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Thiago Stivaletti

Longe da Globo, Isis Valverde entrega tudo como a cangaceira Maria Bonita em nova série

'Maria e o Cangaço', da Disney+, reconta a história da companheira de Lampião, dando ênfase ao papel das mulheres no movimento armado dos anos 1930

A imagem mostra uma criança com cabelo escuro e desgrenhado, vestindo uma camisa de listras claras, rastejando no chão de terra. Ela está com as mãos e os pés amarrados e parece estar em uma situação de desespero. Ao fundo, há um veículo grande, possivelmente um jipe, e um corpo de uma pessoa caída no chão, parcialmente visível.
Cena da primeira temporada da série 'Maria e o Cangaço', com Isis Valverde - Disney / Divulgação
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São Paulo

A história de Lampião e Maria Bonita é uma fonte inesgotável para o audiovisual. Quarenta e três anos depois de "Lampião e Maria Bonita" (1982), minissérie que renovou a dramaturgia da Globo, chegou a vez de a cangaceira ganhar o protagonismo em "Maria e o Cangaço", com Isis Valverde, que estreia no próximo dia 4, no Disney+.

Com direção-geral de Sérgio Machado ("O Rio do Desejo", "A Arca de Noé"), a nova série é inspirada no livro "Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço", de Adriana Negreiros.

As lutas sangrentas dos cangaceiros com os volantes (policiais) do governo de Getúlio Vargas estão lá em todos os episódios, garantindo a ação com a fotografia exuberante do sol do sertão criada por Adrian Teijido (de "Ainda Estou Aqui").

Mas o grande diferencial é mostrar como as mulheres exerciam papel fundamental no grupo, se ocupando de todas as tarefas domésticas, cuidando dos doentes e feridos, mas sem quase nenhuma participação nas grandes decisões, inclusive na punição violenta a outras mulheres.

Mulher guerreira

Como estamos em 2025, é bem provável que a produção receba críticas por ter escalado Isis, atriz mineira de traços finos e nariz arrebitado, para o papel da baiana Maria Bonita, nascida no município de Santo Antônio da Glória, no norte da Bahia, mais tarde rebatizado de Paulo Afonso. É uma questão complicada.

Isis foi estrela da Globo por muitos anos e agora de Hollywood –no próximo dia 3, estreia nos cinemas "Código Alarum", filme de ação que fez com Sylvester Stallone. Sendo assim, vê-la como Maria Bonita certamente vai ser o maior atrativo para assistir à série.

Ter uma atriz nordestina no papel seria talvez o mais justo, mas Isis encarna a cangaceira com toda força, usando uma prótese que deixou seus dentes da frente mais longos e amarelados. E para compensar o deslocamento, ela e o elenco exibem uma prosódia impecável, rica no vocabulário do Nordeste dos anos 1930.

Ao seu lado, Júlio Andrade transmite só com o olhar fulminante toda a autoridade de Lampião, numa atuação que é uma homenagem à de Nelson Xavier na série de 1982. Vale lembrar que este já é o quarto grande personagem "real" do ator, depois de viver Gonzaguinha, Paulo Coelho e Betinho.

Histórias paralelas

Além de Maria Bonita e Lampião, "Maria e o Cangaço" dá ênfase a outro casal do grupo que entrou para a História, Corisco e Dadá –vividos por Chico Diaz e Dira Paes num filme de 1996. Corisco também é lembrado pela interpretação voraz de Othon Bastos no maior clássico do cinema brasileiro, "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), de Glauber Rocha.

No episódio 5, também é lembrada outra passagem célebre: a entrada no grupo do fotógrafo libanês Benjamin Abrahão, responsável pelas únicas imagens feitas da turma de Lampião –imagens publicadas na imprensa do Brasil e no exterior que incomodaram o governo. O episódio foi tema de um dos grandes filmes da Retomada do cinema brasileiro, o pernambucano "Baile Perfumado" (1996).

Se há uma lacuna em "Maria do Cangaço", ela é a mesma que aparece em outras obras. Em nenhum momento se explicam os motivos que originaram o movimento. Foi a extrema pobreza do sertão, a seca e o descaso do governo e dos latifundiários que levou ao movimento, tido como resistência armada à esquerda e puro e simples banditismo à direita.

O grupo de Lampião (ou bando, dependendo do ponto de vista) ficou conhecido pela extrema violência contra seus adversários. Não tem jeito: depois de terminar a série, é preciso recorrer aos livros e à internet para saber mais.

"Maria e o Cangaço"
Estreia dos seis episódios na próxima sexta (4), na Disney+

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Foi repórter na Folha de S.Paulo e colunista do UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow)

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