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Rosana Hermann
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Chico Buarque, crush de toda uma geração

Ele é escritor, cantor, joga futebol e é um defensor da democracia. Só por isso, já mereceria ser um grande ídolo

Eduardo Knapp/Folhapress
Chico Buarque - Folhapress
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O Brasil está celebrando os 80 anos de um dos maiores compositores da nossa história. Isso sem falar que ele é escritor, cantor, joga futebol e é um defensor da democracia. Só por isso ele já mereceria ser um grande ídolo. Mas, além de tudo isso, Chico Buarque sempre foi um homem lindo. Gato. Daquele tipo que finge que não liga e nem sabe que é bonito justamente por ser tímido.

Claro, os jovens que o conheceram há pouco não vão entender. No máximo, vão concordar que ele era fofinho, a julgar por seu famoso meme de duas fotos, uma em que ele está feliz e outra em que ele está sério, que estavam na capa do seu primeiro álbum. Sim, em 1966 ouvíamos discos de vinil, chamados de LP(Long Play) e que vinham dentro de uma capa de papelão. O próprio Chico Buarque já comentou o meme que chamou de "absurdo".

E, não, não estou supondo que pessoas de 20 e poucos anos não conheçam Chico Buarque, eu tenho provas. Li um tweet do jornalista Diego Salgado contando que ele trabalha com três pessoas com idades em torno dos 24 anos numa sala de comunicação. Ao chegar de manhã ele comentou que era aniversário do Chico e eles perguntaram se ele estava falando do Chico Moedas. Conflito de gerações que chama.

Fato é que nós, adultos maduros, que sobrevivemos aos 21 anos de ditadura militar no Brasil (1964 a 1985), acompanhamos toda a vida e a obra de Chico Buarque de Hollanda, desde os grandes festivais, passando por todas as canções censuradas, os shows, as canções para o teatro, os temas de filmes, de novelas, as composições feitas no exílio, suas filhas com sua então mulher, a atriz Marieta Severo.

E, aqui, preciso abrir um parêntese. Marieta Severo. Todas nós, brasileiras baby boomers (nascidas no pós guerra, entre 1945 e 1964), sofríamos com o fato de Marieta Severo ser a mulher de Chico, porque ela ocupava o posto que todas nós queríamos. Sim, toda mulher da minha época era apaixonada por Chico Buarque. Ele era o crush de toda a minha geração e, talvez, da geração seguinte. O problema é que além de sentir ciúme e inveja de Marieta, também sentíamos muita culpa por isso, porque além de tudo ela era legal e excelente atriz. Mesmo assim, tínhamos esperança de um dia conquistá-lo. Porém, como eles ficaram juntos por 33 anos (de 1966 a 1999), acho que desistimos coletivamente. Entramos no ano 2000 sem Chico e sem bug do milênio.

Hoje, entendemos que não era só a figura de Chico Buarque que nos encantava, mas sua alma, sua mente, seu talento, seus versos e melodias. Como é sabido, Chico sabe cantar o feminino como ninguém. Quando fala de amor e desamor, de encontro e desencontro, de felicidade e de dor, de saudade, de maternidade, de abandono, ele canta o que a gente sente. Pelo que vejo em suas entrevistas, nem ele sabe como isso acontece. Mas acontece.

Hoje, Chico está novamente casado, feliz, saudável, celebrando com a família esse marco de 80 anos em Paris. E nós, todos nós, estamos aqui no gargarejo, comemorando, aplaudindo e agradecendo. Não sei dizer o que seria de nossas vidas sem a obra de Chico Buarque. Uma grande parte dos arquivos de minha memória contém as letras de todas as canções de Chico que sei cantar. Canções que foram trilha sonora, alento, remédio e cura para muitos males vividos.

Por tudo isso, só tenho duas palavras a dizer nesse marco de oito décadas de Chico: parabéns e muito, muito obrigada ao crush mais coletivo e duradouro de nossas vidas.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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