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Rosana Hermann
Descrição de chapéu Livros

Gentil, doce e genial: Quem é assim no meio artístico? Antonio Cicero era

Quais celebridades de hoje, que não saem das manchetes dos portais, mereceriam ser chamadas de 'a pessoa mais correta' como o poeta carioca?

Um homem está sentado em um sofá verde claro em uma sala com estantes cheias de livros. Ele usa uma camisa roxa e tem cabelo grisalho
Retrato do poeta e escritor Antonio Cicero em sua casa, no Humaitá, Rio de Janeiro - Zô Guimaraes/Folhapress
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São Paulo

A sabedoria popular sempre descreveu com ironia o hábito de elogiarmos as pessoas que deixam a vida na Terra, daí o dito: "Depois que morre, todo mundo vira santo".

De fato, existe uma tendência ao exagero na hora de enaltecer os que se vão, mas esse não é o caso de Antonio Cicero, o poeta, filósofo e letrista que escolheu partir desse mundo para manter a dignidade com a qual viveu.

A carta de despedida que Antonio deixou, as palavras que recebeu de seus amigos e admiradores mais próximos, mostram o quanto ele era uma pessoa rara.

Caetano Veloso falou do amigo como uma das pessoas mais corretas que já conheceu. Adriana Calcanhotto se referiu a ele como um doce príncipe, nobre, inteligente, íntegro. Leo Jaime o descreveu como um gênio elegante e gentil. Nelsinho Motta sintetizou a formação de Cicero como filósofo e compositor como "um erudito pop".

De fato. Os cérebros de muitos de nós estão povoados de versos que ele escreveu para as canções que criou com sua irmã, Marina Lima. Era uma pessoa extremamente culta, que lia em grego e em latim.

Quem conhecia Antonio Cicero e sua obra certamente compartilha desses elogios não apenas à sua obra, mas à sua pessoa.

Os que nunca se atentaram à sua existência talvez questionem até mesmo a decisão consciente de Antonio de escolher sua forma de morrer por não entenderem a profundidade de suas palavras: "O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo."

A esses que não compreendem esse luto coletivo, que acreditam que estamos todos exagerando em nosso lamento, deixo uma pergunta:

Quem mais, entre todos os famosos, é, ao mesmo tempo, popular e erudito, inteligente e amoroso, culto e gentil, doce e genial? Ou, se não tudo isso, quem são as celebridades de hoje, essas que não saem das manchetes dos portais, que mereceriam ser chamadas de "a pessoa mais correta que já conheci"?

Se você pensar em todos os grandes influenciadores com dezenas de milhões de seguidores em suas redes, quantas poderiam ser chamadas de pessoas totalmente corretas, extremamente dignas e talentosas?

Não vou entrar na questão da erudição, porque a injustiça social em nosso país é tão grande que são poucos os que puderam se dar ao luxo de estudar. Mas quantas celebridades, num mercado que vê o barraco como ferramenta de engajamento, seriam descritas como pessoas doces e gentis? Quantas são realmente geniais?

Antonio Cicero viveu e morreu com dignidade.

Que a palavra dignidade possa ser a bússola que norteia nossos passos e nossas escolhas, do começo ao fim.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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