O Brasil está mais moralista ou as pessoas estão mais exibidas?
Quem julga e determina o quanto exatamente alguém pode se exibir?
Um dos comerciais mais famosos de toda a história da propaganda brasileira propõe uma pergunta sobre um pacote de bolacha (ou biscoito, dependendo de onde você mora): vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais?
A pergunta é um "koan", uma espécie de enigma budista que nos leva à reflexão em vez de buscar uma resposta.
Pois eu tenho um koan para você, que só tem relação com biscoito no sentido de elogio:
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O Brasil está mais moralista porque as pessoas estão mais exibidas ou as pessoas estão mais exibidas porque o Brasil está mais moralista?
E se você acha que estou perguntando isso por causa do video da mãe que dançou funk de vestido transparente na festinha da filha, acertou em parte. Porque também tem a ver com o fato de a Debora Secco ter convidado Giovanna Ewbank para um ménage-à-trois, com todas as fotos sensuais da Simaria, com as tatuagens íntimas da Anitta, com os seios da Marina Ruy Barbosa à mostra em Cannes e com todas as famosas sempre noticiadas por "mostrarem mais do que deveriam".
A pergunta que surge em seguida é: "Ah, é? E quanto exatamente elas deveriam mostrar? E quem julga e determina quanto exatamente se deve exibir para saber que elas ultrapassaram esse tal 'limite'?".
Estamos no ano de 2023, com robô transmitindo imagens ao vivo de Marte, foguetes prontos para dar mais um rolê na Lua, inteligência artificial bombando. Jura que as pessoas ainda se inflamam porque uma mulher comum, vivendo sua vida, deixa seus seios semivisíveis atrás de um tecido transparente enquanto rebola? Não é por nada, mas o meme dos "mamilos são polêmicos" é de 2011, sexo grupal provavelmente ocorria antes de os humanoides inventarem uma linguagem e, pelos cálculos do ChatGPT, humanos passaram metade da sua existência pelados, sendo que muitos ainda vivem assim em diferentes pontos do planeta.
Eu compreendo que, dependendo da cultura, religião, crença, ideologia e criação, pessoas podem se incomodar com a nudez alheia, com as preferências sexuais dos outros. Mas quem se sente assim sempre tem a chance de ignorar esses fatos. O que não parece correto é atacar pessoas que estão apenas exercendo seus direitos individuais dentro da lei.
Todo mundo pode ver o vídeo, formar uma opinião ou perguntar "É de bom tom?" e responder "não", mas isso não dá a ninguém o direito de atacar pessoalmente a mulher, até porque ela publicou o vídeo nas redes dela, não nas nossas. E vê quem quer, ninguém foi amarrado com os olhos abertos à força à la "Laranja Mecânica" e obrigado a ver essas imagens.
É verdade que eu também opino sobre a vida e o vídeo alheio e também me incomodo com muita coisa. Mas quando faço isso estou errada também. Deixa a mulher se exibir. Deixa o trio se curtir. Deixa a vida acontecer. Abra mão de opinar sobre tudo, acompanhar tudo, estar em dia com tudo. E, quando estiver com a mão aberta, aproveita e a bota na consciência e admita. Não é verdade que estamos "preocupadíssimos" com o que a filha da mulher vai pensar desse fato quando ela for adolescente. A gente nem vai se lembrar desse vídeo no mês que vem. Ou na próxima semana.
Só acho muito incoerente esse moralismo atual do Brasil. Que se incomoda com o futuro da criança do vídeo mas não liga pras crianças morando na rua. Que condena corpos nus, mas aceita corpos mortos por balas perdidas.
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