Confissões sobre uma experiência sexual: Só o cume interessa
Epi-fiofó-nia, a epifania que minha amiga teve através de um fiofó
Se me contassem essa história há uns anos atrás eu ficaria horrorizada; então, caro leitor, aviso que esse texto é sensível aos poucos rodados e às pessoas que, como disse Contardo Calligaris, já citado aqui na coluna, "querem proibir aos outros o que eles não conseguem proibir a si mesmos". Só recomendo a leitura a quem, em algum momento da vida sexual, se preocupou se o banho estava em dia, se estava peludo demais, se essa luz ressaltava a estria, a barriga, se o peito parecia vaca leiteira ao ficar de quatro, se isso ou aquilo era pequeno ou grande demais.
"Ele sabe que está muito acima da média no sexo", contou a amiga. Na hora soltei um "Pfff", a bufada francesa, e fiz o girar de olhos para cima, com o desdém que só o hétero topzera cis branco me causa; foram inevitáveis. A antropóloga e pesquisadora Helen Fischer entendeu nos seus estudos que o cérebro da pessoa apaixonada pode ser comparado ao de um dependente químico, então imaginei minha amiga cracuda pelo krush por vibrar como Pepe Le Pew com a gatinha. Eis que ela revela: "Não, Kri, ele é bi e eu comi o ku dele com uma cintaralho."
Minha amiga continuou: "Eu já tava derretida no primeiro beijo. Pensa num beijo bom". Pensei e suspirei. A gente fica feliz com o aumento de salário, com a cura de uma doença e, ainda, com os orgasmos dos amigos como se fossem os nossos, né? Deve ser por isso que eu amo as amigas vagabundas mais que as pudicas.
Era o segundo date quando minha amiga teve a epifania. Tudo começou quando eles estavam no "doggie style", mas quem tava de quatro era o cara. Ela estava empolgadaça comendo o primeiro fiofó em mais de 40 anos da sua existência, chegando ao olimpo de escaladores, alpinistas e de parte da humanidade que brada alegre à beça: "só o cume interessa"!
Para a amiga que passou a maior parte da vida casada e monogâmica, esse tipo de coisa não acontece, ou rola só nos sonhos mais remotos, ou na punheta ou vídeo, sei lá. E, como se tivesse encontrado Eldorado, essa amazona voltou para contar: "Kri, eu ali, o krush de quatro, senti o que praticamente todos os caras sentem, e a gente pre-ci-sa contar isso para a mulherada".
O caso do ku do cara tava tão sensacional que eu não tava só torcendo pelos próximos encontros, mas sim pensando na minha roupa de madrinha do casamento. Sim, eu me empolgo. Daí perguntei mais sobre ele, torcendo para conseguir achar alguma desculpa de peidorreiro que justificasse a possibilidade de encontro entre cabeça, coração e rabo. E como a vida de iludida é mais divertida, botamos as lentes amorosas que distorcem a realidade, e vimos o sujeito sob a melhor luz possível.
Enquanto um monte de hétero topzera tá preocupado com o tamanho do pau e do bíceps, esse krush dela era inteligente, culto, interessante, desconstruído (a ponto de ser bi), engajado com a causa feminista (sem ser macho palestrinha), entende as referências dela, gosta de cachorro, faz terapia, tem senso de humor, senso estético e consciência de classe.
"Kri, não sei se rolou uma conexão profunda, se o krush era isso tudo mesmo, ou se foi o impacto do primeiro ku; vai que primeiro ku a gente não esquece? Mas a gente passa a vida preocupada se tá feia, disfarçando espinha, se já tem que depilar, rezando para não peidar, morrendo de vergonha de peido de pepeka... E é tudo nóia nossa", minha amiga comenta esticando a cara a la "O Grito". "Quando você está ali e o krush tá de quatro –aquele krush, diga-se de passagem– nada mais importa."
Ela continuou contando como quem teve mesmo uma revelação: "Aquele detalhezinho marrom na camisinha da cintaralho deveria me causar nojo, né? Racionalmente falando, causaria, claro, mas lá na hora...". Rimos e concluímos que um tiquinho de nada de cocô não pode ser considerado uma merda, ao contrário, que era uma prova cabal, quase uma medalha de honra à sua sadafeza.
Eu ali orgulhosa da conquista da amiga pelo krush, por ter desbravado um fiofó, e mais ainda pela epifania (ou melhor, epi-fiofó-nia), aí ela olha pro horizonte, respira fundo e diz: "Krishna, quem não gosta de cheiro de pepeca, não gosta de pepeca. Quem reclama de cheiro de ku, não merece um ku. A gente precisa espalhar a palavra". E rimos muito.
Se a Amiga vai sair mais com o krush cardioanal? Não sei, mas torço que sim, desde que ele a queira muito também, porque krush bom é o que quer a gente.
PS: Homens, papo reto agora (duplo sentido aqui, por favor) não precisa ser bi para poder dar o ku, tá? Inclusive, estudos mostram que o personagem principal do prazer masculino é (ou deveria ser) a próstata, cuja entrada é bem ali pelo buraco negro, pelo olho de Thundera. A phoda dá a maior força para você se abrir às novas experiências e depois contar lá no confessionário do Instragram @krishnamahon
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