Emissoras se preocupam com proposta de Haddad de restringir publicidade de bets na TV
Casas de apostas esportivas são consideradas importantes para a saúde financeira dos canais
Pelo menos três das cinco maiores emissoras do Brasil estão preocupadas com a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre restringir ao máximo a publicidade das bets em programas de TV aberta. Record, Band e RedeTV!, que têm vários negócios com as casas de apostas, são as que mais temem as mudanças.
As emissoras esperam ser chamadas para discutir a questão em algum momento. A ideia é apresentar seu ponto de vista sobre o assunto ao governo.
A TV de Edir Macedo tem na Betano, bet que está no Brasil desde 2019, um de seus cinco maiores anunciantes, com acordos para programas como A Fazenda 16 e transmissões de futebol.
Já executivos da Band e da RedeTV! ouvidos pela coluna afirmam que ficará difícil viabilizar financeiramente transmissões esportivas sem o investimento das casas de apostas. Eles dizem que, atualmente, apenas essas empresas pagam valores que viabilizam o lucro com direitos de transmissão de partidas.
A Globo tem observado o movimento com cautela e espera os próximos passos do governo. Hoje, a maior emissora do país tem bets como anunciantes. Elas patrocinam, por exemplo, jogos do Campeonato Brasileiro e reality shows, como o BBB.
O motivo da cautela da Globo são os dados de participação das bets no mercado. Levantamento obtido pela coluna mostra que, ao contrário do que se poderia imaginar, elas ainda ocupam pouco espaço nas emissoras, exceto em horários ligados ao esporte.
Realizado pela plataforma de monitoramento de campanhas publicitárias Tunad, o estudo mostra que as bets representara 3% dos anúncios realizados em comerciais na televisão brasileira aberta. A pesquisa inclui comerciais na Globo, na Record, no SBT, na Band, na TV Cultura e na RedeTV! entre janeiro e julho deste ano.
O número cresce de maneira considerável quando se considera apenas intervalos de programas ou eventos esportivos, chegando a 30% dos intervalos em julho. Ou seja, de cada cinco comerciais nessa área, metade deles eram de bets.
O ministro Fernando Haddad disse na última terça (1º) que é urgente tomar providências para restringir a publicidade de casas de apostas esportivas. A questão foi discutida em reunião com representantes do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária), da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e da AIR (Associação Internacional de Radiodifusão).
"A gente entende que é urgente uma tomada de providências para evitar esse assédio televisivo, de meio de comunicação", afirmou Haddad para a Folha.
Após o encontro, o presidente da Abert, Flávio de Lara Resende, disse que foi acordado na reunião que somente serão veiculadas publicidades de bets presentes na lista de autorizadas pela Fazenda. "Não faremos em nenhuma hipótese publicidade de empresas que não sejam regulares", disse aos jornalistas após a reunião.
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