Tony Goes

Tribunal da internet ataca Rafael Cardoso, mas poupa Regina Duarte

Os dois atores curtiram uma postagem de Flávio Bolsonaro, mas só Cardoso foi criticado

Rafael Cardoso
Rafael Cardoso - Globo/Cesar Alves
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O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) compartilhou nesta terça-feira (30), em seu perfil no Instagram, o já célebre vídeo em que seu pai, o presidente Jari Bolsonaro, aparece vociferando contra a TV Globo.

A postagem já acumula mais de 138 mil curtidas, mas só uma chamou a atenção dos internautas: a do ator Rafael Cardoso. Uma avalanche de críticas então se abateu sobre o rapaz, que teria sido desmascarado como “bolsominion”.

Algumas pessoas perceberam que Cardoso segue as contas dos três filhos do presidente e concluíram que este era mais um motivo para o “cancelamento” do ator.

É incrível como ainda tem gente que confunde seguir com endossar: até jornalistas, que, por dever do ofício, precisam acompanhar políticos de todas as tendências nas redes sociais, volta e meia são apedrejados por causa disso.

Outros internautas lembraram que, por ser contratado da Globo, Cardoso jamais poderia criticar a empresa em público. O próprio ator comprou essa tese e correu para divulgar um vídeo onde diz que sua conta foi hackeada. Por trabalhar na emissora, acrescentou, ele jamais se voltaria contra o jornalismo da casa.

Só que a Globo não proíbe que seus funcionários se manifestem politicamente. Está aí o José de Abreu, um esquerdista confesso, sempre muito vocal na internet. A emissora não deixa que os contratados participem de campanhas eleitorais, mas não obriga ninguém a rezar pela mesma cartilha ideológica.

O mais curioso nessa história toda é que Regina Duarte também curtiu a postagem de Flávio Bolsonaro. E o tribunal da internet reagiu com... grilos. Justo ela, que construiu quase toda sua carreira televisiva na Globo e que estrelou algumas das novelas de maior sucesso da emissora, foi poupada dos ataques virtuais.

Será que o fator novidade influiu? Rafael Cardoso nunca havia se posicionado a favor ou contra qualquer figura política. Já Regina Duarte aderiu há algum tempo a Jair Bolsonaro: foi visitar o então candidato enquanto ele se recuperava da facada que levou durante a campanha eleitoral e até compartilhou postagens que pediam o fechamento do STF.

Regina já foi muito malhada por suas posições conservadoras. Até porque elas transparecem uma certa incoerência: como que a intérprete de “Malu Mulher” pode ser contrária a algumas bandeiras feministas? Eu mesmo escrevi uma coluna apontando que três papéis cruciais da carreira da atriz tiveram problemas com a censura do regime militar, tão venerado por Bolsonaro.

Talvez o conservadorismo de Regina Duarte já tenha sido mastigado e digerido pela internet. É um fato da vida, assim como o nascer do sol e os impostos. Já o suposto apoio de Rafael Cardoso ao clã presidencial explodiu feito um escândalo, que o próprio ator se apressou em amortizar.

O fato é que essa mania de sairmos “cancelando” celebridades que supostamente “pecaram”, sem prestarmos atenção aos contextos ou deixarmos elas se defenderem, é pueril e perigosa.

Como antídoto, recomendo o recente vídeo em que o ex-presidente americano Barack Obama lembra que as ambiguidades existem e que a busca pela “pureza” é mais do que inútil: é contraproducente.

 

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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