Em geral monótono, Oscar promete surpresas por não ter favorito
O Oscar é uma das premiações menos emocionantes que existem. Todo ano, um favorito emerge por volta de dois meses antes da cerimônia. Nem sempre um grande sucesso de bilheteria, mas invariavelmente um queridinho da crítica. Quando chega o grande dia, este filme já teve seu favoritismo confirmado por muitos outros prêmios. As surpresas são raríssimas.
Só que este favorito ainda não pintou este ano. Há uns quatro ou cinco títulos bem fortes no páreo, com outros seis ou sete correndo por fora. Como hoje em dia a Academia permite que até dez filmes podem ser indicados a seu prêmio máximo, a corrida pode embolar.
Mas que filmes são esses, e quais suas chances reais? As indicações ao Globo de Ouro, anunciadas quinta passada, deram algumas pistas. Vamos lá, por ordem alfabética:
"ARGO" - O terceiro longa-metragem dirigido pelo ator Ben Affleck largou na frente. Surpreendeu os críticos e seduziu o público com ritmo ágil, conotação política e toques de comédia. Mas seu brilho se apagou um pouco depois que estrearam concorrentes peso-pesados. Ainda assim, deve levar alguns troféus (já em cartaz no Brasil).
"AS AVENTURAS DE PI" - O taiwanês Ang Lee é respeitadíssimo por sua versatilidade. Já dirigiu obras de todos os gêneros, do romance gay de "O Segredo de Brokeback Mountain" (pelo qual levou o Oscar de melhor diretor) ao primeiro filme do Hulk. Sua adaptação em 3D do romance de Yann Martel (e assumidamente inspirado num livro do brasileiro Moacyr Scliar) é visualmente deslumbrante. Pode arrasar nas categorias técnicas (estreia no Brasil em 21/12).
"DJANGO LIVRE" - O novo filme de Quentin Tarantino estava passando meio batido nas bolsas de apostas até receber cinco indicações ao Globo de Ouro. É um faroeste politizado e violentíssimo, que dividiu as opiniões (18/1).
"A HORA MAIS ESCURA" - A diretora Kathryn Bigelow fez história ao ser a primeira mulher a vencer como diretora, três anos atrás, com "Guerra ao Terror". Agora pode dobrar a façanha: seu "A Hora Mais Escura", sobre a perseguição a Osama Bin Laden, levou uma pá de prêmios precursores (18/1).
"INDOMÁVEL SONHADORA" - Este foi o título piegas que ganhou no Brasil o vencedor do festival de Sundance, "Beasts of the Southern Wild" (algo como "Feras do Sul Selvagem"). O cinema independente sempre emplaca algum título entre os finalistas, mas este filme pequeno e algo bizarro dificilmente cruzará a linha de chegada. Foi totalmente ignorado pelo Globo de Ouro, mas é um dos favoritos ao Spirit, o Oscar dos "indies" (ainda sem data de estreia no Brasil).
"O LADO BOM DA VIDA" - Outro filminho modesto, que levou o prêmio do público no festival de Toronto (sempre um bom termômetro para o Oscar) mas que deslizou alguns lugares para baixo nas cotações depois que chegaram as superproduções dos grandes estúdios. O diretor David O. Russell foi indicado por "O Lutador" em 2010, e seu dia chegará. Mas neste momento acho que a atriz Jennifer Lawrence tem mais chances de por a mão numa estatueta (1/2).
"LINCOLN" - Havia a expectativa de que esta cinebiografia assinada por Steven Spielberg fosse chatíssima, ou pelo menos superficial. Nem uma coisa, nem outra: até os historiadores estão babando com o rigor do roteiro. Mas Spielberg já foi muito premiado, e os votantes podem achar que chegou a vez de outro. Favorito ao Globo de Ouro de melhor drama (25/1).
"LES MISÉRABLES" - Outra superprodução que surpreendeu positivamente aqueles que apostavam num fiasco. Foi aplaudidíssimo nas pré-estreias (só entra em cartaz nos EUA no Natal). A Academia já foi mais fã de musicais, mas a reconstituição histórica e a técnica ousada empregada pelo diretor Tom Hooper - os atores cantam mesmo em frente às câmeras, sem playback - aumentam suas chances. Por outro lado, o mesmo Hooper venceu há dois anos com "O Discurso do Rei". Pode ser cedo demais para ganhar novamente, mas o filme é o favorito ao Globo de Ouro de melhor musical/comédia (1/2).
O Oscar anunciará seus finalistas no dia 10 de janeiro, duas semanas mais cedo do que de costume. Talvez para dar mais tempo para os filmes "brigarem" entre si nos palpites dos sites especializados, até um favorito se consolidar. Mas eu torço para que não: vai ser ótimo chegar ao dia 24 de fevereiro sem saber quem vai ganhar.
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