Tony Goes

Será que a Globo está perdendo a liderança?

Emissora perde audiência em diversos horários e promove mudanças na diretoria

Faustão - Globo
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Tony Goes
São Paulo

Nos últimos dias, dois fatos ligados à Globo acenderam a luz amarela na cabeça de todos que observam e comentam a televisão brasileira.

No dia 22 de novembro, uma quinta-feira, nada menos do que nove programas da emissora perderam no Ibope para a concorrência. Uma semana depois, no dia 29, foram oito. Entre eles, há de tudo: desde fregueses habituais, como o “Vídeo Show”, até títulos tidos como imbatíveis, como o “Jornal Hoje”. Uma novidade na grade – o game show “Os Melhores Anos das Nossas Vidas”, lançado em outubro – chegou a amargar um terceiro lugar na Grande São Paulo.

Entre uma hecatombe e outra, a Globo anunciou uma significativa dança das cadeiras em seu organograma. Programas como “Mais Você”, “Encontro com Fátima Bernardes”, “É de Casa” e o próprio “Vídeo Show” saíram da alçada de Boninho e foram confiados a Mariano Boni, egresso do jornalismo da casa. Boninho permanece com o “BBB” e as versões do “The Voice”, e agora também terá o “Domingão do Faustão” e o “Caldeirão do Huck” sob sua responsabilidade. Enquanto isto, Ricardo Waddington, que era diretor da área de variedades noturnas e de fim de semana, além de multitelas, foi alçado a diretor de produção da emissora.

Claro que essas mudanças não foram provocadas pelos números recentes de audiência: a Globo é como um transatlântico, que se move lentamente, e uma chacoalhada interna dessas devia estar há meses em gestação. Mas é sintomático que aconteça justo no momento em que há, além de tudo, um governo no horizonte que promete ser muito mais simpático à rival Record. 

A grosso modo, o declínio da Globo começou há cerca de vinte anos, com o advento da internet e o crescimento da TV paga. A competição também se tornou mais acirrada entre os canais abertos, e derrotas pontuais foram ficando cada vez menos raras. 

Desde que virou o milênio, a Globo não repetiu mais o desempenho fenomenal que alcançava desde o início da década de 1970, com programas que chegavam a dar 70, 80 e até 100 pontos no Ibope (o final da novela “Roque Santeiro”, em 1985). Ela ainda é, de longe, o veículo de maior alcance e poderio do Brasil, mas não dita mais sozinha as regras do mercado.

A hegemonia global foi um fenômeno sem muitos paralelos no mundo capitalista – o único que me ocorre é o caso da Televisa, que domina as comunicações no México com seus quatro canais abertos e outros tantos pagos. Nos demais países, nenhuma emissora é líder de audiência em todos os horários, todos os dias da semana, e há uma rotatividade na disputa pelo primeiro lugar.

Mas é difícil imaginar que alguém conseguiria manter mais da metade do bolo publicitário (de todos os meios, não só da TV) por quase meio século.

A Globo vem perdendo em alguns horários para a Record e para o SBT, mas seus executivos sabem que a maior ameaça vem do streaming. Não é por outra razão que a Globoplay anda estreando tantas séries exclusivas, mas o cardápio oferecido pela plataforma ainda é pequeno – sem falar da qualidade técnica, que é sofrível.

Ainda assim, nenhum outro grupo de comunicação brasileiro está melhor preparado do que a Globo para enfrentar o futuro. Ninguém tem mais recursos, nem capital humano de tão alto quilate. E nenhuma concorrente direta inova tanto: só em janeiro, a Globo deve lançar mais novos programas do que suas maiores rivais no resto de todo 2019.

Também ainda não surgiu um adversário consistente na dramaturgia. As novelas da Globo, núcleo duro de sua programação, seguem na liderança, mesmo com a safra atual não sendo das melhores.

Por outro lado, já existe toda uma geração que não se interessa pelas novelas tradicionais. É este público que a Globo precisa segurar, e não vai ser fácil. Não está sendo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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