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Rosana Hermann
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Em redes sociais, nem rei pode descansar em paz

Todos quiseram publicar alguma opinião, experiência ou lembrança com Silvio Santos, mas houve excessos

O apresentador Silvio Santos - Gabriel Cardoso/Divulgaçao SBT
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São Paulo

Logo que o falecimento de Silvio Santos foi anunciado e todos os meios de comunicação se apressaram para publicar sua história, entrevistar artistas e dar informações sobre a família, um amigo que trabalha no meio digital comentou em um grupo de WhatsApp:

"Pode anotar o que vai acontecer nas redes sociais: primeiro, vão fazer 'auto-homenagem' póstuma (que é quando as pessoas falam mais sobre si do que sobre o falecido); depois, vão enaltecê-lo e, em seguida, criticá-lo e apontar todos os seus defeitos".

Dito e feito. Meu amigo acertou tudo, mas com uma ressalva: aconteceu tudo o que ele disse, só que, ao mesmo tempo.

Enquanto as emissoras de rádio e TV interrompiam suas programações e rendiam homenagens a Silvio Santos como o "Rei da Televisão" e os meios jornalísticos digitais publicavam seus obituários semi prontos e escalavam colunistas, funcionários e fãs do comunicador para depoimentos, as redes sociais ferviam.

Todo mundo queria publicar alguma opinião, experiência, lembrança ou falar de sua relação com a vida e a obra de dono do SBT. E, claro, não faltou material, já que ele foi o mais longevo de todos os comunicadores. Provavelmente não existe um brasileiro adulto que não tenha assistido Silvio Santos na TV ou não conheça qualquer uma das famosas musiquinhas e vinhetas de seus programas dominicais.

Também não faltaram excessos. Se, de um lado, muitas pessoas em redes sociais praticamente canonizaram o animador, de outro, alguns perfis fizeram questão de destacar a relação do empresário Senor Abravanel com os militares, com os diferentes governos e até os momentos de falta de cortesia no trato com algumas de suas colegas de trabalho.

Não tiro a razão de ninguém nem passo pano para quem quer que seja. O ponto aqui é a virulência com que as coisas são ditas, a total falta de respeito diante de um momento de comoção nacional em relação a um personagem que, sim, foi um ícone, um mito da TV e que, independentemente de nossa opinião, era amado por milhões de brasileiros para quem o Programa Silvio Santos era fonte de entretenimento e de alegria. Durante décadas.

O problema é que as redes sociais, que prometiam ser ponto de encontro, informação, diversão, opinião e criatividade, transformaram-se em arenas de ataques gratuitos, de azedume infinito e chorume insuportável. Isso sem contar os anúncios de apostas, as publis de joguinhos de azar, as tentativas de golpes e as constantes fake news. Todas as redes estão assim, algumas mais outras mais ainda.

No coliseu das redes sociais, ninguém presta, ninguém tem razão, ninguém merece sequer ser ouvido. Todos são expostos em suas piores versões, são sumariamente julgados e condenados sem direito à defesa e jogados aos leões.

Porque o ódio gera engajamento e todos estamos lá apenas para isso. Para fazer sucesso e conquistar fama, mesmo que para isso tenhamos que sacrificar pessoas diariamente como oferenda para nosso novo deus, o Algoritmo.

Silvio Santos marcou realmente o fim de uma era. A era atual, a digital, trocou o 'sorrir e cantar' por 'mentir e atacar'. Uma pena. Porque continua valendo que, do mundo, não se leva nada.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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