Geisy Arruda, Diones Coelho e a influência do limão
Ambos ficaram conhecidos por momentos trágicos, mas viraram o jogo e angariaram recursos
Se você perguntar para o ChatGPT quem é Geisy Arruda, ele vai responder com um texto de três parágrafos muito claros e corretos.
No primeiro, ele diz que Geisy é uma personalidade da mídia brasileira que ganhou notoriedade em 2009 quando foi hostilizada por outros estudantes na universidade onde cursava turismo por ter usado um vestido curto. O texto não menciona que o vestido era rosa, mas isso todos nós sabemos. O ChatGPT também diz que esse episódio levantou um grande debate público sobre assédio moral e sexual, machismo e liberdade de expressão. Verdade também.
Em seguida, ele conta que a partir desse episódio ela passou a ser uma figura frequente na mídia brasileira. Participou de muitos programas de televisão, reality shows, fez publicidade e que, hoje, tem grande presença nas redes sociais.
E tem mesmo. Não tinha me dado conta, mas, nesses 14 anos, Geisy Arruda amealhou 5 milhões de seguidores só no Instagram. É mais que o dobro do que tem o Paulo Vieira. É quatro vezes o número de seguidores de Fernanda Montenegro. O resumo não menciona nada sobre sua conta no OnlyFans, mas hoje Geisy também trabalha como produtora de conteúdo adulto.
No final do texto, o ChatGPT dá uma de isentão ao lembrar que, enquanto figura pública, ela tem sido tanto criticada quanto apoiada por suas ações e declarações. Fato é que ela construiu uma trajetória rentável e sólida a partir de um fato horrível, de ter sido vítima do machismo estrutural, do conservadorismo e do moralismo da nossa sociedade. Geisy deu a volta por cima e virou influenciadora.
Algo semelhante aconteceu com Diones Coelho, o motorista de aplicativo que, há três meses, atropelou Kayky Britto na orla da Barra (zona oeste do Rio). Kayky atravessou a avenida de forma imprudente, e Diones o atropelou. Em seguida, agiu de forma correta, socorrendo o ator.
O público reagiu de forma empática com Diones, que teve seu carro danificado e não tinha como trabalhar. As doações chegaram rapidamente, Diones comprou um carro novo, ganhou notoriedade e dezenas de milhares de seguidores. Em seguida, aproveitando sua fama, começou a fazer alguns trabalhos publicitários, fez uma harmoniação facial.
O ChatGPT não trata Diones como influenciador, mas ele próprio parece ter adotado esse caminho. E vai além: Diones disse que pretende entrar para a vida política, candidatando-se a vereador. Depois disso, recebeu algumas críticas e rebateu, dizendo que a maioria das pessoas que o criticam, se tivessem as oportunidades que ele teve, também tirariam proveito disso.
Não há como prever se Geisy vai fazer uma carreira longa, se sempre vai ser assunto ou se, com o tempo, vai sair dos holofotes. Também não há como prever se Diones vai mesmo fazer uma carreira na política ou vai produzir conteúdo religioso.
O que sabemos é que eles partiram de momentos trágicos, viraram notícia, ganharam destaque, conquistaram seguidores e se valeram desse capital humano para angariar recursos. Em outras palavras, fizeram dos limões que a vida lhes deu, limonadas públicas que os alçaram ao patamar de influenciadores.
E, como fomos nós enquanto sociedade que os tornamos famosos, não adianta fazer críticas ácidas ou azedas. Melhor aceitar a "influência do limão", um novo fato dos nossos tempos.
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