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Thiago Stivaletti

Janis Joplin, quem diria, acabou em Copacabana e encontrou Alcione

Novo documentário resgata a passagem da Rainha do Rock pelo Carnaval do Rio em 1970, meses antes de morrer de overdose

Mulher de óculos
Cena do documentário sobre Janis Joplin - Ricky Ferreira/Divulgação
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São Paulo

Em fevereiro de 1970, seis meses antes de morrer de overdose, Janis Joplin passou o Carnaval no Rio de Janeiro. Foi expulsa do Copacabana Palace por fazer topless na piscina; deu uma canja na Boate Bolero, deixando Alcione, Serguei e Tony Tornado de boca aberta na plateia; e teve que passar tubos e mais tubos de Caladryl no corpo depois de torrar na Praia da Macumba.

Essas e outras histórias são resgatadas no documentário "Janis – Amores de Carnaval", de Ana Isabel Cunha, que estreia no Festival do Rio nesta sexta (4). Quem conduz as memórias é o fotógrafo Ricky Ferreira, que hospedou Janis e uma amiga em seu apartamento no Leblon depois que a roqueira foi expulsa do Copa.

Doida para conhecer o Rio desde que tinha visto o filme "Orfeu Negro" (1959), Janis também usou a viagem para tentar se desintoxicar de seu principal vício: a heroína. Não que o Rio não fosse farto em drogas, mas a heroína era rara no Brasil na época. O detox não foi completo, já que ela bebia o dia inteiro, de caipirinha a licor de ovo.

Ilustre desconhecida

O curioso é que, numa época pré-internet, Janis não era um rosto conhecido no Brasil nem mesmo dos fãs de rock. Seu melhor disco, o lendário "Cheap Thrills" (1968), ainda não tinha sido lançado por aqui. O roqueiro Serguei foi um dos únicos a reconhecê-la na Boate Bolero. A Marrom, que não a conhecia, ficou impressionadíssima com a voz de Janis; no filme, ela define a americana como "uma cantora branca de voz negra".

Com o rosto cheio de espinhas e vestindo sempre roupas "tye dye" de veludo, Janis também passou quase despercebida num camarote do desfile das escolas de samba, que na época ainda acontecia na avenida Rio Branco. Ouvindo um samba-enredo pela primeira vez, não entendeu por que a música sempre se repetia em círculos.

"A Janis veio para cá sem conhecer nada de música brasileira. O Jimi Hendrix era bem mais conhecido por aqui. Na época, era muito raro uma mulher ser líder de banda como ela", diz a diretora. Carlyle Junior, corroteirista do filme, diz que a passagem de Janis pelo Rio sempre foi reduzida a uma ou duas páginas nas biografias da cantora. "E, no entanto, foi no Rio que ela conheceu David, grande amor da vida dela".

David era David Niehaus, missionário americano que havia passado pela Amazônia e chegou ao Rio. Ele e Janis se conheceram num bloco de Carnaval e não se desgrudaram mais. De lá, viajaram para Arembepe, na Bahia. A briga final dos dois, já nos Estados Unidos, teria sido uma das grandes razões para a depressão que levou a cantora à overdose, em outubro de 1970.

Ricky Ferreira, o fotógrafo que se tornou principal testemunha da passagem de Janis pelo Brasil, foi o idealizador do documentário que estreia agora. Ele morreu no início deste ano, mas Ana Isabel teve tempo de mostrar a ele no hospital um primeiro corte do filme, que ainda nos ajuda a entender que, mesmo em plena ditadura, o Brasil fervia na música e na cultura.

"Janis – Amores de Carnaval"

Sex. (4), às 18h15, no Estação Net Gávea; sáb (5), às 14h30, no Estação Net Rio, Botafogo; dom. (6), no Cine Santa Teresa – Rio de Janeiro

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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