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Tony Goes

"Prometheus": o novo "Alien" é grandiloquente e banal

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O primeiro "Alien" foi uma pequena revolução no cinema de ficção científica. A história se passa em 2127, mas o roteiro não perde tempo descrevendo como é a civilização do futuro. Quase toda a ação se passa dentro da espaçonave Nostromo. E só mais para o final é que o espectador percebe que a verdadeira protagonista é a tenente Ellen Ripley (Sigourney Weaver), depois de quase toda a tripulação já ter sido dizimada por uma criatura dentuça e gosmenta.

"Alien" na verdade é um filme de ação no espaço sideral. Ou talvez seja de terror mesmo, já que repete a fórmula dos inúmeros "Sexta-Feira 13": o monstro vai pegando um por um, numa sequência macabra. Na época foi saudado como entretenimento de primeira linha e mais nada. Ninguém lhe atribuiu um significado maior, mas o filme não precisou disto para se tornar um clássico.

Mas, se quisermos ser pedantes, este significado até existe. "Alien" pode ser visto como uma metáfora da morte. Não adianta se esconder: mais cedo ou mais tarde, ela chega para cada um de nós. Se não for neste filme, será numa das continuações.

Crédito: Divulgação Atriz Charlize Theron em cena de "Prometheus", de Ridley Scott
Atriz Charlize Theron em cena de "Prometheus", de Ridley Scott

Trinta e cinco anos depois de ter dirigido o primeiro capítulo da série, Ridley Scott volta ao universo de "Alien" com "Prometheus" - que na verdade é um prelúdio para o filme de 1977. Só que, desta vez, inverteu-se a equação original. "Prometheus" quer ser grandioso, quase filosófico, mas acaba descambando para uma bobagem que será esquecida em pouco tempo.

A culpa talvez seja do roteirista Damon Lindelof. Ele já havia demonstrado na série "Lost" que adora um mistério envolto num enigma embrulhado num segredo, com nuances místicas meio "new age". Em "Prometheus" ele acha pouco contar a origem da fera, e se propõe a contar a origem da própria humanidade.

Essa pretensão criacionista acaba comprometendo o ritmo e o impacto do filme. É uma pena, porque a produção é absolutamente sensacional: Ridley Scott de fato consegue nos convencer de que estamos num planeta distante, ajudado por um uso da tecnologia 3D que só grandes diretores (como ele, Martin Scorsese ou James Cameron) conseguem fazer.

A outra peça que destoa é Noomi Rapace. Esta atriz sueca estourou como a detetive punk Lisbeth Salander, na versão de seu país para "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (depois refilmado nos EUA por David Fincher). Ela até que é competente como a protagonista de "Prometheus", mas não tem o brilho de estrela que nunca faltou a Sigourney Weaver.

"Prometheus" é um programa divertido e merece ser visto numa sala de cinema com a melhor tecnologia possível. Tem ótimos efeitos especiais e sustos ainda melhores. Mas não vai entrar para a história nem ficar na memória. Com o perdão do trocadilho infame: o filme promete muito, mas não cumpre.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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