Polêmicas à parte, 'Babilônia' precisa de ajustes
Às vezes é meio triste acompanhar novelas, porque dá a impressão de que o Brasil não vai para frente. Há quase 24 anos, no dia 20 de maio de 1991, a Globo estreava "O Dono do Mundo", de Gilberto Braga, o mesmo de "Babilônia". No mesmíssimo dia, o SBT estreava a mexicana "Carrossel", da famosa professora Helena. Uma novela mexicana ultraconservadora tirava audiência da poderosa Globo.
Já estamos há 15 anos no século 21 e o que temos? O SBT exibindo a reprise do seu remake brasileiro de "Carrossel" e usando o marketing "Novela pra família é aqui!". "Babilônia" indo mal de audiência depois que líderes religiosos conclamaram a um boicote por conta do casal vivido por Nathália Timberg e Fernanda Montenegro. E ainda com outra concorrente no pedaço, "Os Dez Mandamentos", a primeira novela bíblica da Record.
Qualquer noveleiro sabe que há um exagero aí. "Carrossel", além de ser uma reprise, não é uma novela para a família - é para crianças mesmo. E "Os Dez Mandamentos" não vai passar 300 capítulos pregando os princípios de Moisés: o início já teve traição, amante de general trabalhando sob falsa identidade para a princesa, paixões proibidas etc. Ou seja: não se faz novela com a Bíblia, por mais que se queira.
Sim, Gilberto Braga faz muito pelos direitos dos gays ao mostrar duas mulheres casadas de 85 anos. Mas, enquanto novela, "Babilônia" começou com alguns deslizes que precisam ser ajustados sim, em nome não só da audiência, mas de uma empatia maior com o público:
MAIS AMIGAS QUE RIVAIS - Beatriz (Glória Pires) e Inês (Adriana Esteves) estão unidas à força por uma chantagem de dez anos. Até agora, a segunda trabalhou lindamente como advogada da primeira. Já está na hora de Inês passar uma bela rasteira na amiga.
CASAL SEM QUÍMICA - Camila Pitanga, linda e morena daquele jeito, a maior herdeira de Sonia Braga, com o branquelo do Thiago Fragoso? Muita areia pro caminhãozinho do moço.
A NOVELA MAIS ESCURA - A direção de Dennis Carvalho é sempre impecável. O problema é: personagens filmados na sombra ficam lindos no cinema, mas cansam em novela. A gente quer ver a reação dos atores, clara e transparente. Dennis, sai da caverna!
OS NÚCLEOS CÔMICOS FRACOS - Gabriel Braga Nunes pode até tapar um buraco como galã, mas não convence como marido 171. Boa comediante, Maria Clara Gueiros está sozinha em cena. Se o negócio é fazer rir, era melhor ter escalado logo o Marcius Melhem que o sucesso era certo. No núcleo do prefeito Aderbal, Marcos Palmeira também não segura a onda da comédia, e está tudo na mão de Arlete Salles.
OS BONZINHOS SEMPRE CHATOS - Gilberto Braga é o melhor quando o assunto são mulheres ricas e más, mas não é tão bom na hora de escrever os personagens bons e pobres. Camila Pitanga (Regina) se esforça em fazer uma mocinha batalhadora, teimosa, arredia com os homens etc. Mas falta conflito para os outros personagens do morro da Babilônia - a maioria das cenas fica naquela toada do "a gente é pobre, mas feliz".
HOMENS FRACOS - Tudo bem, novela boa é sempre uma arena para mulheres. Mas os homens estão fracos alem da conta. Evandro (Cassio Gabus) não sabe nem de 10% do que Beatriz apronta. Vinicius (Thiago Fragoso) é bonzinho a ponto de ser chato. Rafael (Chay Suede) é um menino ainda sem muita função na história. O único que se salva é o cafetão Murilo de Bruno Gagliasso - mas que lembra demais outro personagem dele, o malandro Ivan, de "Paraíso Tropical" (2007).
OS NÚCLEOS (AINDA) NÃO SE COMUNICAM - As histórias de "Babilônia" ainda estão muito separadas. Não é hora de Beatriz fazer negócios (no escritório e na cama) com o prefeito Aderbal?
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