Compra da Fox pela Disney é decisiva para a migração da TV para a web
A HBO GO, a plataforma de streaming da HBO, está disponível no Brasil desde o começo de dezembro. O espectador não precisa mais assinar um pacote "premium" de uma operadora de TV paga para ver séries como "Game of Thrones".
A Globo anunciou que irá combinar seu próprio conteúdo com o de sua programadora de TV paga, a Globosat, para criar uma plataforma de streaming que foi apelidada internamente de "Globoflix". Séries exclusivas para o futuro serviço já estão sendo produzidas.
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A Disney fechou nesta quinta (14) a compra de boa parte do conglomerado de mídia da 21st Century Fox, incluindo o estúdio de cinema, os canais de entretenimento e participações em produtoras como a Endemol Shine (que criou, entre outros formatos de sucesso, o "Big Brother").
Todas essas notícias recentes têm o mesmo pano de fundo: a migração, cada vez mais acelerada, da televisão "linear" --aquela com grade fixa e horários determinados, seja paga ou aberta-- para o on-demand, onde o espectador escolhe o que quer ver, na hora e lugar onde preferir.
A TV se despede das ondas e dos cabos convencionais, e chega até o público pela banda larga da internet. A mudança não é só física. Todo um antigo modelo de negócios está sendo substituído por outro, ainda não totalmente conhecido.
Explico. O produto da TV aberta é o olhar do espectador. É isto o que ela vende a suas fontes de renda, os anunciantes: a audiência de seus programas, em quantidade e/ou qualidade.
Este paradigma tradicional começou a ser quebrado com o advento dos canais pagos, que vendem assinaturas e (às vezes) não veiculam comerciais. O espectador paga diretamente a eles pelo que vê; a publicidade ajuda a bancar os custos, assim como nos jornais e nas revistas.
As plataformas de streaming como a Netflix radicalizaram este modelo. Sem nenhum tipo de propaganda, elas dependem exclusivamente de seus assinantes. Para mantê-los, é necessário oferecer conteúdo exclusivo.
Os efeitos dessa mudança já se fazem sentir. As agências de propaganda estão de pernas para o ar: durante mais de meio século, o comercial de TV foi seu principal produto, mas agora ele corre risco de extinção.
Além disso, aqui no Brasil a concessão de emissoras de TV sempre funcionou como moeda de troca na política. Se elas perdem importância, também diminui o poder dos clãs regionais que as controlam.
Neste admirável mundo novo, o conteúdo é soberano. Esta foi a principal razão da compra da maior parte da Fox pela Disney: juntas, elas correspondem a quase 40% das bilheterias americanas.
Este conteúdo vai ser crucial para a Disney construir sua própria plataforma de streaming e contestar o domínio da Netflix --que já avisou que irá intensificar ainda mais sua produção de conteúdo original.
Ainda é cedo para saber se o espectador vai sair ganhando. Mas uma coisa é certa: a TV linear tal como a conhecemos vai acabar, e quem não se adaptar aos novos tempos vai ficar pelo caminho.
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