Na treta entre Anitta e Leo Dias, todo mundo sai perdendo
Cantora e colunista expõem nas redes sociais um lado feio do nosso showbiz
Hedda Hopper foi a mais influente –e a mais venenosa– das colunistas de fofoca da Era de Ouro de Hollywood. No auge de sua carreira, em meados da década de 1940, Hedda ganhava uma fortuna e vivia em uma mansão que ela mesma chamava de “a casa que o medo construiu”.
Que medo era esse? O medo dos artistas, de terem suas carreiras destruídas. Hedda criou uma rede de informantes em todos os estúdios de cinema. Atrizes em começo de carreira contavam a ela tudo o que se passava nos sets de filmagem, em troca de notinhas positivas. Astros flagrados em algum grande escândalo chegavam a pagar para que nada fosse publicado contra eles.
A Era de Ouro passou faz tempo, mas esse tipo de relação entre o showbiz e a imprensa persiste até hoje. O exemplo mais candente no Brasil atual é a treta entre Anitta e Leo Dias, que estourou na semana passada e não tem hora para acabar.
Os dois são próximos desde que a cantora despontou. No ano passado, Leo lançou “Furacão Anitta”, uma biografia não-autorizada –segundo ele, a pedido da própria biografada, apesar de ela ter lido e aprovado todos os originais antes da publicação do livro.
Mesmo assim, Leo Dias nunca foi de poupá-la muito. Críticas à maneira como Anitta conduz sua carreira sempre foram comuns na coluna que ele mantinha no UOL, ou nos programas que já apresentou na TV. Ele afirmou.
Na terça passada (19), o colunista publicou que a mãe de Anitta, Miriam Macedo, havia deixado a casa da filha, no bairro carioca da Barra da Tijuca, e voltado para o subúrbio. Miriam estaria chocada com as festas frequentes e com o fato de sempre haver “uma terceira pessoa” na cama com Anitta, além de um namorado.
A cantora e sua mãe correram às redes sociais para confirmar a mudança, mas dizendo que não estavam brigadas. Leo registrou o desmentido, e ainda se despediu: “Essa será a última nota que a Coluna do Leo Dias dará sobre a vida de Anitta. Desejamos sorte a ela!”.
Fez o mesmo no Instagram, e acrescentou que a artista seria praticante de um suposto “candomblé do mal”. Choveram críticas sobre Leo, que foi acusado de intolerância religiosa.
O caldo foi engrossando. Um exaltado Leo Dias deu uma entrevista a um canal do YouTube reclamando que Anitta “não poderia ter feito aquilo comigo”. Ela então revelou que ele estaria ameaçando tornar públicos dezenas de áudios e mensagens trocados por ambos ao longo dos anos.
Dito e feito. Leo divulgou mesmo alguns áudios em que Anitta comenta uma treta envolvendo ela mesma, Preta Gil, Pabllo Vittar, Gominho, Jojo Todynho e Marília Mendonça. Nada de muito interessante, muito menos que abale os alicerces da República.
Foi então que Anitta tomou uma atitude inesperada. Gravou um vídeo contundente assumindo que foi, sim, informante de Leo Dias durante muito tempo. Que agiu assim por acreditar que seria bom para ela. Que vem sendo chantageada pelo colunista. E que ele pode liberar o que quiser, pois está disposta a arcar com as consequências de seus erros.
Como foi que Leo Dias reagiu? Gravando, ao longo desta segunda-feira (25), uma série de vídeos para o Instagram em que investe com fúria contra sua antiga protegida. Quase espumando de raiva, ele ataca o caráter da cantora e diz, com todas as letras, que ela transou com até oito funcionários de uma rádio carioca –do motorista ao presidente– quando quis dar um gás no começo de sua carreira.
Não há santos nessa história. Um usou o outro em benefício próprio, e vice-versa. Ambos cruzaram limites éticos. Ambos tiveram comportamentos questionáveis.
Só que Anitta, agora, se expõe abertamente e dá a cara para bater. Pode ser só encenação, mas é muito mais digno e elegante do que o piti de Leo Dias. O colunista tem um conhecido problema de dependência química, mas isto não pode ser usado neste momento para desculpá-lo. Em outras palavras: o que Leo Dias está fazendo é muito, mas muito feio mesmo.
Eu também sou colunista de entretenimento, e também adoro uma fofoca. As tretas do showbiz são a razão de ser desta coluna. Mas este caso sórdido expõe um lado do negócio que não precisava existir. A relação entre artistas e jornalistas não pode virar uma simbiose tóxica, porque todo mundo sai perdendo. Inclusive o leitor.
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