo. Foi o maior atleta brasileiro de sua geração. Talvez não seja mais.
Talvez Felipe Neto nem devesse perder tempo com ele, nem nós. Neymar não importa. Ainda mais quando o mundo parece estar desmoronando à nossa volta.
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