O "Pânico" quer pedir desculpas. Já pensou se a moda pega?
Nada como um dia depois do outro. Até ontem, dizia-se que a Band não iria recorrer da decisão judicial que proíbe os integrantes do "Pânico" de se aproximarem de Silvio Santos. Hoje saiu a notícia de que o departamento jurídico da emissora do Morumbi procurou o SBT para chegar num acordo.
O mais surpreendente é o anúncio de que o pessoal do "Pânico" pretende pedir desculpas públicas a Silvio Santos. Por um lado, é compreensível: o programa e o apresentador sempre tiveram uma relação afetuosa, que só azedou quando a trupe de Emílio Surita saiu da RedeTV!. Ceará até se gabava de que sua imitação de SS era a única "autorizada" pelo próprio.
Por outro lado, é intrigante. Silvio Santos não é nem de longe a figura pública mais zoada pelo "Pânico" nesses anos todos. Esta honra dúbia talvez caiba ao falecido Clodovil, que sofreu até mesmo a humilhação da campanha "Lota, Clô" - promovida pelos humoristas quando seu espetáculo "Elas e Eu" se revelou um fracasso de público.
Aposto que jamais passou pela cabeça do pessoal do "Pânico" pedir desculpas a quem quer que fosse. Enfrentar processos, sim; se desculpar, jamais. Faz parte do DNA do programa.
Acontece que Silvio Santos não é um artista qualquer. Também é um dos empresários mais poderosos do país. E é óbvio que interessa à Band manter as melhores relações possíveis com um concorrente tão importante.
Há um precedente na casa: Rafinha Bastos foi defenestrado do "CQC" por causa da infame piada sobre Wanessa Camargo, supostamente por pressão de anunciantes e agências de propaganda.
Mas o próprio Rafinha jamais se redimiu. Sim, ele admitiu que a piada não era das melhores, e até convidou Wanessa para seu novo programa. Mas ela não quis nem saber, porque ele nunca lhe pediu perdão com todas as letras.
Tenho mil restrições à linha de humor adotada por Rafinha Bastos, mas admiro sua coragem. "Alguém se ofendeu com a piada? Dane-se. Peço desculpas se não foi engraçada, mas não retiro o que disse. Afundo junto com ela".
Claro que é fácil ter princípios quando a conta no banco está recheada, e as responsabilidades de um humorista são infinitamente menores que as de uma empresa.
Mas já pensou se a moda pega? Vai ter fila de gente e entidades exigindo desculpas e retratações. Aliás, já tem: todos os humorísticos da TV, sem exceção, recebem reclamações de "ofendidos" toda semana.
O fato é que nós, brasileiros, ainda não sabemos traçar uma fronteira entre a simples gozação e a ofensa pessoal. Nem as "vítimas", nem os "algozes". E assim se escreve mais um capítulo da saga do nosso humor, em busca dos próprios limites.
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