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Krishna Mahon
Descrição de chapéu Sexo casamento

Dá quem pode e recebe quem tem juízo

Estou falando de afeto, mas no duplo sentido a frase fica melhor ainda

Obra do artista Victor Gáspari - @narizcoletivo
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"Manda quem pode, obedece quem tem juízo" é uma das frases mais burras que já ouvi. Quem cai nessa bate palma para chefe incompetente em vez de contribuir com o que tem de mais brilhante e criativo em si: um olhar fresco ou diferente para a resolução de problemas.

Dá quem pode, recebe quem tem juízo. Que tal geral combinar de trocar aquele ditado por esse? Assim a gente fica mais aberto/atento ao afeto, independentemente da forma que ele venha.

Tenho uma irmã que não assistiu às séries e documentários que fiz (nem mesmo depois de estrearem na Netflix), não lê essa coluna, quase não curte nem comenta minhas postagens no Instagram, mesmo depois de eu ter explicado que isso ajuda com o algoritmo; mas ela certamente me daria um rim, e talvez até me ajudasse a esconder um corpo caso eu matasse alguém, rs.

Levo esculacho toda vez que encontro meu amigo Pedro Guerra. Ele, a Tati e a Dani viraram os amigos que mais encontrei a partir do apocalipse, vulgo pandemia. Não importa quão ferrada eu esteja de tempo, ele sempre vai encontrar uma forma de dizer que sou péssima amiga. O ditado popular garante que o mineiro só é solidário no câncer. Porém, nem o da mamãe me aliviou dos esculachos.

Queria ser a amiga que leva sopa quando a pessoa está doente, que compra presente ou faz bolo nos aniversários, mas sou das que vai no cartório, correio, que vai ajudar a carregar mudança, a arrumar emprego e a que vai estar lá quando for preciso.

Seja qual for o motivo, nunca todo mundo vai dar tudo que você quer, muito menos da forma que você espera. Isso vale para pai, mãe, família, amigos e, principalmente, krush. Mas a sua reação ao afeto dado, mesmo que seja de forma meio cagada, ou só um tiquinho, tipo amostra grátis, pode tornar o mundo um lugar melhor. Imagina se a gente emanasse amor de volta para cada afeto recebido; ou então se percebêssemos, como Spinoza, que (querer) o melhor para nós mesmos não está dissociado de querermos que todos sejam mais alegres quanto possível, muito pelo contrário, esse é o melhor cenário possível.

Sabemos que, nesse mundo, afetos e as reações que eles desencadeiam podem causar inseguranças, como, por exemplo, "ah, se eu for fácil demais o krush não vai me querer"; "se eu responder muito rápido vai parecer desespero"; "e se eu me declarar e tomar um toco?". Só que é triste fazer miserê afetivo por medo de rejeição, apesar de que também é muito ruim dar pérolas aos porcos, mas quem nunca?

Sei que parece perigoso sair distribuindo amor por aí. O bom de vir de uma linhagem de trouxas é que não preciso de ajuda de krush ou de colega de trabalho que puxa o tapete, nem ninguém para ser besta, eu mesma me coloco nesse lugar. E isso me ajuda no sentido de não titubear diante da dúvida: dar ou não afeto? Tendo a dar.

Talvez o legal seja estar atento e ler, na medida do possível, se o krush também tem afeto para dar. Porque o krush pode não ter, por inúmeras questões que não nos dizem respeito, ou então até tenha um oceano de amor, mas no máximo nos jogue algumas gotinhas. Juro que escrevi sem duplo sentido, mas, lendo aqui, depois pareceu meio pornográfico esse trecho, o que definitivamente não é um problema para mim, e também não deveria ser para você, caro leitor.

A Phoda Madrinha te deseja menos gastura. Sim, gastura de não saber se o krush te quer ou não, e, principalmente, gastura de tempo, de energia de vida, em pessoas ou coisas que não valem tanto a pena. Cada um dá aquilo que pode, e a gente não pode parar de dar. Sim... na dúvida, dê, rs.

PS: Mais amor, por favor.

PS 2: As imagens dessa coluna estão na exposição do Victor Gáspari @narizcoletivo, na Pinacoteca de Jundiaí, que sofreu uma tentativa de censura essa semana.

Krishna Mahon

Jornalista e cineasta indicada ao Emmy, é apresentadora do SexPrivé Club da Band. Foi produtora da Discovery e diretora de conteúdo do History.

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