Com rumores de Porchat na Record, vem aí uma chacoalhada nos 'talk shows' brasileiros
O "talk show" é um formato mais que consagrado. Inventado pelos americanos na década de 1950, ele logo se espalhou pelo mundo. Pela razão mais simples de todas: sua produção é relativamente barata. Muito mais em conta do que qualquer novela ou programa convencional de variedades. Basta um entrevistador e alguns convidados interessantes. Até a plateia é dispensável: existem "talk shows" que prescindem totalmente dela.
Nos Estados Unidos, esses programas sempre foram apresentados por comediantes. Johnny Carson, David Letterman, Jay Leno e todos os demais ícones do gênero vieram do "stand-up comedy". A rapidez no improviso e a capacidade de tirar sarro de tudo são consideradas mais importantes do que a cultura geral e a precisão jornalística. Porque o espectador do fim da noite, horário onde o formato se instalou, está mais interessado em se divertir do que se informar.
O primeiro "talk show" brasileiro a seguir o padrão americano foi o "Jô Soares Onze e Meia", que estreou no SBT em 1988. Jô era mais do que talhado para essa função: além de uma carreira espetacular no humorismo, ele também é um homem culto, poliglota e desenvolto, capaz de conversar com quem quer que seja sobre qualquer assunto.
Jô foi sucesso de público e de crítica durante décadas a fio. Voltou para a Globo em 2000 e manteve o mesmo prestígio, agora com acesso liberado aos contratados da emissora. Durante muito tempo, não teve concorrente à altura.
Até que Danilo Gentili lançou o "Agora É Tarde" na Band, em 2011. O sucesso foi tão grande que, em 2013, Danilo foi convidado a se transferir para o SBT, onde agora apresenta o "The Noite".
Que rapidamente se tornou uma dor de cabeça para a Globo. Sem papas na língua e atingindo um público mais jovem, Danilo começou a bater a concorrência no Ibope com frequência. Jô também começou a dar sinais de que, em bom português, está ficando velho.
Um exemplo recente foi sua entrevista com a vlogueira Jout Jout, no dia 12 de novembro. Ele provavelmente nunca tinha ouvido falar da moça, que é um fenômeno no YouTube, até ela se sentar em seu sofá. E, na tentativa de fazer gracinhas, acabou passando recibo de ultrapassado.
A Globo sabe que a carreira de Jô Soares está na reta final, e vem preparando Marcelo Adnet como seu sucessor. O "talk show" "Adnoite" (título provisório) está em desenvolvimento há quase um ano e deve estrear no primeiro semestre de 2016, a princípio como semanal. Se der certo, é bem capaz que tenha sua frequência aumentada —e que ocupe o lugar de Jô, cujo contrato termina em breve.
Vem mais novidade por aí. Dizem que Fábio Porchat está prestes a assinar contrato com a Record. O ator chegou a postar uma foto no Instagram abraçado com Adnet e desejando um feliz 2016, seguido por #DaniloGentili.
Porchat na Record promete ser bizarro. A emissora costuma exercer uma forte pressão sobre seus contratados, impedindo-os de falar de religião ou de fazer críticas contundentes ao governo. E Porchat ficou famoso graças ao Porta dos Fundos, que tira muito sarro dos poderes estabelecidos —inclusive das igrejas evangélicas. Quero só ver como vai ser.
De qualquer forma, o próximo ano parece ser o da consolidação de uma nova geração de comediantes no comando dos "talk shows", em cada um dos três maiores canais abertos. Qual deles se tornar´ o rei do fim da noite?
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