Alan Severiano fala sobre os 40 anos do SP1 e como enfrenta a concorrência
Âncora diz que Record não afeta pauta do noticiário, que será apresentado de diferentes lugares de SP na semana de aniversário
Âncora do SP1 desde 2021, Alan Severiano chegou à Globo em 2001, vindo da TV Cultura. A primeira reportagem, lembra ele à coluna, foi justamente no noticiário que apresenta desde o ano passado e que está completando quatro décadas no ar. A efeméride valerá a apresentação do jornal de diferentes locações da cidade, além de tributos musicais feitos por convidados e de momentos emblemáticos dessa trajetória.
De segunda-feira (3) a sábado (8) o telejornal será ancorado de centros culturais, estações de metrô, favela e praça pública. O noticiário promete reportagens e entrevistas especiais, além da participação de artistas que compõem um repertório eclético, como Alok, Demônios da Garoa, Orquestra Sinfônica Heliópolis, Pastoras do Rosário, Bixarte e o rapper Cocão Avoz, todos encarregados de customizar a trilha sonora do jornal.
A Globo também aproveita o aniversário para lançar no SP1 desta segunda novos recursos de interação no telão que abastece o âncora no estúdio, elementos que serão usados igualmente por outros noticiários feitos na sede paulistana.
A transformação da forma de nos comunicarmos nesses 40 anos, assim como a evolução da gastronomia de São Paulo e as mudanças trazidas pelos meios de transporte também estão na pauta do aniversário. O noticiário enfoca ainda o efeito da convivência entre várias religiões na formação do caldeirão cultural da cidade.
Em 40 anos, o SP1 já foi SPTV e SP-Já, tendo sido apresentado por um time de titulares encabeçado por Chico Pinheiro, o mais longevo âncora do noticiário, além de Cesar Tralli, Mariana Godoy, Patrícia Poeta, Carla Vilhena e Carlos Nascimento, o primeiro apresentador.
Confira o que nos diz Severiano sobre a efeméride, em uma troca de perguntas e respostas por escrito com a coluna:
Quando você chegou à Globo e como era o noticiário na época?
Alan Severiano - Entrei na Globo São Paulo em 2001, vindo da TV Cultura, e minha primeira reportagem foi justamente para o 'SP1' que, na época, era apresentado de um estúdio fechado, sem o janelão de vidro para a cidade. Lembro que fiquei impressionado com a correria diária para botar o jornal no ar na hora do almoço, e que continua a mesma hoje, 22 anos depois.
Quais os avanços que você enxerga no noticiário desde que chegou à Globo?
Severiano - Nesse período, o 'SP1' teve várias fases, equipes e apresentadores, mas manteve o foco nos acontecimentos da metrópole e na prestação de serviços, principalmente para a população mais vulnerável que luta todo dia com as carências de transporte, segurança, moradia, educação e saúde.
Quando cheguei, o dinamismo já era uma marca do jornal, com muitas entradas ao vivo do helicóptero, e os quadros de Márcio Canuto trazendo reclamações dos moradores e cobrando com humor providências das autoridades. O jornalismo comunitário ganhou outros formatos e abordagens ao longo dos anos, mas continua firme nas reportagens e entradas ao vivo que ganharam mais mobilidade com o avanço da tecnologia, equipamentos menores e transmissão via internet.
Hoje, é mais fácil chegar onde o assunto está, mostrar de perto, em tempo real, os dramas e as belezas de São Paulo. Nesse sentido, vejo uma evolução com o tempo: agilidade, reportagens maiores, mais profundas, apresentação mais informal e próxima do público. Há um ano, o SP1 aumentou de tamanho: ganhou mais 15 minutos antes do meio-dia, e passou a ter 1h15 de duração. É o único jornal da casa que começa com "bom dia" e termina com "boa tarde". Por isso, vivo trocando um pelo outro, o pessoal do estúdio tenta corrigir, e a gente acaba rindo juntos.
O comportamento do telespectador de 40 anos atrás não incluía internet. Como sente que isso foi impactando a elaboração do noticiário ao longo dos anos?
Severiano - Em 1983, quando o primeiro SPTV foi ao ar, quem imaginaria que hoje milhares de telespectadores assistiriam ao jornal pelo celular no ônibus, no restaurante ou na sala de espera de um consultório? É uma mudança profunda, e muita gente também passou a ver TV com outra tela na mão. Como toda transformação, isso gerou desafios e oportunidades.
No SP1, a participação do público pelas redes sociais é importantíssima, sugerindo reportagens e fontes, denunciando problemas, trazendo outros pontos de vista e nos ajudando a regular o tom das coberturas. Tem os haters, mas também tem críticas construtivas muito úteis. Na rotina do jornal, as sugestões de interesse público são checadas e, se confirmadas, viram assunto. Já aconteceu várias vezes, e isso é ótimo. Inclusive, faço questão de dizer ao vivo quando uma reportagem foi feita a partir de uma dica de telespectador. Ouvir as pessoas é a essência da profissão.
Diante da avalanche de informações na internet, mensagens, áudios, vídeos e fake news com que cada um de nós se depara todos os dias, penso que o diferencial do SP1 para quem quer se informar na hora do almoço é a credibilidade conquistada com o público nessas quatro décadas, o investimento em reportagens mais profundas sobre temas atuais, e a agilidade que ganhamos com a própria tecnologia.
As entrevistas pela internet que pipocaram na pandemia vieram para ficar e deram mais tempo às equipes para produzir as reportagens em campo. Hoje, incentivamos que as pessoas busquem informações adicionais sobre determinados assuntos na própria internet, no G1. Se alguém perde uma reportagem, pode rever no Globoplay, o que era impossível há 40 anos. A essência continua. O jornalismo profissional continua sendo fundamental para apurar os fatos, organizar, analisar, contextualizar e dar o peso que a notícia merece.
É um trabalho de equipe e de curadoria que, para mim, faz cada vez mais sentido. Sou repórter há 25 anos, estou há pouco mais de um ano e meio na apresentação do SP1. É um privilégio participar desse aniversário do jornal, que foi feito por centenas de profissionais ao longo dos anos, e que tanto me ensinaram. Continuo aprendendo.
Ainda que o SP seja líder, a concorrência no horário é forte. O conteúdo e formato do noticiário na Record interferem ou impactam de alguma forma na pauta do SP1?
Severiano - Posso dizer com segurança que não interferem. São propostas muito diferentes. Há muitos anos, o SP1 se mantém como líder isolado de audiência no horário. Todos os dias, antes das 7h, começamos a definir os assuntos do jornal. O critério é a notícia que tem interesse público, os acontecimentos e discussões da cidade que interferem na vida dos moradores. Existe sempre a preocupação de não se limitar a um só tema, apresentar um cardápio variado ao telespectador e experimentar novas linguagens, uma marca reconhecida do jornal.
Falamos muito de mobilidade, emprego, saúde, educação, economia popular, previsão do tempo, prestação de serviços. Temos um quadro semanal sobre as atrações culturais de São Paulo e sobre a vida em condomínios. Dado o número de crimes e a sensação de insegurança, a violência urbana costuma ser assunto diário, mas abordada sem exageros. Em 40 anos, infelizmente, muitas mazelas da cidade não desapareceram. Por outro lado, outros assuntos ganharam protagonismo, e o SP1 está ligado em todos eles.
É um espaço de diálogo com as pessoas, e de aprofundar temas importantes com séries de reportagens especiais, como a que exibimos recentemente sobre moradia em São Paulo. Queremos que a comemoração do aniversário seja um presente para a cidade, um agradecimento ao público que faz do SP1 o telejornal mais visto da maior cidade do país na hora do almoço.
Em tempo: O SP1 é transmitido ao vivo pela TV Globo, de segunda a sábado, a partir das 11h45, para a Região Metropolitana de São Paulo.
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