Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Rosana Hermann
Descrição de chapéu Todas

Caso Sonia Abrão: Faltou um Louro Mané para Ana Maria Braga

Em programa, apresentadora e Angélica disseram ser alvo de distorções e Sonia rebateu falas; conversa poderia ter sido interpelada por papagaio

Ana Maria Braga e Louro Mané no 'Mais Você' - Daniela Toviansky/Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sim, eu sei, o Brasil todo sabe. O parceiro de Ana Maria Braga se chama Louro Mané, nome que a própria apresentadora deu para o "filhote" de Louro José, apresentado ao público após um hiato de dois anos. O longo luto pela perda de Tom Veiga em 2020, criador e manipulador de Louro José, se justifica plenamente.

O personagem foi criado quando Ana ainda apresentava o Note e Anote, na Record, no distante ano de 1997. Foi uma longa convivência, quase simbiótica, de alegria e cumplicidade diária durante 24 anos. Não dá nem para imaginar a loira sem seu louro.

Outra apresentadora muito querida que já nos deixou, Palmirinha Onofre, também compartilhava suas receitas com um boneco: o Guinho, interpretado por Anderson Clayton. Guinho, que surgiu em 2004, ou seja, há 20 anos, protagonizou momentos divertidos e ingênuos, como no episódio das "facas", em que a doce Palmirinha esqueceu o nome do talher e o boneco a ajudou com a memória. Até hoje dou risada vendo o vídeo.

Há muitos outros exemplos de bonecos coapresentadores fora da área culinária e dos programas infantis da TV aberta, como Eliana e o Melocoton, ou Jackeline Petkovic com o Gugui. Ratinho, por exemplo, lançou o Xaropinho em 1998, com imenso sucesso. O Balanço Geral introduziu a Cobra Judite em 2014, no quadro A Hora da Venenosa, que interage comentando notícias sob o comando de Fabíola Reipert.

A cobra deu tão certo que a irmã de Fabíola também seguiu os mesmos passos. Achei curioso que agora existam "as irmãs Reipert" com suas cobras.

Antes mesmo desses sucessos dos anos 90, já havia uma parceria lendária: Beto Rivera e seu parceiro Capivara, manipulado por Sérgio Tastaldi, que estrearam em 1985 no programa Realce da TV Gazeta. Em 1989, o programa se transformou no não menos icônico Clip Trip, que ficou no ar até 1994.

Como podemos ver, a fórmula "apresentador + boneco" é sucesso certo e antigo. E por quê? Porque o boneco, mesmo sendo manipulado como um artista, é registrado em nosso cérebro como um brinquedo inocente e não como uma pessoa. Uma pessoa, um apresentador famoso, tem que medir suas palavras. Qualquer coisa que ele disser, especialmente num programa ao vivo, pode causar problemas com colegas, patrocinadores, a concorrência e até com a própria emissora.

Digo isso com conhecimento de causa, pois trabalhei em vários programas de TV ao vivo, inclusive com Clodovil. Já o boneco pode falar qualquer bobagem, qualquer absurdo, porque é apenas um brinquedo; ou seja, tudo o que ele disser será sempre "brincadeira".

Talvez tenha faltado justamente essa lembrança no recente caso entre Ana Maria Braga e Sonia Abrão. No dia 13 de novembro, Ana Maria e Angélica conversaram sobre programas vespertinos de TV e comentaram que, muitas vezes, são alvo de informações falsas ou distorcidas. Sonia Abrão captou a indireta e fez um editorial "contra-atacando" a colega em seu programa A Tarde é Sua. Sonia chegou a insinuar um tom de hipocrisia no papo das colegas, dizendo que Ana "não era santinha" (porque também já participou de fofocas) e que Angélica pegou uma "carona".

Sim, existe sempre um tom de hipocrisia quando falamos de fofocas de famosos. Todos nós somos contra maldizer a vida alheia e, no entanto, todos nós consumimos esses mesmos maldizeres, bem no modo "Deus me livre, mas quem me dera".

A fofoca sempre existiu, sempre existirá e, quando não é realmente inventada e destrutiva, tem uma função social. Ela serve para nos alertar contra os riscos de confiar demais nas pessoas. A fofoca mostra a falibilidade, a vulnerabilidade de cada um, especialmente dos famosos, das celebridades, das pessoas idolatradas. É como um lembrete que nos diz "ela é famosa, mas tem lá seus defeitos, não confie cem por cento".

A desavença não tomou proporções de briga, mas poderia ter sido evitada. A mesma conversa poderia ter seguido um caminho mais leve, mais bem-humorado, especialmente se o Louro Mané tivesse participado. Ele poderia ter amenizado as colocações e até mesmo brincado, antecipando problemas ao dizer, por exemplo, que Sonia certamente iria responder às falas das duas.

Teria sido melhor, mais prudente, mais diplomático. Afinal, é para isso que existem bonecos, papagaios de pirata e até assessores de carne e osso: para fazer o papel de veludo entre cristais, evitando assim que os famosos, nossos cristais, tenham suas imagens arranhadas, trincadas ou quebradas para sempre.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem