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Rosana Hermann

Para Klara Castanho, desejo todo o amor e toda a justiça do mundo

Não é admissível expor, julgar e condenar uma pessoa que foi vítima

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Em minha longa carreira em comunicação —em rádio, TV e internet— já vi e ouvi muitas fofocas, boatos, indiretas e maldades, de todos os tipos. Em várias ocasiões, trabalhei ao lado de profissionais especializados em celebridades que contavam coisas impublicáveis para os colegas da Redação. Lembro de um caso em específico que me abalou muito.

Durante um almoço de trabalho, um colega comentou que tinha uma informante na casa de um artista e que essa funcionária contava coisas que ouvia na intimidade da família e até em conversas por telefone, que teriam um potencial "explosivo". O colega disse que não publicaria nada porque não tinha provas concretas. Mas e se tivesse, por exemplo, uma gravacão? Seria ético publicar intimidades obtidas assim? Se a pessoa não cometeu nenhum crime, se não é uma delação, para que fazer isso? Com que direito alguém pode invadir e expor detalhes da vida privada de alguém?

E é aqui que quero começar a falar sobre a violação de intimidade absurda que a querida Klara Castanho sofreu no ano passado, quando um fato doloroso e absolutamente privado de sua vida íntima foi exposto a todos, contra a vontade da atriz. Klara se viu obrigada a escrever uma carta aberta em seu Instagram, relatando toda a sequência de violências a que foi submetida: um estupro, que resultou numa gravidez indesejada e que ela só descobriu no final da gestação, a decisão com apoio da lei de entregar o bebê para adoção imediatamente após o parto, a falta de ética de quem vazou as informações para imprensa e a crueldade imperdoável de todas as pessoas envolvidas que tornaram essa história pública em lives, em entrevistas, em colunas, gerando todo tipo de julgamento e condenação, antes mesmo de saber a verdade. Algumas das pessoas cruéis que condenaram a atitude de Klara nem sabiam que sua gravidez foi gerada por estupro.

Tudo isso aconteceu há quase um ano, em maio de 2022. E só recentemente Klara falou sobre o episódio. Escolheu o programa mais acolhedor e amoroso da TV aberta, o Altas Horas, comandando por uma das pessoas mais humanas e gentis do meio, Serginho Groisman. Pela primeira vez ela se pronunciou sobre todo o caso. Logo na abertura, quando Klara falou, desabei em lágrimas. Queria entrar na TV e abraçá-la. Tenho certeza de que todas as pessoas que assistiram ao programa sentiram o mesmo. Vi e revi o programa e chorei todas as vezes. Que violência sofreu essa menina tão jovem, tão talentosa, tão digna.

Klara Castanho chora ao relembrar estupro durante gravação do programa Altas Horas (Globo), apresentado por Serginho Groisman
Klara Castanho chora ao relembrar estupro durante gravação do programa Altas Horas (Globo), apresentado por Serginho Groisman - Reprodução/TV Globo

A partir de todo o amor e acolhimento que Klara tem recebido, ela vai se reerguer, se reestruturar e começar, como ela mesma disse, uma nova etapa de sua vida.

Mas, neste caso, amor só não basta. É preciso que a justiça seja feita. Para que violações de intimidade assim não mais aconteçam. Para que as pessoas não achem que seja admissível expor, julgar e condenar covardemente uma pessoa que foi vítima.

Para Klara, desejo todo amor e toda justiça do mundo. E, para cada um de nós, desejo mais consciência para entendermos que nenhum clique, nenhum view, nenhuma like, nenhum hit vale uma vida.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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