Juliano Cazarré merece ser cancelado depois de bater boca nas redes sociais?
Postagem do ator sobre masculinidade gera polêmica, mas a questão é interessante
A internet mudou completamente a maneira com que os famosos se relacionam com o público. Em muitos casos, não há mais intermediários: a própria celebridade se expõe nas redes sociais sem nenhum paparazzo ou assessor de imprensa envolvidos. E depois interage com seus seguidores para o bem ou para o mal.
Neste domingo (3), uma postagem feita por Juliano Cazarré em seu perfil no Instagram descambou para o mal. O ator publicou um vídeo em que uma família de gorilas aparece cruzando uma estrada. Um macho enorme para no meio do caminho, esperando que toda a prole passe para o outro lado em segurança.
“A masculinidade é uma construção social... Só que não! PROVER E PROTEGER: a masculinidade faz do mundo um lugar mais seguro”, escreveu Cazarré, como legenda às imagens. “PS1: Quem tem um pai legal sabe. PS2: Esse gorila é mais cavalheiro do que muito homem por aí... dorme com esse barulho”.
Juliano Cazarré está muito orgulhoso de ser um pai legal, presente na criação de seus três filhos, todos meninos. Uma prova disso é a postagem imediatamente seguinte: o ator aparece sorridente com dois de seus garotos e ao lado da mulher, Letícia, louvando as delícias de um domingão em família.
Só este post já seria suficiente para ele se posicionar como um homem exemplar, em vários sentidos. Mas, no anterior, Cazarré enveredou pelo campo minado da suposta “ideologia de gênero”. Foi atacado por alguns internautas e respondeu à altura. No Twitter, muita gente decretou seu “cancelamento” –o ostracismo a que seriam relegados os que não comungam do ideário progressista.
Este acirramento é lamentável, porque a postagem de Cazarré poderia gerar um debate interessante e necessário. Afinal, o que é ser homem nos dias de hoje? Até que ponto o comportamento dito “masculino” é natural ou aprendido? Por que tantos pais por aí não têm nada de legal?
São questões importantes e complexas, e o próprio Cazarré não oferece uma resposta clara. Por um lado, ele mostra um vídeo com um gorila macho protegendo sua família –uma “prova” de que a masculinidade seria inata, independente da cultura. Por outro, o ator defende que mães solteiras, por heroínas que sejam, não são capazes de transmitir valores masculinos a seus filhos homens. Ou seja: a masculinidade é, sim, uma construção social, que depende do ambiente em que o menino é criado.
É bem complicado comparar o comportamento humano ao dos animais. Os bichos não podem ser apontados como exemplos, porque muitas espécies não só formam grupos familiares muito diferentes dos nossos, como até comem suas próprias crias.
Os internautas se dividiram com relação a Cazarré. Os (poucos) aplausos vieram quase todos de homens heterossexuais. Homens gays e mulheres foram praticamente unânimes em condená-lo, às vezes com bastante agressividade. E o próprio ator não se furtou ao bate-boca, chegando quase a ofender quem discordava dele.
Seria maravilhoso se todos os homens do mundo fossem mesmo provedores e protetores. Não é o que ocorre na prática: o Brasil tem milhões de pessoas sem o registro do pai na certidão de nascimento. Juliano Cazarré evocou uma situação ideal, frequentemente usada como argumento pelos defensores do patriarcado, mas que não tem respaldo na realidade de muita, muita gente.
No entanto, todo o histórico pessoal e profissional de Juliano Cazarré mostra que ele não é nenhum reacionário, muito pelo contrário. “Cancelá-lo” sem levar isso em conta é uma bobagem descomunal, digna dos imaturos que se acham donos da verdade.
Vamos voltar algumas casas e recomeçar a discussão, com cabeça fria e coração aberto? Há uma questão importante no centro dessa polêmica, mas as respostas não são fáceis.
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