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Rosana Hermann

Famosos tão pobres que só têm dinheiro

Exibir dinheiro é cafona e pequeno

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E lá se vão mais de dez anos desde que McGuimê contava seus "plaquê de cem dentro do seu Citroën". O vídeo, um sucesso estrondoso para a época, marcava o Funk Ostentação, um estilo que celebrava abertamente a ascensão social que o gênero musical permitia. Exibir motos, carrões, cordões de ouro, dinheiro e champanhe que pisca era levantar com orgulho (e até provocação) o troféu da conquista material, numa sociedade que sempre escanteou jovens de baixa renda. Basta lembrar dos rolezinhos de 2013 que causavam desespero na elite, quando meninos da periferia chegavam em grupos aos shoppings de luxo da cidade de São Paulo.

Uma década depois, a ostentação explícita deixou de ter um sentido social. Artistas, influenciadores e produtores de conteúdo que faturam alto preferem mostrar suas fortunas num contexto de estilo de vida, exibindo viagens, mansões, joias e até aviões, mas sempre sob o manto da "gratidão", da "gratiluz". Ninguém mais esfrega dinheiro na cara dos fãs. Ou melhor, quase ninguém. Porque pelo menos duas "famosas" fizeram isso.

A primeira foi MC Melody, que há poucos dias apareceu numa foto ao lado de seu pai e de sua irmã, dentro de um jatinho, exibindo notas de dinheiro saindo de uma recheada maleta. Na legenda, o pai de Melody, Belinho, que também é empresário da filha, postou uma legenda dizendo "Tudo é possível quando vc acredita" com a mais famosa das hashtags dos meritocratas esotéricos: #leidaatração.

MC Melody expõe notas de dólares em jatinho com pai e irmã
MC Melody expõe notas de dólares em jatinho com pai e irmã - @belinhooficial no Instagram

Depois de muitos comentários negativos, Melody disse que era "zoeira", que ela gosta muito de brincar. Tanto faz se a foto era uma brincadeira ou não, o cenário escolhido e a pose combinada foram calculados para passar a visão de quem está "por cima", ostentando riqueza, não de forma sutil, mas através do clichê dos "leques de dólares".

O segundo exemplo é o da influenciadora Virginia Fonseca. Virginia costuma não só exibir seus bens e suas viagens como abrir os números do faturamento de sua empresa e até das vendas em tempo real. Quer dizer, ela ostenta não só como pessoa física mas como pessoa jurídica. Em sua defesa, pelo menos ela não tem nada a esconder do Imposto de Renda.

Mas, se mostrar o avião novo do marido Zé Felipe ou sua viagem para Dubai tem seu lado glamouroso para os fãs, o presente de aniversário que Virginia deu para sua mãe, que em dezembro de 2021 completou 56 anos, foi bem questionável. Na ocasião, Virginia escreveu "Parabéns" em cima da cama da mãe, com notas de R$ 100 formando as letras, num total de R$ 56 mil, ou seja, R$ 1.000 para cada ano de vida. E disse que era apenas um "lembrancinha".

Que fique claro que o dinheiro é dela, a mãe é dela e Virginia pode fazer o que quiser. Mas fica a dúvida sobre o bom gosto estético (e sanitário) de esparramar notas de papel moeda, que correm por tantas mãos, em cima do lençol da cama.

Em 2022, Pedro Scooby também postou uma foto em seu perfil no Instagram com muitos pacotes de dinheiro, para divulgar o clipe do amigo e rapper L7nnon. Foi tão atacado nos comentários que rebateu dizendo que "não é pecado ser rico", mas acabou apagando a foto de seu perfil.

Todos nós vivemos numa sociedade capitalista, trabalhamos para ganhar dinheiro e, de fato, tendo origem lícita não tem absolutamente nada de errado em possuir e fotografar notas de dinheiro, sejam reais, dólares ou euros. Mas é cafona. É pequeno. Porque não é medida de sucesso, de talento, de sabedoria, de afeto, de humanidade, de bom gosto. E, certamente, não é certificado de superioridade e muito menos uma "prova" de que a pessoa deu certo na vida porque mereceu. Quem pensa assim não entendeu nada da vida e pode ser descrita por aquela famosa frase popular que diz: "Era tão pobre que tudo o que tinha era dinheiro".

Os ricos de espírito entenderão.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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