Depois dos comentários transfóbicos, está difícil defender Claudio Botelho
Claudio Botelho não é um nome conhecido pelo grande público —no Brasil, ninguém fica famoso apenas por dirigir teatro.
Mas seus espetáculos atraem multidões: "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?", " Cinderella", "Nine", "Hair", "Gypsy" e dezenas de outros. Ao lado de seu parceiro Charles Möeller, ele talvez seja, atualmente, o nome mais importante do teatro musical feito no Brasil. Também está se tornando o mais polêmico.
Em março passado, Botelho —que também é ator — soltou um caco (fala improvisada) durante uma apresentação de "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos" em Belo Horizonte, insinuando que Lula e Dilma são ladrões.
A casa veio abaixo, a récita foi interrompida e Chico Buarque —a quem o musical era dedicado, e um notório apoiador do PT — cancelou a autorização para o uso de suas canções, o que encerrou a carreira da peça.
No dia seguinte, vazou a gravação de uma discussão que Botelho teve no camarim com uma de suas atrizes, Soraya Ravenle. Em dado momento, ele diz que um ator não pode ser peitado por um nêgo —ou um negro. Não dá para discernir com certeza.
Botelho foi chamado de golpista e racista nas redes sociais. Pediu desculpas públicas, e a vida seguiu.
Neste domingo (23), emergiu mais uma controvérsia estrelada pelo diretor. Uma conversa dele com Charles Möeller —talvez privada— foi divulgada por diversos sites. Nela, Botelho critica os transexuais e chega a dizer que "esse tipo de coisa tá se propagando porque os pais não batem mais nos filhos". Também chama a atriz trans Laverne Cox, da série "Orange Is the New Black", de "LaverME" (sic).
O mais chocante é que Botelho está dirigindo uma nova versão de "Rocky Horror Show", cujo personagem central, Frank N. Furter, é uma figura andrógina. Além do mais, ao longo de sua carreira, Botelho conviveu intensamente com homossexuais e travestis. Inclusive com Rogéria, a quem já dirigiu.
Os comentários de Claudio Botelho viralizaram entre a classe artística, e já tem gente propondo um boicote a "Rocky Horror Show", que só estreia em novembro, em São Paulo.
Não duvido que tudo não passe de uma armação. Print screens podem ser facilmente falsificados, e é óbvio que Botelho tem muitos inimigos. Por outro lado, gente que o conhece melhor do que eu diz que ele costuma pegar pesado em críticas e comentários.
Eu defendi Botelho em um texto aqui no "F5", me março passado, na época do bafafá em BH. Desta vez, não dá para defendê-lo, mesmo que o diálogo divulgado tenha sido particular.
Mas também não vou pegar em armas contra ele. A Folha tentou ouvi-lo, mas, até o momento em que escrevo, não conseguiu encontrá-lo. Prefiro aguardar um posicionamento do diretor, para só então me posicionar também.
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