Tony Goes

Depois do depoimento do filho, Woody Allen merece o benefício da dúvida

Moses Farrow defendeu o pai, que é acusado de abuso pela filha Dylan

Moses Farrow, filho adotivo de Mia Farrow e Woody Allen
Moses Farrow, filho adotivo de Mia Farrow e Woody Allen - Reprodução/ Facebook
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A briga entre Mia Farrow e Woody Allen se arrasta desde 1992, quando os dois se separaram, e não tem hora para acabar. Depois de alguns anos em banho-maria, a disputa recrudesceu nos últimos meses, com clara vantagem para o campo de Mia. 

Na esteira das denúncias de assédio sexual que abalaram Hollywood, antigas acusações de Dylan, filha adotiva do casal, de repente ganharam crédito. A moça, hoje com 32 anos, diz que o pai teria abusado dela na época da separação, justamente quando ele estava trocando sua mãe por Soon-Yi (que é filha adotiva de Mia com um marido anterior, o maestro André Previn).

A investigação policial feita há mais de duas décadas apontou uma série de furos na história contada por Dylan, então com seis anos de idade. Também era perfeitamente plausível que Mia Farrow, tomada por furioso ciúme, tentasse voltar os filhos contra o próprio pai. 

Mas as campanhas MeToo (Eu Também) e Time’s Up (O Tempo Acabou) mudaram o clima cultural. De uma hora para a outra, Woody Allen virou um predador sexual, ainda mais monstruoso que Harvey Weinstein –afinal, sua suposta vítima era uma criança.

Nesse tempo todo, um membro da família desfeita sempre esteve ao lado do pai: Moses, também filho adotivo, hoje com 39 anos. Na semana passada, Moses –que trabalha como terapeuta familiar– publicou em seu blog um texto defendendo Woody Allen.

Foi imediatamente rebatido pelos irmãos Dylan e Ronan –esse último é hoje repórter da rede CNN, e autor de uma série de reportagens investigativas sobre os casos de abuso sexual no mundo do showbiz. Mas o testemunho de Moses merece atenção. O retrato que ele pinta de Mia Farrow é bem diferente do da mãe extremosa e dedicada, que teve quatro filhos biológicos e adotou outros dez, de diferentes culturas.

Moses conta que Mia foi uma mãe rígida, com lances ocasionais de crueldade. Chama a atenção que dois de seus filhos adotivos tenham se suicidado. Um terceiro também já morreu, por overdose de drogas.
Contra ela ainda pesa a suspeita de que Ronan, o único filho biológico de Woody Allen, talvez seja de Frank Sinatra, com quem Mia teve uma recaída enquanto ainda estava com o diretor. Foi ela mesma quem levantou a possibilidade em uma entrevista à revista Vanity Fair, anos atrás.

Mia Farrow com o filho Ronan no colo, e Woody Allen segurando a filha Dylan
Mia Farrow com o filho Ronan no colo, e Woody Allen segurando a filha Dylan - Time Life Pictures-13.jan.1988/Getty Images

Tudo isso corrobora a impressão de que Mia Farrow é mesmo uma mulher complicada, e não a santa que alguns de seus filhos defendem. A favor de Woody, ainda há um detalhe considerável: não existe nenhuma outra acusação de abuso contra ele. Ao contrário do que aconteceu com Harvey Weinstein, Kevin Spacey e, agora, Morgan Freeman, não pulularam novas denúncias depois que surgiu a primeira. 

Não estou dizendo com isso que, então, está provado que Woody seja inocente. Mas há motivos de sobra para desconfiarmos de Dylan Farrow. E mais ainda para que Woody não seja sumariamente condenado.
Talvez seja tarde demais. O novo filme do diretor, “A Rainy Day in New York”, já está terminado, mas não tem data de lançamento. Atores que participaram da produção, como Timothée Chalamet, Selena Gomez e Elle Fanning, agora se dizem arrependidos. Alguns doaram seus cachês para ONGs que trabalham pelas vítimas de assédio sexual.

E se Woody Allen for mesmo inocente? Estaremos nos privando de novos trabalhos do mais consistentemente brilhante diretor americano em atividade, e enterrando-o em vida. Ele merece, no mínimo, o benefício da dúvida.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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