Thiago Stivaletti

'Dupla Identidade', ou como prender o espectador só uma vez por semana

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Depois da minissérie "O Rebu", que teve mais qualidade do que repercussão, a Globo fecha o ano com outro grande acerto fora das novelas: a série "Dupla Identidade", que acabou na última sexta-feira (19).

A emissora andava apanhando nesse formato semanal para contar uma história que se estende ao longo de muito tempo. Programas como "Tapas & Beijos" e "A Grande Família", com episódios fechados em si, são mais fáceis de fazer. Mas como prender o interesse ao longo de três meses com um capítulo por semana?

No início do ano, a experiência da série policial "A Teia", estrelada por Paulo Vilhena, não deu muito certo. A trama era tão cheia de reviravoltas que teria sido melhor exibir à maneira de "O Rebu", diariamente.

Mas os crimes do psicopata Edu (Bruno Gagliasso) deram certo no formato: a cada semana uma nova vítima, enquanto algumas outras tramas rolavam em paralelo, como a aproximação com Ray (Débora Falabella) e o caso entre os investigadores Dias (Marcello Novaes) e Vera (Luana Piovani). E o que foi a cena do pesadelo da cadeira elétrica no episódio final, com as vítimas assistindo a execução de Edu? Melhor impossível.


Foi de longe o melhor trabalho da carreira da Glória Perez, sem tempo para os exotismos bizarros de marroquinos ("O Clone") ou indianos ("Caminho das Índias"). E olha que não deve ter sido fácil pesquisar sobre serial killers para alguém que teve a filha, Daniella Perez, morta a tesouradas num crime planejado em 1992.

A maior inspiração de Glória Perez foi Ted Bundy, um dos maiores psicopatas americanos, sobre o qual Glória escreveu bastante no blog da série (http://gloriaperez.com.br/duplaidentidade).

Três pontos altos da série: a atuação impecável de Gagliasso, que mesmo baixinho conseguiu se transformar num mostro assustador, passando com facilidade da sedução ao tom mais sinistro. A direção cheia de tempos mortos, com longas sequências cheias de silêncio, em que Edu tomava seu tempo em casa para revisitar uma cabeça decepada ou escutar gravações de gritos de horror das suas vítimas. E a trilha sonora, que combinou a trilha incidental composta especialmente para a série por Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, com boas pérolas de punk rock.

O ponto fraco, pra mim, foi Luana Piovani. Com uma voz automática de secretária eletrônica, ela não contribuiu para fazer de Vera nem sombra de uma Jodie Foster em "O Silêncio dos Inocentes".

Glória Perez deu a entender no Twitter que haverá uma segunda temporada - mas ela cuidaria só da supervisão, já que precisa escrever sua próxima novela. A Globo ainda não confirma. Não sei - às vezes acho melhor encerrar uma boa série assim, no auge...

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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