Thammy Miranda é a Caitlyn Jenner brasileira
A transexualidade é um dos grandes temas culturais deste ano. Nos Estados Unidos, ela invadiu o cinema, a televisão e toda a indústria do entretenimento. Está presente nos talk shows e nas capas de revista. Também aparece em séries como "Orange is the New Black" (como coadjuvante) ou "Transparent" (como protagonista). Até a propaganda, que só adere a uma tendência quando ela já foi confirmada por outras manifestações, passou a incluir pessoas trans em algumas campanhas.
Por lá, a figura de proa dessa onda é Caitlyn Jenner, ex-Bruce. Pela primeira vez, o público americano está acompanhando de perto a transição de alguém que já era famoso e popular antes de mudar de gênero. Bruce Jenner foi um grande campeão olímpico nos anos 70 e um dos homens mais bonitos de sua geração. Mais recentemente, ficou conhecido como o "padrasto das Kardashians", com aparições frequentes nos inúmeros reality shows que sua família estrela no canal E!. Hoje, como Caitlyn, ganhou seu próprio programa na mesma emissora.
Aqui no Brasil, há antigas drag queens que agora se identificam como transexuais. E também temos Laerte, a cartunista da Folha que primeiro se revelou "crossdresser" (um homem que gosta de se vestir de mulher, sem nada a ver com orientação sexual) e atualmente se assume como mulher trans (não operada, como quase todas hoje em dia).
Mas Laerte não é uma grande celebridade, porque não construiu sua carreira na TV. Neste ponto, quem mais se aproxima do molde de Caitlyn Jenner é Thammy Miranda, uma presença recorrente na telinha há quase três anos.
Thammy começou a ganhar notoriedade por causa de sua mãe, a cantora Gretchen. Tanto que seu primeiro nome artístico era Thammy Gretchen. Mas só se tornou realmente conhecido em todo o país depois que interpretou a policial Jô na novela "Salve Jorge" (Globo), escrita por Glória Perez.
Naquela época, Thammy ainda se identificava como mulher mas já era lésbica assumida, e boa parte de seu drama pessoal era de domínio público. Os conflitos que teve com a mãe, a reconciliação entre as duas, as idas e vindas com diversas namoradas, tudo isso foi fartamente noticiado.
Terminada a novela, Thammy anunciou que iria transicionar. Queria ser homem, em todos os sentidos. E permitiu que cada etapa dessa jornada fosse documentada e divulgada.
Está pagando um preço por isto. Sua primeira foto sem os seios, com peitoral masculino, dividiu a internet. Muita gente elogiou sua coragem e aplaudiu sua beleza. Outros tantos o criticaram, dizendo que ele não devia "mexer no corpo que lhe foi dado por Deus" nem ter escolhido se amputar, quando tantas vítimas do câncer de mama são obrigadas a passar pela mastectomia.
Os dois argumentos são ridículos. Quem acha que não se deve alterar o próprio corpo não deveria sequer cortar o cabelo. E chamar a atenção para um outro problema supostamente maior é a maneira dos covardes revelarem seus preconceitos.
Perto das barras que Thammy já enfrentou, essas pedradas virtuais não fazem nem cosquinha. O melhor é que ele nem se abala: não vai se ofender se alguém ainda tratá-lo como mulher, pois sabe que leva tempo para todo o mundo se acostumar. E por enquanto vai manter o nome Thammy mesmo, que já está se tornando uma marca.
A verdade é que temos sorte de contar com famosos como Laerte e Thammy, que compartilham conosco suas histórias e suas lutas. Graças a eles, aprendemos e evoluímos. Estamos todos transicionando.
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