Explicitamente religiosa, 'O Rico e Lázaro' tem começo espetacular
"O Rico e Lázaro", a quarta novela bíblica da Record, estreou com duas grandes qualidades.
Os dois primeiros capítulos — exibidos nesta segunda (13) e terça (14) — foram de encher os olhos. É nítido o avanço da emissora nesse tipo de produção. Cenários, figurinos e efeitos especiais estão a léguas do que eram em "Os Dez Mandamentos" (2015) e a anos-luz das primeiras minisséries do gênero.
A outra qualidade é que "O Rico e Lázaro" não esconde a que veio. Trata-se de um programa com uma missão: aumentar o rebanho das igrejas evangélicas. Especialmente, é claro, o da Universal do Reino de Deus, a controladora da Record.
Não tem uma trama sutil, nem faz propaganda subliminar. É explicitamente catequizadora: a toda hora alguém comenta que os hebreus estão sendo punidos por terem se afastado de Deus. Exatamente como os pastores costumam ameaçar seus fiéis desgarrados.
O Rico e Lázaro também é o primeiro folhetim bíblico centrado em figuras que não estão no livro sagrado. A autora Paula Richard tomou por base uma parábola do Novo Testamento, que fala da vida após a morte de dois homens: o rico vai para o inferno, o pobre, para o céu. E criou todo um contexto para os dois, situando-os na Jerusalém do século 7 antes de Cristo, quando a cidade foi tomada pelos babilônios.
Misturando elementos e personagens de quatro livros diferentes do Antigo Testamento, Richard também acrescentou à receita um triângulo amoroso digno das novelas das seis: dois amigos crescem juntos, brincando com a menina que irão disputar quando crescerem.
Qual deles se tornará rico, qual continuará pobre? Isto só será revelado na segunda fase. Até a cena que abriu a trama —uma inquietante sequência passada no inferno— se esforçou para manter o segredo, não mostrando o rosto do ator que a protagonizou.
Não foi o único momento espetacular da estreia. Outros vieram, como a cerimônia de coroação de Nabucodonosor, num templo sombrio que lembra a Casa do Preto e Branco da sexta temporada de "Game of Thrones".
Ou o embate entre babilônios e egípcios: simplesmente a melhor cena de batalha de todos os tempos do audiovisual brasileiro.
Palmas também para os diálogos, coloquiais na medida do possível. Pena que alguns atores ainda exagerem na pompa e circunstância. Outros — especialmente os mais jovens— atuam como se estivessem numa versão oriental de "Malhação" (Globo).
Com tanta pregação, "O Rico e Lázaro" dificilmente irá seduzir o espectador interessado apenas em romance e aventura. Mas público, a novela já mostrou que tem. Os primeiros números do Ibope — respeitáveis 15 pontos de média na Grande São Paulo (cada ponto equivale a 199,3 mil espectadores)— indicam que o filão bíblico da Record está longe de se esgotar.
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